COVID-19

500 mil mortos: 4 gráficos para comparar a tragédia do Brasil com a de outros países

O Brasil tem apenas 2,7% da população do planeta e atualmente concentra 30% das mortes por covid-19 no mundo inteiro

BBC
Matheus Magenta - Da BBC News Brasil em Londres
postado em 21/06/2021 21:32
 (crédito: JENS SCHLUETER / AFP)
(crédito: JENS SCHLUETER / AFP)
500 mil mortes por covid-19 no Brasil em 15 meses de pandemia.

O número por si só já diz muito. E desde o começo da pandemia temos comparado a situação do Brasil com outros lugares do mundo para tentar dimensionar a tragédia.

Cada tipo de cálculo tem suas limitações, mas em todos eles o Brasil aparece entre os 10 países onde mais morreu gente por covid.

Só para ter uma ideia, o Brasil tem 2,7% da população do planeta e atualmente concentra 30% das mortes pela doença no mundo inteiro.

O número de 500 mil mortes esconde um monte de diferença em relação a outros países, como o tamanho da população e a quantidade de idosos em relação à população total.

Ou seja, país com 200 milhões de habitantes tende a ter mais mortes por covid do que uma nação com uma população de 2 milhões.

Além disso, a covid-19 mata mais idosos em qualquer lugar do mundo. Então, ao compararmos o impacto da doença em dois países com a mesma população, aquele que tiver mais idosos tenderá a ter mais mortes. Mas há um monte de outros fatores que influenciam essas comparações.

Por outro lado, a comparação de mortes por 100 mil habitantes, que costuma ser usada por quem minimiza a tragédia no Brasil ou a relativiza ante um suposto impacto da maior da doença em países europeus, também ignora que as nações têm diferentes proporções de idosos.

Veja abaixo quatro maneiras de comparar o impacto da pandemia no Brasil e em outros países.

Mortes em excesso, acima da média histórica? Brasil entre os 10 primeiros

As chamadas "mortes em excesso" são a soma do número de mortes por todas as causas que supera a média histórica em um determinado período. Esse indicador não costuma sofrer variações grandes de um ano para o outro — apesar de haver grandes variações sazonais (julho costuma ser o mês com o maior número de mortes no Brasil). Em caso de grande variação, não há outra explicação para a diferença que não seja o coronavírus.

Mas há limitações em torno dessas análises. Muitos países não têm esse dados históricos, e parte daqueles que têm não disponibilizam dados tão detalhados, atualizados ou confiáveis. Além disso, não há uma grande instituição, como a Universidade de Oxford ou a Organização Mundial da Saúde (OMS), compilando esses dados.

De todo modo, há diversas iniciativas que buscam contornar esses obstáculos para possibilitar comparações entre países e de um próprio país com sua série histórica. Em geral, esses levantamentos apontam dados mais ou menos parecidos entre si.

Mortes em excesso: quantidade de pessoas que morreram acima da média histórica de cada país. Porcentagem mostra impacto da pandemia em relação ao que se esperava .  .

O jornal britânico Financial Times, por exemplo, reuniu os dados mais recentes de 60 países, incluindo os registros de cartórios brasileiros. O líder é o Peru, com 122% de excesso de mortes. Ou seja, o número de mortes é o dobro do que se esperaria sem uma pandemia. O Brasil aparece em 9º lugar, com 34% mais mortes do que se esperava.

O estatístico Ariel Karlinksy, da Universidade Hebraica (Israel), e o especialista em aprendizado de máquina Dmitry Kobak, da Universidade de Tubinga (Alemanha), fizeram um levantamento envolvendo 95 países. O líder continua sendo o Peru, com 148% de mortes em excesso.

O Brasil surge em 7º, com 36%. Eles calculam que até 31 de maio de 2021 o país teve 499 mil mortes a mais do que se esperava, segundo a média histórica nacional. O número é equivalente ao total de mortes por covid até meados de junho, segundo o Ministério da Saúde: 488 mil.

Mas tudo isso é covid? Quase. Um estudo de pesquisadores brasileiros publicado em junho deste ano apontou que 95% das mortes em excesso em São Paulo no primeiro semestre de 2020 foram por coronavírus.

Mortes considerando faixa etária e gênero da população? Brasil em 10º lugar

Como explicado acima, a covid atinge faixas etárias e gêneros de forma distinta.

Um trabalho ainda em andamento do economista Marcos Hecksher, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) afirma que a taxa de mortes de idosos no Brasil em 2020 foi mais de 20 vezes maior do que entre pessoas com até 59 anos.

Gráfico das mortes
BBC
Gráfico usa o Brasil como referência, por isso o país é representado pelo número 1. A cada morte por covid-19 no Brasil em 2020, levando-se em conta sexo e faixa etária, ocorreu 1,42 morte no Peru e 0,0005 no Vietnã

Segundo seus cálculos, 169 países de um total de 178 (ou seja, 95%) tiveram uma taxa menor do que a do Brasil em mortes por covid-19, quando se comparam não só os números absolutos, mas o tamanho da população e os óbitos em cada faixa etária.

Isso quer dizer que, caso em todos esses países os cidadãos tivessem morrido na mesma proporção, por sexo e por idade, em que morreram no Brasil, só nove deles estariam em uma situação pior do que a brasileira — ou seja, nessa comparação, registraram mais mortes do que teriam tido. Sete deles são latino-americanos.

São eles: Peru, México, Belize, Bolívia, Equador, Panamá, Macedônia do Norte, Colômbia e Irã.

Hecksher ressalta que "comparações internacionais são quase sempre sujeitas a diferenças entre os métodos de apuração dos indicadores de cada país e os padrões de erro cometidos", mas "é necessário lidar com os dados disponíveis e buscar a melhor forma de compreender o que eles informam dadas as limitações de cada tipo de comparação".

Quantas mortes em números absolutos? Brasil em 2º lugar

O marco de 500 mil mortes por covid, atingido agora pelo Brasil, não leva em conta o tamanho da população ou a quantidade de idosos, como explicado acima, mas ele é bastante simbólico.

Atualmente, esse total de mortos é o segundo mais alto do mundo, se comparados os números absolutos oficiais. Fica atrás apenas dos EUA, que ultrapassaram em junho a marca de 600 mil mortes.

Mas a tendência é que o Brasil ultrapasse os EUA nos próximos meses porque o país norte-americano tem conseguido controlar o avanço da pandemia e ampliado a vacinação de sua população.

Mortes por covid na pandemia inteira em números absolutos. .  .

Especialistas brasileiros apontam, no entanto, que o Brasil está mais perto de se tornar líder no ranking mundial de mortes do que parece.

Análises apontam que em meados de junho o Brasil já pode ter ultrapassado a marca de 600 mil mortes por casos confirmados ou suspeitos de covid-19, 100 mil a mais que os dados do Ministério da Saúde. Essa diferença ocorre por causa da demora para inserir dados das mortes no sistema nacional. A correção desse atraso permite, portanto, "prever o agora" (nowcasting) e ter uma imagem menos distorcida da real situação atual do país.

Quantas pessoas morrem a cada 100 mil ou 1 milhão de habitantes? Brasil em 2º lugar

O segundo indicador que mais costuma ser usado para comparar a quantidade de mortes por covid do Brasil em relação a outros países é aquele que leva o tamanho da população sem ponderar quantidade de idosos, por exemplo.

Há levantamentos que apresentam o número de mortes a cada 100 mil habitantes ou a cada 1 milhão de habitantes.

A Universidade Johns Hopkins (EUA) afirma que o Brasil é o 2º com mais mortes por 100 mil habitantes entre os 20 mais afetados ao longo da pandemia inteira.

Mortes por covid a cada 100 mil habitantes. Ranking leva em conta os 20 países mais atingidos na pandemia inteira.  .

São eles: Peru, Brasil, Argentina, Colômbia, EUA, México, Romênia, Chile, Paraguai e Bolívia.

Por outro lado, a Universidade de Oxford (Reino Unido) apresenta uma comparação parecida, mas sobre dados mais atuais, e não relação à pandemia inteira. Nesse caso, o Brasil aparece com a 7ª pior média de mortes por 1 milhão de habitantes.

Dos 10 primeiros, 9 estão nas Américas.

São eles: Paraguai, Uruguai, Suriname, Argentina, Colômbia, Peru, Brasil, Trinidad e Tobago, Bahrein e Bolívia.


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