O Brasil ultrapassou, no último fim de semana, a marca de 500 mil mortes pela covid-19. Indiscutivelmente, a quantidade brasileiros que perderam a vida para o novo coronavírus impressiona por si só. Mas, em uma análise quantitativa, revela características importantes que a pandemia adquiriu ao longo dos últimos 15 meses no Brasil. Dados recentes mostram que, na comparação com o início de 2020, o novo coronavírus tornou-se mais transmissível e suas variantes avançam. O perfil das vítimas também mudou. Se em 2020 a doença era letal para os idosos, este ano atinge cada vez mais jovens.
Em 20 de junho de 2020, quando ainda não havia vacinas, e o isolamento social severo ocorria em muitos países, a taxa diária de casos no Brasil estava em 33.383. Ontem, dia 20 de junho, o número de infectados saltou para 73.595, segundo levantamento das Secretarias de Estado da Saúde. Além disso, o país concentra 30% das mortes pela doença no mundo inteiro.
“No Brasil, a pandemia está acelerando, números grandes de casos todos os dias, alta taxa de ocupação de leitos hospitalares, e aumento da mortalidade nas últimas duas semanas. A faixa etária se localiza abaixo dos 60 anos, particularmente entre 30 e 50 anos, sendo as pessoas que também saem mais frequentemente para trabalhar”, descreveu Raquel Stucchi, infectologista da Consultoria da Sociedade Brasileira de Infectologia.
De 20 a 59 anos
Em relação ao perfil das vítimas, o Boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirma o processo de rejuvenescimento da pandemia: pela primeira vez, em comparação com dados epidemiológicos de janeiro deste ano, a mediana de mortes pela covid ficou abaixo do público com 60 anos. Isso significa que mais da metade dos casos internados, internações em terapia intensiva e óbitos ocorrem não em idosos, e sim em adultos jovens e maduros (20 a 59 anos).
Ainda de acordo com análises recentes da Fiocruz, a idade média dos casos internados é de 52 anos, contra idade média de 62 anos no início de 2021. Uma explicação para isso, segundo a fundação, é o processo de imunização, que vem ocorrendo primeiro nas pessoas mais velhas, enquanto o público jovem sem comorbidades aguarda receber a vacina.
“A faixa etária mais atingida é a população economicamente ativa, que precisa sair da sua residência, mas também jovens que não acreditam que vão adoecer ou morrer pelas complicações da Covid-19. Eles ignoram a existência do vírus e se consideram invencíveis, e assim se tornaram grande parte dos infectados e óbitos da doença. É preciso lembrar, contudo, que ainda há idosos que vêm a óbito por causa da doença”, avaliou a médica infectologista Eliana Bicudo.
Perigo das variantes
As novas cepas do coronavírus, também chamadas de variantes, tornaram-se cada vez mais frequentes no país. Em todo o mundo, acendem alerta em função do aumento da transmissibilidade onde circulam. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há quatro tipos classificados como “Variantes de Preocupação”, sendo: Alfa (registrada no Reino Unido), Beta (África do Sul), Gama (Manaus -AM) e Delta (Índia).
“Elas [as cepas] vão nos preocupar agora e para o resto da vida. Mesmo no futuro, quando realmente conseguirmos imunizar grande parte da população, ou seja, acima de 90%, as cepas estarão presentes nos estudos e nas nossas vidas. Isso porque não temos total conhecimento sobre as vacinas; o quanto esses anticorpos produzidos pelas vacinas serão capazes de nos proteger contra essas variantes; nem quão frágil estará o nosso organismo perante essas mutantes, mesmo após duas doses da vacina. Como ainda não temos essas respostas claras nos estudos, podemos dizer que as variantes sempre serão preocupantes”, comentou a infectologista.
Para Paulo Petry, mestre e doutor em epidemiologia pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), em um ano de pandemia, observou-se um comportamento diferenciado do novo coronavírus. “Primeiro: ele não respeita o clima, sendo que todos os vírus de condições respiratórias tradicionalmente apresentam maior frequência no inverno. Este não é diferente, pois não desaparece no verão. Entre março e abril deste ano, alguns estados viveram um caos no sistema de saúde em decorrência da doença. Isso em meio ao clima quente. Então é uma característica diferente do coronavírus”, disse.
* Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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