A polícia vai investigar as circunstâncias da morte de um cachorro nessa quinta-feira (24/6), no Bairro Letícia, Região de Venda Nova, em Belo Horizonte.
O animal foi baleado por um policial militar a paisana que passeava com uma cadela de estimação. Os animais teriam se estranhado na rua e ele reagiu com tiros. Moradores da região se indignaram e vídeos registrados pouco depois da ação se espalharam pelas redes sociais.
De acordo com o boletim de ocorrência, o tutor do animal morto, de 55 anos, contou que saiu de casa com o cachorro preso por uma coleira peitoral e sem focinheira. Como precisava ir a um supermercado na Avenida Elias Antônio Issa, ele amarrou a guia do animal em uma barra de ferro.
Algum tempo depois, uma criança o avisou que o cachorro havia escapado e estava correndo pela avenida. Ele saiu para tentar prendê-lo novamente e viu o animal de estimação se aproximar de um homem que levava uma cadela da raça american bully na coleira, mas também sem focinheira.
Os dois cães se estranharam, rosnando e latindo um para o outro. De acordo com o homem, nesse momento, o tutor da cadela sacou uma arma e atirou contra o cachorro dele.
“(…) seu cachorro caiu em seguida, ato contínuo, o autor dos disparos efetuou outro tiro contra o animal que estava caído ao solo. Que interpelou o autor dos disparos dizendo: ‘Cara, você é um louco, matou meu cachorro”. Em seguida o autor dos disparos disse: ‘Você é irresponsável, deixou seu cachorro solto. Tem sorte de não te dar um tiro na cara, liga para o 190 que meu telefone não está funcionando. Neste momento acionou o Copom narrando o ocorrido”, diz o registro policial, ao qual a TV Alterosa teve acesso. O dono do cão baleado disse que o homem que atirou não se identificou como policial em momento algum.
O sargento de 42 anos, por sua vez, disse que passava pela avenida com a cadela, que ainda é filhote, voltando de um pet shop, e foi surpreendido pelo outro cachorro vindo na direção deles. Ele alega que o animal era de porte grande e tentou atacá-lo. A cadela se projetou à frente como forma de proteção e o outro animal investiu contra ela. Ele gritou para tentar afastá-lo, mas não adiantou.
“Em ato contínuo sem outro recurso apropriado, sacou sua arma de fogo particular e efetuou um disparo para se defender da injusta agressão. Que mesmo após o primeiro disparo o cachorro ainda continuou a atacá-lo, momento em que efetuou um segundo disparo”, diz o boletim.
O policial militar disse que tentou ligar duas vezes para o 190, mas não conseguiu. Ao contrário do tutor do outro cachorro, ele afirma que se identificou como policial militar, pediu calma e disse que eles deviam chamar uma viatura.
“(…) Neste momento começou a ser insultado pelo dono do cachorro que foi atingido. Que outras pessoas que ali transitavam vendo o ocorrido, insuflaram outros moradores para tentar agredi-lo, fazendo filmagens e o chamando de policial covarde”, consta na ocorrência. Em vídeos compartilhados pela internet, testemunhas mostram os tutores dos animais discutindo, outras pessoas tentando intervir, viaturas policiais, o desespero do dono do cachorro e o animal morto no chão. Algumas pessoas chamam o militar de assassino.
O policial ainda diz que os ânimos estavam exaltados e que o tutor do cachorro estava incentivando outras pessoas a agredirem-no. A arma do militar, uma pistola ponto 40, foi apreendida. A perícia esteve no local. Os dois homens foram levados à Delegacia de Plantão IV, da Polícia Civil. No boletim de ocorrência, o sargento que atirou no cachorro é qualificado como autor de “dano”, e o dono do animal morto aparece como autor de “omissão de cautela”.
“Foi desnecessário”, diz testemunha
Bruno Alves, de 36 anos, mora na esquina da avenida e estava entre as testemunhas. “Ouvi um estampido e pensei que era até estouro de moto, ouvi um ganido de cachorro e depois ouvi mais um. Cheguei lá e estava o dono do cachorro sentado no chão, o policial xingando”, contou.
O morador disse que, ao ser questionado pelos moradores sobre o motivo de o animal dele estar sem focinheira, ele teria dito que “é bacharel e conhece a lei”.
“Foi desnecessário. Ele deu nas matérias que o cachorro era de grande porte, mas era um cachorro pequeno pra médio, idoso, tinha 11 anos. Nunca ofereceu problema nenhum. Acho que o que revoltou o pessoal foi que esse rapaz não mora no bairro, ele veio de fora para andar com o cachorro dele aqui, e o fato da polícia ter ficado do lado dele”, disse Alves ao Estado de Minas nesta manhã. “Tinha um sargento falando que ‘quem postar (vídeos) vai se responsabilizar pela imagem dele’, falando que as pessoas seriam presas por desacato”, afirma.
O rapaz também avalia que outros pedestres corriam risco. “Qual a necessidade de o cara de folga sair armado para passear com o cachorro na rua? Falou que não vem ao caso, mas, de folga, numa avenida cheia de crianças, sair com uma arma na cintura e passeando com o cachorro? Achei despreparo total dele, estava muito alterado”, disse Bruno Alves. “Teve uma bala que ricocheteou. E se pega em uma criança?”, questionou.
O que dizem as autoridades
Por meio de nota enviada ao Estado de Minas na manhã desta sexta-feira (25/6), a Polícia Militar de Minas Gerais diz que o policial agiu em “estado de necessidade” para defender a si e ao animal de estimação dele. Leia na íntegra:
“Com relação ao REDS 2021-30395701-001, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que, segundo a versão do policial militar, que estava de folga e a paisana, durante caminhada com seu cão, da raça American Bully, eles foram atacados por um cachorro de grande porte que estava solto na via e que chegou a gritar para que o animal se afastasse. Ainda de acordo com o militar, ao defender-se e defender o seu cão de uma agressão oriunda de outro animal, ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro, efetuando disparos de arma de fogo.
A PMMG esclarece ainda que o policial militar e o proprietário do cão atingindo foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil, com os materiais apreendidos, para as providências cabíveis.”
Também nesta manhã, a Polícia Civil confirmou que a perícia esteve no local da ocorrência, que foi recebida na delegacia citada ainda ontem. “Os envolvidos foram ouvidos e foi instaurado um procedimento para apuração do caso”, diz a instituição.
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