O governo do Maranhão confirmou, ontem, o primeiro caso de covid-19 provocado pela variante do coronavírus B.1617, originária na Índia — país que está atrás apenas dos Estados Unidos, no mundo inteiro, em casos do novo coronavírus. Foi identificada em um indiano de 54 anos, que deu entrada em um hospital da rede privada em São Luís, na última sexta-feira. Ele é tripulante do navio Shandong da Zhi, embarcação que veio da África do Sul para desembarcar minério de ferro na capital maranhense (saiba mais no quadro abaixo).
A suspeita de que o paciente poderia ter a nova variante surgiu depois de o homem apresentar sintomas de coronavírus e dar entrada na rede hospitalar. No primeiro comunicado, divulgado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), no último domingo, a pasta informou que foi alertada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
Segundo as informações divulgadas, um teste havia confirmado o diagnóstico, mas ainda não tinha sido identificada qual cepa causou a doença. Uma amostra do vírus foi enviada ao Instituto Evandro Chagas, em Belém, para realizar o sequenciamento genômico.
Médicos e cientistas têm demonstrado preocupação com a variante indiana, que teria capacidade de transmissão maior do que a original do vírus. Ela foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “preocupação global”.
Na semana passada, o governo Jair Bolsonaro decidiu proibir voos internacionais com origem ou passagem pela Índia, país que enfrenta uma crise decorrente de uma alta recorde de casos e mortes por covid-19. A proibição se soma às restrições da mesma natureza relativa a voos do Reino Unido e da África do Sul.
O Shandong da Zhi, que navega sob a bandeira de Hong Kong, partiu do país africano em 21 de abril, vindo inicialmente da Malásia. A embarcação, que transporta minério de ferro, chegou ao Maranhão em 8 de maio, ficando fundeada na baía de São Marcos, que banha a capital do estado. O navio tem 24 tripulantes, todos de nacionalidade indiana.
Quarentena
De acordo com a Anvisa, o graneleiro iniciou a quarentena no Porto de Itaqui, no último dia 13. O isolamento foi determinado após a detecção da suspeita de infecção de um tripulante pelo novo coronavírus. Da equipe de bordo, 15 pessoas testaram positivo e nove, negativo. Todos estão isolados em cabines individuais, dentro da embarcação. A SES esclareceu que iniciou a testagem e mantém o monitoramento de todos os que tiveram contato com o pessoal de bordo.
A nova cepa é motivo de alerta para profissionais de saúde devido a alta transmissibilidade e resistência. O médico infectologista, Marcelo Daher, 52 anos, que trabalha na Santa Casa de Anápolis (GO) e no Hospital de Urgências, chama a atenção para as mutações. “O vírus se adapta mais fácil e a transmissão é maior, mais rápida e mais fácil de acontecer. Quanto mais variantes tiverem, pior é o cenário, aumentando as chances de haver uma nova onda”, explicou.
E ontem, o Brasil registrou 2.403 óbitos causados pela covid-19, nas últimas 24 horas, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com os registros, 444.094 vidas foram perdidas para a doença. O levantamento do Conass, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, apontou ainda 82.039 novos casos de covid-19 entre quarta e quinta-feira, com um total de 15.849.094 registros desde o início da pandemia. (Colaboraram Alexia Oliveira, Gabriela Bernardes e Gabriela Chabalgoity, estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi)