Tragédia

Prédio que desabou no Rio era irregular; Paes diz que milícia não construirá mais

"Comigo, milícia não vai mais construir porcaria nenhuma nessa cidade", afirmou.

Agência Estado
postado em 03/06/2021 12:05
 (crédito: AFP / MAURO PIMENTEL)
(crédito: AFP / MAURO PIMENTEL)
O prédio que desabou na madrugada desta quinta-feira, 3, na zona oeste do Rio era irregular. Ao sair da área de isolamento dos Bombeiros, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), reconheceu a situação complexa da região, que há décadas vem passando por construções desse tipo. O foco agora, segundo ele, é fiscalizar os prédios já existentes e evitar que novos sejam erguidos. "Comigo, milícia não vai mais construir porcaria nenhuma nessa cidade", afirmou.
O prefeito disse que vai tentar combater a construção de novos edifícios irregulares na cidade e que a Prefeitura já tem atuado em demolições, mas que esse tipo de moradia "é uma realidade da cidade". "Ninguém vai construir mais nada nessa cidade de maneira irregular. Só essa semana foram três operações", afirmou Paes a jornalistas.
Uma criança com cerca de dois anos morreu no desabamento do prédio residencial de quatro andares em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro. O desabamento deixou outras quatro pessoas feridas.
Um homem ainda permanece preso sob os escombros. "Não dá para saber se está em óbito ou desacordada (a vítima ainda sob os escombros)", disse o governador do Estado do Rio, Cláudio Castro (PL). "A gente tem que melhorar a questão da fiscalização", disse Castro sobre a situação irregular do prédio.
Cães farejadores auxiliam os oficiais na busca pela última vítima. Prédios vizinhos também foram afetados pelo desabamento. "Provavelmente vão ser condenados, vamos ter laudo mais técnico da Defesa Civil Municipal", disse o prefeito do Rio.
No entorno da construção que desabou, moradores comentaram que a comunidade é repleta de prédios em situação parecida. Empregada doméstica, Maria Elizabete, de 41 anos, diz que se sente "um lixo" por viver nessa situação. Ela está em Rio das Pedras há 20 anos. "Vamos para onde, se o que dá pra pagar é aqui?", questiona. "O prédio onde moro é todo rachado. Quando chove, tem água pingando toda hora."
Três dos feridos no desabamento foram levados para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Uma mulher, de 38 anos, e um homem, de 29 anos, já tiveram alta médica. Uma mulher, de 28 anos, permanece sob cuidados médicos na unidade, com quadro de saúde estável, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A última mulher resgatada, Kiara Abreu, de 27 anos, foi levada para o Hospital Municipal Miguel Couto, e ainda passa por avaliação e exames.
A delegacia da Taquara instaurou um inquérito para apurar o caso. Os agentes farão a perícia nos escombros para identificar a causa do desabamento, assim que os bombeiros conseguirem encerrar o trabalho de resgate.
Moradores relatam ter ouvido "estalos" por volta das 2h e, mais tarde, "muito fogo". Os bombeiros do quartel de Jacarepaguá foram acionados às 3h22 para a ocorrência na esquina da Rua das Uvas com a Avenida Areinha.
Outros quatro quartéis - Alto da Boa Vista, Barra, Magé e São Cristóvão - dão apoio à operação de resgate. Em meio ao desabamento, um incêndio também precisou ser contido no local.
Além dos bombeiros, também atuam no local do desabamento equipes da Secretaria de Assistência Social, Defesa Civil, Guarda Municipal, Polícia Militar, Light, CET-Rio, Naturgy, Comlurb, Secretaria Municipal de Conservação, Secretaria de Ordem Pública, Secretaria de Infraestrutura e Secretaria Municipal de Assistência Social.
Técnicos da Defesa Civil Municipal avaliam os danos que foram causados em outras quatro edificações, uma à direita e três à frente do prédio que desabou, para verificar se há necessidade de outras interdições. A Secretaria Municipal de Assistência Social montou um ponto de acolhimento para atendimento das famílias atingidas.
A região de Rio das Pedras é conhecida como um dos lugares com maior atuação das milícias cariocas. Os prédios daquela área costumam ser construídos de maneira irregular, como foi o caso do edifício que desabou e deixou 24 mortos na comunidade da Muzema, ali perto, em 2019.
 

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