A Associação das Mulheres Munduruku Wakoborn publicou uma campanha de arrecadação de fundos para reconstruir as casas incendiadas por garimpeiros ilegais na aldeia Fazenda Tapajós. A ação é apoiada pelo e apoiada pelo Ministério Público Federal (MPF) e foi lançada nesta sexta-feira (28/5).
Doações de qualquer valor podem ser enviadas via PIX pela chave laysamazonia@gmail.com, em nome de Lays Branco Uchôa. Segundo nota do MPF, a associação optou por divulgar a chave para evitar expor dados pessoais de qualquer um dos indígenas.
Espiral de violência
A ação criminosa foi o fato mais recente de uma escalada de violência que se intensifica na região desde 2018. Em março deste ano, por exemplo, o mesmo grupo criminoso atacou e depredou a sede da associação de mulheres que fica na zona urbana de Jacareacanga.
Lideranças da região também apresentam queixas recorrentes de ameaça de morte. Uma delas é Maria Leusa Kaba Munduruku, que teve a casa totalmente queimada no ataque da última quarta (26/5). Além de destruir as moradias, relatos dos indígenas dão conta ainda de que o grupo pró-garimpo atirou a esmo durante o ataque.
“Tememos pela vida daqueles que lutam sem cansar para defender a vida do povo Munduruku e o futuro de todos nesse planeta”, diz uma nota divulgada pelo Movimento Munduruku Ipereg Ayu. Segundo o texto, Ademir Kaba e Ana Poxo, outros dois líderes, também estão ameaçados. “Precisamos que as operações da polícia prendam os criminosos que estão nos atacando e mantenham nossas lideranças seguras para realizar seu trabalho e expulsar os invasores de nossas terras”, apela o comunicado.
Intervenção do Supremo e vazamento de informações
A situação em diversas se repete em diversas outras Terras Indígenas no norte do país. No último dia 19, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) denunciar ataques ao povo Yanomami em Roraima. A reclamação retomava uma ação de junho do ano passado e pedia proteção a outras sete terras, inclusive a dos Munduruku.
Em resposta, o SFT determinou que a União tomasse medidas imediatas e “todo o efetivo necessário a tal fim e permanecer no local enquanto presente tal risco”. Publicada na segunda-feira (24/5), a decisão falava ainda sobre a necessidade de manter operações em sigilo pela garantia de segurança e efetividade.
Apesar disso, um documento com os detalhes da ação Mundurukânia vazou e circulou em grupos de WhatsApp. Como represália, o grupo criminoso organizou os incêndios e outros atos de violência e surpreendeu as forças de segurança que se retiraram da região na quinta (27/5).
O recuo foi visto com preocupação pelo MPF, que pediu, por ofício, reforço na segurança pública “especificamente às forças vinculadas à União que, em prazo máximo de dez horas, proveja e mantenha, seja por conduto das Forças Armadas ou Força Nacional, efetivo armado”, comunica o órgão.
Desvio de finalidade
Essa é a mesma região explorada pelo grupo de garimpeiros recebidos pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em agosto do ano passado. O caso ainda é investigado pelo uso irregular de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar sete pessoas suspeitas de atuar na mineração criminosa.