Celebrado em 5 de junho, o Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em um esforço para conscientizar sobre a importância de proteger e valorizar os recursos naturais, além de chamar atenção sobre problemas ambientais que assolam os ecossistemas ao redor do mundo — como o desmatamento, a exploração do solo e as queimadas.
No Brasil, os desastres ambientais têm devastado diversos pontos do país nos últimos anos. Manchas de óleo no litoral, incêndios na Chapada dos Veadeiros e no Pantanal e rompimentos das barragens em Brumadinho e Mariana estão entre os tristes marcos. Relembre os casos:
Óleo no litoral do Nordeste e do Sudeste (2019)
Manchas de óleo atingiram o litoral brasileiro no segundo semestre de 2019. Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Marinha Brasileira apontam que foram afetadas 1.009 localidades, em ao menos 130 municípios de 11 estados diferentes.
O evento prejudicou a biodiversidade marinha com a morte de animais, dano a arrecifes e a áreas de proteção ambiental e a poluição das zonas costeiras. Além disso, o óleo comprometeu atividades econômicas como a pesca e o turismo nas regiões afetadas.
Espaços como o berçário marinho do Delta do Rio Parnaíba, localizado entre o Piauí e o Maranhão, e o arquipélago dos Abrolhos, área mais rica em biodiversidade da América do Sul, foram atingidos pelas manchas de óleo do vazamento de petróleo cru.
Os resíduos foram espalhados a uma distância de 700 quilômetros da costa brasileira e aproximadamente 5,3 mil toneladas foram recolhidas. Em junho de 2020, as manchas de óleo voltaram a ser registradas no litoral do Rio Grande do Norte, Alagoas, Pernambuco e Bahia.
De acordo com a Marinha, o evento é “inédito e sem precedentes na nossa história, traz ensinamentos, como a necessidade de se investir no aprimoramento do monitoramento dos navios que transitam nas águas jurisdicionais brasileiras e nas suas proximidades, destacando o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)”.
A exposição com os resíduos pode causar irritações e erupções de pele, queimação e inchaço; sintomas respiratórios, cefaleia e náusea, dores abdominais, vômito e diarreia. Segundo pesquisadores da Fiocruz, o efeito mais temido de longo prazo é a ocorrência de câncer, já que o benzeno, um dos hidrocarbonetos, é comprovadamente cancerígeno.
Os efeitos envolviam diretamente as comunidades atingidas e os grupos prioritários, como pescadores, marisqueiras e grávidas, incluindo também profissionais e voluntários envolvidos na retirada do óleo.
Incêndio na Chapada dos Veadeiros (2017)
Durante o mês de outubro de 2017, a região da Chapada dos Veadeiros sofreu com incêndios por duas semanas. A estimativa é de que 75 mil hectares tenham sido destruídos pelas chamas, que chegaram a suspender as visitações ao Parque Nacional Chapada dos Veadeiros.
As queimadas foram contidas por ações das equipes de brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e voluntários. Além disso, a chuva que caiu na região também ajudou a conter o fogo.
Amilton Sá, coordenador executivo da Rede Contra Fogo, comenta que, em 2017, a região sofreu com uma grande crise hídrica, colaborando para a severidade dos incêndios florestais que atingiram a Chapada dos Veadeiros à época. “Diversas pessoas tiveram problemas respiratórios por conta da fumaça, diversas pessoas tiveram suas propriedades arrasadas pelo fogo, queimando instalações, pomares, produções e também sofrendo risco de vida”, conta o coordenador.
O auxílio da sociedade civil e de Organizações Não Governamentais (ONGs), como a Rede Contra Fogo, foi essencial para controlar as chamas na região. Para Amilton, “existiu um clima de enorme solidariedade e união que mobilizou centenas de pessoas diretamente e milhares indiretamente (doações, divulgação), o que acabou sendo extremamente positivo para nossa sociedade estar mais preparada para eventos desta natureza”.
“Acreditamos que, após esta tragédia, os órgãos responsáveis conseguiram dispor de mais brigadas no território o que ajuda a melhorar o tempo de resposta e minimizar os impactos causados por incêndios na região”, conta Amilton.
Para o coordenador, essas atitudes foram um bom avanço, mas ainda é necessário um amplo trabalho de conscientização, fiscalização e de ações preventivas. Além disso, ele salienta “o quão é importante valorizarmos os brigadistas como um todo, voluntários e contratados, possibilitando assim melhores condições de trabalho”.
Brumadinho (2019)
O rompimento da barragem do Córrego do Feijão, na região de Brumadinho (MG), ocorreu em janeiro de 2019. Ao menos 270 pessoas morreram e 10 continuam desaparecidas. A empresa Vale foi a responsável pelo desastre que lançou resíduos de mineração diretamente nas águas do Rio Paraopeba.
Segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica, indicadores de qualidade revelaram que água está imprópria e sem condições de uso por todos os 356km de rio percorridos. “Foram encontrados metais pesados na água, como ferro, manganês, cobre e cromo em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação”, diz o documento.
Os metais e outros agentes contaminantes presentes na água não possibilitam vida aquática em 11 pontos de coleta. Em comparação com 2019, o relatório apontou que a qualidade da água piorou de ruim para péssima em nove pontos de coleta.
Uma publicação da Agência Nacional de Mineração (ANM) sobre a segurança das barragens no país mostra que 50 estruturas foram classificadas sob "risco alto". O levantamento aponta que boa parte delas foram abandonadas.
A mineradora Vale afirma que “reconhece, desde o dia do rompimento, sua responsabilidade pela reparação integral dos danos causados''. A empresa tem prestado assistência às famílias e regiões impactadas, buscando restaurar a dignidade e meios de subsistência, "seja através de ações diretas nas regiões, seja através de acordos individuais com famílias das vítimas e atingidos”.
A empresa comenta que mantém um “diálogo aberto com autoridades e pessoas afetadas” e que “garante que ações e recursos efetivamente compensem indivíduos e comunidades, recuperem o meio ambiente e possibilitem o desenvolvimento sustentável de Brumadinho e arredores''.
“Além disso, a Vale segue comprometida em indenizar, de forma justa e célere, todas as pessoas impactadas e entende que a indenização individual aos atingidos é a medida mais adequada para tanto. Até o momento, foram pagos aproximadamente de R$ 2 bilhões em indenizações individuais”, ressaltou a mineradora.
Mariana (2015)
A barragem do Fundão em Mariana, Minas Gerais, rompeu em 5 de novembro de 2015. A tragédia é considerada um dos principais desastres ambientais da história do país, com mais de 50 milhões de metros cúbicos de lama lançados na bacia hidrográfica do Rio Doce. A estrutura era operada pela mineradora Samarco, que faz parte da Vale.
A lama causou a morte de 19 pessoas e mudou a vida de outras 500 mil das mais de 40 cidades entre Minas Gerais e o Espírito Santo atingidas pelo vazamento. Toneladas de peixe morreram e a qualidade da água nas regiões próximas foi prejudicada. Também foram destruídos mais de 1.775 hectares de margens da bacia do Rio Doce, sendo 324 do bioma da Mata Atlântica.
O biólogo João de Deus Medeiros, coordenador geral da Rede de ONGs da Mata Atlântica, considera que os impactos socioambientais são “monumentais” e é difícil quantificar a magnitude e a amplitude dos efeitos causados pelo desastre. “Fragmentos de Mata Atlântica foram perdidos, contaminação das águas nas mais diversas formas, mortandade de animais em série, perda e contaminação do solo são alguns dos impactos ambientais gerados que demandarão grande lapso temporal para mitigação”, conta o biólogo.
Para o coordenador, nada foi feito “para aprimorar procedimentos que pudessem prevenir e evitar outros casos similares”. Mesmo com os casos de Mariana e Brumadinho, “assistimos hoje forte pressão política no Congresso Nacional para mudar regras do licenciamento ambiental”. Ele conta que, com as regras já aprovadas na Câmara dos Deputados, Mariana e Brumadinho poderiam ter a licença ambiental emitida de forma automática, a chamada Licença Por Adesão e Compromisso.
"Não só deixamos de aprender com os erros do passado como ampliamos e aceitamos os riscos como algo inevitável, priorizando o lucro rápido e acumulação de capital por poucos. A essência de uma sociedade de risco. Lamentável”, ressaltou João.
A mineradora Vale afirma que, desde o primeiro dia do rompimento, se comprometeu "com a resposta à emergência e, logo em seguida, com a remediação aos direitos humanos e a recuperação ambiental, apoiando a Samarco e Fundação Renova em todas as áreas necessárias e garantindo o financiamento e a implementação dos 41 programas que foram estabelecidos no acordo com os governos federal e estadual, juntamente com a mineradora BHP Billiton", que também controla parte da empresa responsável pelo desastre.
"Após o rompimento, a Vale implementou internamente um Departamento de Barragens, com o objetivo de avaliar e melhorar seus processos de gestão de barragens, com planos de ação e metas. A empresa também revisou seus planos de emergência, incluindo envolvimento e mobilização da comunidade em caso de acidente", afirmou a empresa.
As ações de remediação e recuperação adotadas pela Samarco e, agora, pela Fundação Renova "estão alinhadas com as normas e melhores práticas nacionais e internacionais e com o compromisso das empresas com os 10 Princípios do Pacto Global".
Incêndio no Pantanal (2020)
Entre julho e outubro de 2020, cerca de 28% do Pantanal foi consumido por incêndios. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA), uma área de 4,2 milhões de hectares foi queimada no bioma, o que é equivalente a mais de sete vezes o tamanho do Distrito Federal.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contou quase 22 mil focos de incêndio na região durante o ano passado. Foi o maior número registrado desde o início do monitoramento no bioma em 1998. A antiga máxima de focos de fogo na região aconteceu em 2005, quando houve 12.486 pontos de queimada no Pantanal.
Pouco menos de 500 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos habitam o Pantanal. Em Poconé, no Mato Grosso, o Parque Estadual Encontro das Águas, considerado um dos maiores refúgios de onças-pintadas do mundo, perdeu cerca de 85% de sua área.
Além da fauna e da flora, as comunidades tradicionais do bioma também foram atingidas pela tragédia. De acordo com dados compartilhados pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e pelo Centro Cultural Casa das Pretas, mais de duas mil famílias sofreram com as queimadas que devastaram o Pantanal desde julho do ano passado. Foram detectadas 687 famílias quilombolas, 1.456 indígenas e 221 pantaneiras.
Uma perícia divulgada pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT) constata que os incêndios no Pantanal mato-grossense foram causados por ações humanas, como queima intencional a fim de criar áreas de pasto para gado, uso de fumaça na retirada do mel e acidentes automobilísticos.
*Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.