MEIO AMBIENTE

Como a poluição do meio ambiente por plástico pode prejudicar sua saúde

Contaminação cada vez maior dos solos, rios e oceanos com polímero põe em xeque o uso desse tipo de material e exige políticas públicas para reduzir a poluição dos biomas. Além dos danos à natureza e aos animais, produto pode intoxicar seres humanos

Adriana Bernardes
Fernanda Strickland
Ana Luiza Vinhote - Especial para o Correio Braziliense
Edis Henrique Peres
Gabriela Bernardes*
postado em 06/06/2021 07:00
 (crédito: TimothyTownsend/Divulgação)
(crédito: TimothyTownsend/Divulgação)

Você já se perguntou o que acontece com todo o plástico produzido no mundo, as implicações para a saúde humana, a saúde dos animais e o meio ambiente? Os produtos petroquímicos começaram a aparecer no nosso dia a dia há menos de 100 anos. Do combustível fóssil são feitos inúmeros luxos da vida moderna, desde embalagens, aparelhos do dia a dia e até roupas. Os petroquímicos e os metais pesados, porém, são extremamente tóxicos e a ingestão dessas substâncias pode causar doenças como câncer, má formação dos órgãos sexuais, diabetes e problemas neurológicos.

Pesquisa realizada pela revista Environmental Science and Technology, publicada pela Sociedade Americana de Química, mostra que, desde 1960, a produção mundial de plásticos aumentou quase 10% anualmente. “Com o tempo, o plástico vai se degradando, lixiviando toxinas ambientais e pequenas partículas de 1 a 5 milímetros chamadas microplásticos. Cerca de 39 mil a 52 mil pedaços de microplásticos podem estar na nossa dieta anual. Se incluirmos os pequenos pedaços que inalamos, esse número pode subir para 74 mil”, afirma a pesquisa.

Ainda segundo o trabalho, alguns efeitos no ecossistema, como animais presos ou se enforcando com plásticos são mais facilmente visíveis hoje em dia. Isso porque cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos são despejados no oceano anualmente. Menos conhecida é a estimativa de que o ser humano ingere, em média, o equivalente a um cartão de crédito de plástico por semana, ou seja, coloca dentro do organismo cinco gramas de plástico a cada sete dias.

Proteção

André Gallego Augusto, engenheiro de produção, sócio fundador da Galícia Educação, avalia que a preocupação com a contaminação do meio ambiente já entrou para a agenda global. “O mundo e as grandes empresas têm se preocupado cada vez mais com o meio ambiente, a proteção de biomas, a redução de emissão de CO² e alternativas de matéria-prima para minimização dos impactos. Dessa forma, estão ocorrendo vários debates para esclarecer e conscientizar as pessoas sobre a importância do assunto”, afirma.

O engenheiro explica que o plástico é um polímero derivado do petróleo. “Portanto, sua dissolução com o tempo se torna imperceptível e acaba se transformando em microplásticos, que são altamente poluentes. Dez por cento de todo plástico utilizado é reciclado, o restante é descartado em aterros ou irregularmente no meio ambiente. O plástico que é lançado no meio ambiente, acaba penetrando no solo por meio da água de chuva, direcionado aos rios, e, finalmente, aos oceanos, onde já existem verdadeiras ilhas de lixo desse material”, afirma.

Segundo Gallego, as partículas de microplásticos se misturam na água e acabam sendo ingeridas por peixes e animais marinhos em geral. Além disso, podem contaminar os lençóis freáticos e acabar sendo ingeridas por humanos.

Para reduzir as consequências negativas, André Gallego explica que, primeiramente, é preciso mudar hábitos de consumo de objetos plásticos de uso único, como copos, talheres, canudinhos, garrafas de água e refrigerantes, sacolas e embalagens em geral. “Devemos adotar alternativas viáveis, como ter nossa própria garrafinha de água, canudinho de metal, sacolas reutilizáveis, comprar mais alimentos a granel, sem embalagem. São ações que ajudam a diminuir o consumo de plástico. Com isso, diminuímos a geração de lixo no planeta, a emissão de gases de efeito estufa e a contaminação das águas.”

O engenheiro de produção diz que todo desastre ambiental tem um impacto muito expressivo, muitas vezes irreversível. “A natureza sempre se mostrou capaz de se reinventar, transformar e se adequar ao novo ambiente. Porém, isso pode levar anos ou décadas. O ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) demonstra a preocupação das empresas em se posicionar em relação a esses temas. Esse é o único caminho, se as empresas quiserem crescer e prosperar em suas áreas de negócio.”


"A dissolução (do plástico) com o tempo se torna imperceptível e
acaba se transformando em microplásticos, que são altamente poluentes

André Gallego Augusto,
engenheiro de produção


"Cerca de 39 a 52 mil pedaços de microplásticos podem estar na nossa dieta anual. Se incluirmos os pequenos pedaços que inalamos esse número pode subir para 74 mil”

Trecho da conclusão da pesquisa da revista Environmental Science and Technology

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Degradação ameaça mananciais

Os mananciais são extremamente importantes, não somente para o fornecimento de água para as populações, mas, também, para a manutenção da qualidade do meio ambiente, que depende destes reservatórios de água. Por isso, a preservação e a recuperação dos mananciais se tornam um tema cada vez mais importante. De acordo com a Organização das Nações Unidas, cerca de 25% da população mundial sofre com falta de água.

“Os mananciais estão no centro da vida, propriamente. É de lá que temos acesso a água, tanto para beber, quanto para qualquer atividade humana. E, não por acaso, consideramos o acesso à água como um direito humano”, afirma Guilherme Checco, coordenador de Pesquisas do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).

Com cerca de 12% de toda a água doce do mundo, o Brasil é rico em biodiversidade e possui um patrimônio ambiental invejável. No entanto, boa parte de nossos ecossistemas e reservas hídricas estão comprometidos diante de ações de degradação ambiental.

De acordo com Guilherme Checco, a degradação das nascentes interfere diretamente tanto na oferta de água para consumo, quanto nas mudanças climáticas: “As áreas de mananciais são áreas socioambientalmente bem delicadas, exatamente por causa das funções que cumprem. Por isso, elas exigem uma série de cuidados.”, diz.

Atualmente, a exploração irresponsável do solo e da água, resultado de práticas humanas inadequadas, é o maior fator de destruição dos mananciais. A poluição excessiva do meio ambiente resulta, entre outras ações, da falta de infraestrutura de saneamento básico em grande parte do território nacional. A falta de coleta e tratamento de esgoto, por exemplo, acaba por inviabilizar as fontes de abastecimento. Além disso, o desmatamento desequilibra a composição dos gases atmosféricos e reduz os índices pluviométricos em algumas regiões.

A indústria também se tornou uma grande vilã para os reservatórios de água. Além da redução da disponibilidade da água, o excesso de dejetos despejados nos rios gera, entre outros impactos, a superexploração das fontes hídricas. Assim, o volume de água disponível para abastecimento residencial e industrial, sobretudo próximo aos centros urbanos, torna-se cada vez mais escasso e de qualidade duvidosa. Na agricultura, problemas relacionados ao manejo inadequado do solo e a toxicidade dos insumos agrícolas também influenciam diretamente nas fontes de água.

Por isso, é preciso buscar saídas para evitar os impactos da degradação dos recursos hídricos. Checco avalia que, há necessidade de uma união de setores para preservar os manguezais: “Há a necessidade de um elo de responsabilidade. O Estado fazendo a sua parte, a empresa prestadora de serviço e a sociedade”, pontua.

O especialista afirma que zelar pelo uso racional dos recursos naturais também é um dever da população. “Não podemos observar os rios que passam pela nossa cidade sem questionar de onde aquela água vem, e se nossas atitudes estão zelando por ela.” Pequenos hábitos, como uso domiciliar de água da chuva, por exemplo, simbolizam ações sustentáveis que podem trazer grande impacto. (FS, GB e GC)

Pressão para votar acordo internacional

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) anunciou, no início de maio, que pretende reduzir 85% dos gases hidrofluorcarbonetos (HFCs), encontrados em fluidos de desodorantes em spray e refrigeradores elétricos. De acordo com a EPA, a ideia é atingir a meta nos próximos 15 anos, o que evitaria a emissão de 4,7 bilhões de toneladas equivalentes de gás carbônico (CO²) entre 2022 e 2050.

No Brasil, a Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara dos Deputados encaminhou um pedido, em abril, ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para que a votação do Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1.100/18 sobre o tema fosse aberta.

Trata-se da Emenda de Kigali — um adendo ao Protocolo de Montreal, prevendo a redução gradual do uso dos hidrofluorcarbonetos. O pedido de votação do projeto ocorreu no dia da abertura da Cúpula do Clima, reunião com cerca de 40 líderes mundiais. No entanto, aguarda inclusão na pauta do plenário, apesar de tramitar em regime de urgência.

O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional, explicou a necessidade de a emenda ser votada o quanto antes.

“A Emenda Kigali já passou por todas as comissões, ela está pronta para ser apreciada no plenário. Ela vai trazer, principalmente para a indústria brasileira de refrigeração, um investimento de US$ 100 milhões. É um absurdo o Brasil desperdiçar esse dinheiro, que vai ser para modernizar as indústrias”, disse.

Com a modernização desse setor, geladeiras, freezers, aparelhos de ar condicionado no Brasil serão produzidos com gases menos nocivos à camada de ozônio e ao aquecimento do planeta. Além disso, serão muito mais econômicas do ponto de vista energético.

“Com isso, uma parte significativa da energia que se gasta com refrigeração vai poder ser utilizada por outros setores da sociedade. Ganha o meio ambiente, ganha a economia. Sentimos que esse setor perdeu força no Congresso Nacional. Temos uma grande esperança de que, em algum momento, essa medida, de certa forma, vá para pauta e que a gente consiga votar”, completou o deputado.

“É urgente que o tratado seja ratificado pelo Congresso Nacional. É fundamental que o Brasil dê esse passo o quanto antes. O Poder Legislativo precisa fazer algo pelo meio ambiente, basta de retrocessos”, afirmou o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).

Se a emenda for aprovada, as indústrias que aderirem ao Protocolo vão receber cerca de US$ 100 milhões de um fundo multilateral. Além disso, com a implementação do Protocolo, elas seguirão as tendências do mercado internacional, aumentando a competitividade. Esse avanço pode também se refletir no bolso dos consumidores, uma vez que produtos melhores têm maior eficácia energética, ou seja, a conta de luz pode vir bem mais barata.

Outro benefício da aprovação da Emenda, além da preservação ambiental, seria a atração de investidores internacionais para o Brasil, visto que o compromisso para produção com menos carbono terá sido instaurado.

*Estagiários sob a supervisão de Odail Figueiredo

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