Afastado das funções no Tribunal de Contas da União (TCU), o auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, identificado como o responsável pelo estudo falso divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na última segunda-feira (7/8), afirmou que foi o próprio pai o responsável por repassar o documento ‘paralelo’ ao mandatário. O dado está junto à confissão do servidor enviada à corregedoria do órgão, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo.
A identidade de Alexandre foi revelada ainda na terça pelo Blog do Vicente, que também revelou que o servidor foi alertado por colegas que estava cometendo um erro. O Correio também apurou que Alexandre é amigo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro e que ele havia preparado um outro laudo com informações sabidamente falsas no relatório oficial divulgado pelo TCU, mas foi impedido por outros servidores que rechaçaram as conclusões.
Nesta quarta-feira (9/6), a presidente do TCU, ministra Ana Arraes, autorizou a abertura de processo administrativo disciplinar contra o auditor. Fábio Mafra, considerado um dos melhores auditores do TCU, substituirá Alexandre durante o período de afastamento e vai supervisionar todos os trabalhos da secretaria que acompanha o uso de verbas públicas para a compra de equipamentos de combate à covid-19.
Responsável por analisar o processo disciplinar, o corregedor do TCU, ministro Bruno Dantas, afirmou que “os fatos até aqui apurados pela Corregedoria são graves e exigirão aprofundamento para avaliar a sua real dimensão”. “Para isso, é necessária uma decisão da presidente do TCU, ministra Ana Arraes. Ainda é cedo para extrair conclusões, mas, se ficar comprovado que o auditor utilizou o cargo para induzir uma linha de fiscalização orientada por convicções políticas, isso será punido exemplarmente.”
Além da investigação interna da Corte, o servidor também foi convocado para prestar esclarecimentos à CPI da Covid no Senado. A convocação foi aprovada na manhã desta quarta-feira (9/6), junto ao chamamento para o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).
Entenda
Marques está lotado no setor do TCU que lida com inteligência e combate à corrupção. Quando começou a pandemia do novo coronavírus, ele pediu para acompanhar as compras com dinheiro público de equipamentos para o enfrentamento à doença.
A partir dali, o auditor começou a elaborar o “estudo paralelo”. Quando apresentou os resultados de sua tese a colegas de trabalho, foi veementemente repreendido, pois ficou claro que queria desqualificar os governadores e favorecer o discurso de Bolsonaro. Nenhum outro auditor do TCU endossou o “levantamento”, por considerá-lo uma farsa.
Segundo integrantes do tribunal, Marques queria incluir no 6º Relatório de Monitoramento sua tese falsa, mas foi barrado por colegas de trabalho.
Sem espaço no tribunal para levar adiante o relatório, Marques o liberou para filhos de Bolsonaro, dos quais é amigo. Com o levantamento falso em mão, o presidente o usou para atacar seus críticos e endossar a sua tese de que governadores superdimensionaram o total de mortes pela COVID-19 com o objetivo de receber mais dinheiro do governo federal.
Quem acompanha as redes sociais de Marques pode verificar que ele costuma compartilhar fake news, como os benefícios do uso de ivermectina no combate à COVID-19. Ele também incita ataques a governadores, justamente a quem pretendia prejudicar com o “estudo paralelo”. Procurado pela reportagem, o servidor disse que não se manifestaria.
Com o levantamento falso em mão, o presidente o usou para atacar seus críticos e endossar a sua tese de que governadores superdimensionaram o total de mortes pela COVID-19 com o objetivo de receber mais dinheiro do governo federal. Nesta terça-feira (8/6), disse que falhou em creditar o estudo paralelo ao TCU.
“Vou só explicar uma coisa aqui, a questão do equívoco, eu e o TCU, de ontem. O TCU está certo, eu errei quando falei tabela”, disse Jair Bolsonaro, em conversa com apoiadores.
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