O ex-assessor especial da Presidência, Arthur Weintraub, confirmou que era responsável por fornecer informações sobre remédios para o tratamento de covid-19 ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele apareceu em um vídeo publicado ontem, ao lado de seu irmão, o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, em que comentou as acusações de ser um dos líderes de um gabinete paralelo de Bolsonaro, cuja existência é investigada pela CPI da Covid, no Senado.
Arthur foi citado pela médica oncologista Nise Yamaguchi na CPI, que dizia ter se reunido com ele para falar sobre o tratamento de covid-19 com cloroquina. No vídeo deste sábado, ele disse que fazia parte do assessoramento do presidente Bolsonaro em temas que envolviam reforma previdenciária desde o período de transição de governo, em 2018 e, posteriormente, em 2019. Ele revelou que também assessorava o mandatário em temas científicos por ter um “histórico acadêmico”.
Weintraub afirmou que, quando a pandemia chegou ao Brasil, passou a ter contato com médicos para conversar sobre possíveis soluções para o tratamento da covid, antes mesmo de falar com Bolsonaro. Ele revelou que, quando soube dos testes com o uso de cloroquina por médicos, comprou o remédio e tomou por conta própria, para apurar se teria efeitos colaterais. Depois disso, procurou o presidente da República e foi incumbido por ele de estudar o assunto e dar um retorno, com atualizações e resumos sobre tratamentos.
“Fui comentar com o presidente que havia coisas publicadas sobre o assunto. E eu estava entrando em contato com médicos, pesquisadores dessa área. E o presidente disse: você que tem esse histórico, passe a estudar, e você vai me trazer o que você for encontrando e você vai vendo os contatos. Os contatos que eu fiz foram com outros pesquisadores e outros médicos”, disse ele.
A partir daí, detalhou, começou a conversar com médicos da linha de frente do tratamento contra a covid. “Eu tive contato com esses médicos que começaram a conversar comigo, começaram a me mandar o que tinha publicado. Os meses foram passando e eu transferi isso ao presidente. Eu pegava resumos que recebia e encaminhava ao presidente”, afirmou, ao revelar também que outros remédios, além da cloroquina, eram alvo de pesquisas.
Supostos integrantes
Entre os médicos com quem mantinha contato, estão os nomes de Nise Yamaguchi (o que confirma a versão dada em depoimento à CPI), defensora da cloroquina; e do virologista Paolo Zanotto. Ambos estão na companhia de outros médicos, do presidente Bolsonaro e do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).
“Os meus contatos sempre foram os médicos de ponta, cientistas. A doutora Nise falava com o presidente. Tive contato com o doutor Zanotto, virologista. Eles conversavam comigo, me traziam coisas para mostrar para o presidente. Era simplesmente porque eles conseguiam ter uma interface, uma conversa comigo, por eu ter essa possibilidade de entender o artigo científico e conseguir traduzir de uma forma mais simples para o presidente”, detalhou.
Arthur, no entanto, negou que tenha organizado um gabinete paralelo. “Eu não organizei gabinete, eu fazia contato científicos e trazia as informações para o presidente. Dentro disso, eu fiz um evento, em agosto de 2020, no Palácio do Planalto”, pontuou, ao dizer, ainda, que não existiu um gabinete paralelo e que não integra mais o governo desde setembro do ano passado, por isso, não participou de qualquer discussão sobre a compra de vacinas.
“Quando eu estava lá, a discussão que havia, em que eu estava envolvido cientificamente, era sobre o remédio da malária e a evolução da doença”, disse ele, sendo ajudado pelo irmão, Abraham Weintraub, na escolha de palavras. Arthur falou, ainda, sobre o fato de ter contraído covid-19 nos Estados Unidos, onde mora, assim como o irmão. Ele negou que tenha tomado qualquer coquetel de anticorpos e disse que ainda não tomou a vacina contra a covid porque ambos adoeceram.
“A gente seguiu todo o receituário, tudo o que a gente havia falado, e, pela gravidade da cepa — aparentemente a gente foi atingido em cheio por uma cepa muito agressiva —, esse tratamento que a gente fez foi fundamental para que nosso quadro não se agravasse”, comentou.
O ex-assessor teve sua convocação aprovada pela CPI da Covid no último dia 26 de maio. O objetivo dos senadores é questionar Arthur sobre um assessoramento paralelo ao presidente da República no que diz respeito ao combate à pandemia.
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