Apesar do alto patamar de casos e mortes causados pela covid-19 e da possibilidade de uma terceira onda da doença, uma luz no fim do túnel para o controle da pandemia surgiu com os resultados do estudo clínico que avaliou a vacinação em massa da cidade de Serrana (SP). Ao imunizar 95,7% da população de mais de 18 anos com a CoronaVac, a cidade observou uma redução de 95% das mortes pelo novo coronavírus, de 86% das internações pela doença e de 80% dos casos sintomáticos. Os resultados reforçaram, ainda, que é possível controlar a pandemia com uma imunização de cerca de 75% da população adulta — veja quadro ao lado.
Isso foi possível identificar porque Serrana foi dividida em quatro grupos populacionais para receber a vacina e, antes mesmo do último completar o processo com a segunda dose, foi possível observar queda de casos, internações e óbitos. “O grupo azul, último a ser vacinado na pesquisa clínica, mesmo sem completar o esquema vacinal, teve um benefício dado pela proteção oferecida pelos outros grupos já vacinados. Essa é uma evidência palpável do efeito indireto da vacinação”, explicou o diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palácios.
Esse efeito também foi evidenciado de outra forma ao ver que o grupo de pessoas não vacinadas, como crianças e adolescentes — que não podem tomar a CoronaVac — também apresentou queda de casos. “A redução entre adultos também é acompanhada de uma diminuição dos casos entre crianças. Vacinar os adultos foi criando uma barreira de proteção também para os menores”, ressaltou o especialista, que salientou estar provado que é possível controlar a epidemia por meio da vacinação. “É a somatória do efeito da minha vacinação com a vacinação do outro que vai proteger todos”, explicou.
Variantes
Um dos pontos importantes destacados por Palácios foram as descobertas relacionadas às variantes do novo coronavírus. Segundo os dados, a CoronaVac se mostrou efetiva em relação à cepa P.1, originada em Manaus, já que o estudo foi feito na vigência de uma epidemia predominantemente por esta variante. As análises ainda indicaram que, até o momento, não houve surgimento de novas variantes por causa da imunização em massa.
“Esse era um dos receios, de que ao introduzir um programa de vacinação poderia ser feita uma pressão genética de seleção de vírus, que poderia virar resistente, mas nós não vimos essa situação. Podemos falar tranquilamente que, até o momento, não foi a vacinação que gerou a mudança e a emergência de uma nova variante”, explicou.
Outro ponto destacado na divulgação dos resultados do estudo foi a segurança da vacina, já comprovada por pesquisas anteriores. Com mais de 54 mil doses aplicadas na população de Serrana, 67 eventos adversos graves foram verificados, mas nenhum deles teve relação com o imunizante. “Isso reforça, sem nenhuma dúvida, que essa vacina é muito segura e tem poucos eventos adversos”, disse o diretor do Hospital Estadual de Serrana, Marcos Borges.
Já o governador de São Paulo, João Doria, apontou que o que aconteceu em Serrana poderia se repetir em todo o Brasil “não fosse o atraso na vacinação”. Sem uma previsão concreta para atingir 75% da população adulta vacinada no Brasil inteiro, número em que foi possível ver o controle da pandemia em Serrana, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, acredita que o país ainda está longe de alcançar o que foi visto na cidade paulista.
“Se continuar no ritmo atual, temos previsão de ter a vacinação de 50 milhões de brasileiros no final de setembro, mas os volumes de vacinas adicionais, que estão previstos para chegar, podem mudar essa previsão”, disse. Ontem, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2021, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reafirmou que até o final deste ano vacinará todos com mais de 18 anos.
Ele disse ter “certeza” de que, até dezembro, imunizará toda a população adulta do país e apontou que isso é fundamental para o retorno da economia no Brasil. “Cada 10% da população vacinada aumenta em 0,13 ponto porcentual as projeções de crescimento da economia”, disse.