O cerrado é um dos cinco biomas do Brasil, sendo considerado um dos mais ricos da América Latina. A diversidade vegetal conta com mais de 12.000 espécies de plantas nativas e 2.500 espécies de animais vertebrados já catalogados. Além das paisagens exuberantes e suas especies, o território é responsável pela captação e abastecimento de água, sendo considerado o berço das águas do Brasil, pois suas nascentes alimentam oito das 12 regiões hidrográficas do país.
Seus frutos, como o pequi, o buriti, o babaçu e o baru, são fontes de sustento para muitas comunidades e sua vegetação tem sido estudada para uso medicinal, como barbatimão, açafrão, diversos óleos, como os de algodão, mamona e babaçu, que podem ser usados na produção de cosméticos naturais.
O bioma é encontrado em Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal e em pequenas partes do Paraná, Rondônia, Amapá, Roraima, Amazonas e Pará.
A biodiversidade do cerrado é um contribuinte essencial para o ecossistema e suas propriedades geram possibilidades da movimentação da cultura e da economia local. Mesmo com toda sua grandeza e importância, em comparação com outros biomas, o cerrado é o menos conhecido e explorado positivamente.
O consultor da Embrapa, biólogo e doutor em botânica Marcelo Kuhlmann alerta sobre os riscos do desmatamento. "Se o desmatamento no cerrado continuar nesse ritmo acelerado para implementação de atividades agropecuárias de alto impacto, isso irá comprometer os ciclos hídricos em todo país", afirma.
A falta de conhecimento sobre as espécies e sobre os locais onde podem ser encontrados acaba contribuindo para a desvalorização do bioma. Para Kuhlmann, o cerrado está em lugares que nem imaginamos. "Para a maioria das pessoas, principalmente as que vivem em grandes cidades, o cerrado é algo distante, não faz parte do cotidiano. Mas basta abrir a torneira das nossas casas para ver que o cerrado está ali", comenta.
O candango apaixonado por nossa biodiversidade, cursou biologia na UnB, onde também desenvolveu seu mestrado e doutorado em botânica, estudando as importantes e sensíveis relações ecológicas entre a fauna e flora nativa. Duas de suas diversas obras são Frutos e sementes do cerrado: espécies atrativas para fauna, dois volumes com mais de 500 páginas cada, onde aborda as espécies frutíferas dos bioma e quais são os grupos de animais que realizam a dispersão das sementes, e o jogo de cartas O cerrado é o bicho!, que fala sobre as interações ecológicas entre as plantas e os bichos.
Marcelo percebeu que o conhecimento gerado dentro da academia ficava muito restrito à própria academia e isso o motivou a colocar em seus livros uma linguagem popular, como guias de campo ilustrados para reconhecimento das espécies, acessíveis para pessoas de diferentes níveis de formação.
Outro projeto que visa compartilhar a diversidade das especies de plantas é o perfil no Instagram Árvores do cerrado, que compartilha em seu perfil, fotos de flores e arvores típicas do bioma, acompanhado por legendas descritivas e informativas sobre a especie fotografada.
O idealizador do projeto é formado em direito e, apesar de não ter formação na área de botânica ou biologia, é apaixonado pelo tema e busca aprender cada vez mais sobre o assunto. "O perfil “Árvores do Cerrado” no Instagram surgiu no final de 2015 e a ideia era compartilhar fotos e informações sobre árvores nativas ou de espécies de outros lugares que se adaptaram bem à nossa região", conta Matheus Ferreira.
O perfil que surgiu como hobby, hoje conta com 24 mil seguidores e apesar de não ser uma fonte de renda, desempenha um papel importante sobre o cerrado.
A informação é algo primordial para a preservação e o projeto Cerrado em quadrinhos leva para os seus seguidores o conhecimento do bioma e sua diversidade através dos desenhos e da poesia.
O artista Evandro Alves, compartilha em seu perfil do Instagram, quadrinhos que representam questões importantes sobre a vida dos animais, as especies do bioma e a preservação da natureza.
Quando questionado sobre a motivação para falar sobre o tema, a resposta não poderia ser diferente. "Tinha uma relação bem íntima com um ambiente natural preservado de cerrado desde moleque. Me apaixonei ali por aquelas árvores tortuosas e mágicas e seus mil bichinhos rodeantes", afirmou.
Natural de Minas Gerais, teve a iniciativa de abordar o tema de uma forma diferente para seu trabalho de conclusão de curso no Instituto de Geociências da UFMG, onde se graduou. "Já tinha interesse em falar do tema e meu orientador Bernardo Machado me deu uma forcinha, já que na época não era muito comum trabalhos acadêmicos que utilizavam a linguagem dos quadrinhos", conta. O projeto deu tão certo que depois virou uma dissertação de mestrado defendida também na UFMG e, posteriormente, virou livro, exposição e página nas redes sociais.
O artesanato também contribui para o conhecimento das especies, e esse foi um dos principais motivos para Leila Muniz criar o grupo As três Baianinhas. "O grupo de bordadeiras buscava na época uma identidade. E fomos todas unânimes em nossa decisão: Vamos bordar o cerrado e Brasília, aprender o nome de suas árvores, mesmo as que não são originárias daqui! E incluir nisso animais como o lobo-guará, o tamanduá, os beija-flores, as araras." conta.
Para a carioca que chegou a cidade quando criança, Brasilia é um jardim imenso e as florações das árvores são verdadeiros cartões-postais da cidade, tanto quanto os monumentos. "Eu queria retratar e compartilhar isso de alguma forma. O grupo de bordadeiras buscava na época uma identidade. E fomos todas unânimes em nossa decisão: vamos bordar o cerrado e Brasília, aprender o nome de suas árvores, mesmo as que não são originárias daqui! E incluir nisso animais como o lobo-guará, o tamanduá, os beija-flores, as araras", afirma Leila Muniz.
Buriti Zen
A culinária também apresenta a vasta diversidade do bioma e o restaurante Buriti Zen faz questão de incluir isso em suas preparações, tonando seu cardápio totalmente vegano e com ingredientes locais.
A chef Ana Paula Boquadi fala sobre a importância de conhecer o cerrado, assim como as comunidades que contribuem para a preservação do local. "As comunidades tradicionais desempenham o papel de preservação, elas têm muitos saberes. Se as pessoas conhecessem a história do cerrado e das comunidades, certamente elas iriam amar", afirma.
A relação da culinária com o cerrado fez com que a chef descobrisse cada vez mais sobre a importância do bioma e de conhecer historias sobre sua família e até do seu sobrenome que significa Arvore de Jatobá.
A cosmetologia também faz parte de todo esse processo de conhecimento e preservação, a empresa Da terra, produz bio cosméticos a partir de ingredientes encontrados no cerrado. Uma de suas idealizadoras conta que além de trabalhar com plantas medicinais, os bio cosméticos se tornam em uma espécie de pacto com a natureza.
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O Da Terra é uma empresa de cosméticos naturais que oferece ao consumidor um pouco de natureza para a vida. Os cuidados com produtos naturais e biodegradáveis são benéficos pra natureza e para o corpo humano, pois não têm ingredientes nocivos para a saúde.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
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