Saudades (SC)

Atraso no almoço evitou mais mortes em creche

As cinco pessoas mortas no atentado à escola infantil Pró-Infância Aquarela, em Saudades, no Oeste de Santa Catarina, foram enterradas ontem de manhã, depois de um velório que começou de madrugada. As três crianças e as duas funcionárias da creche assassinadas por Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, na última terça-feira, foram sepultadas no Cemitério Municipal da cidade. Segundo relatos de funcionários da instituição, a tragédia só não foi maior porque houve um atraso no almoço daquele dia.


Habitualmente, às 10h, as 30 crianças já deveriam estar todas reunidas no refeitório para serem servidas. Mas, na terça-feira, excepcionalmente, houve um atraso, segundo uma professora que estava na creche no momento do crime, mas que não quis ser identificada.


“Estava na sala dos professores realizando atividades extraclasse, o almoço atrasou não sei o porquê. Ouvi minha colega Keli — a professora Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, morta no ataque — dizer que atenderia a uma pessoa no portão. Em seguida, ouvi gritos, larguei minha caixa de atividades e fui ver o que estava acontecendo. Ele já estava esfaqueando ela. Nesse momento eu gritei para avisar que tinha um homem armado dentro da escola. Voltei para sala, fechei a porta, peguei meu celular e avisei a secretaria de Educação: ‘Mandem a polícia, tem um homem matando as pessoas aqui!’”, relatou.


No momento do ataque, havia cerca de 20 funcionárias e professoras na creche. O aviso foi decisivo para que outras crianças fossem protegidas.


“Depois, eu saí pelo corredor e vi que a Mirla — Mirla Renner, agente educadora também assassinada — já estava deitada no chão. Pulei uma janela e consegui entrar na minha sala. Todas nós (professoras) ficamos segurando as portas para ele não conseguir entrar. Daí ele começou a bater nas janelas e (tentou) forçar para entrar nas salas”, disse.


Do outro lado da rua, um homem que trabalhava em uma metalúrgica e o vizinho, numa loja de motos ao lado do prédio da creche, ouviram os gritos: “Tem um homem matando as crianças”. O primeiro pegou uma barra de ferro do chão e correu em direção à creche para conter o agressor e impedi-lo de cometer suicídio, enquanto o outro, diante dos pedidos de ajuda, pegou uma das crianças feridas e a levou ao hospital. Segundo a professora toda a ação durou cerca de 10 minutos.


Preso em flagrante pelo crime, Fabiano está em estado grave de saúde após desferir golpes contra o próprio pescoço, segundo contaram testemunhas. O delegado regional de Polícia Civil de Chapecó, Ricardo Casagrande, diz que a investigação está a cargo da Polícia Civil da Comarca de Pinhalzinho, que aguarda a eventual liberação médica para colher o depoimento do jovem, internado no Hospital Regional do Oeste em Chapecó.

Segundo a polícia, a ação foi planejada. “O crime foi premeditado. Ele chegou de bicicleta na creche, com uma mochila nas costas, uma professora o abordou e começou a atacá-la com golpes de facão nas costas. O jovem seguiu a professora até uma sala, onde atacou também a outra funcionária auxiliar e mais quatro crianças com menos de dois anos”, afirmou delegado Jerônimo Marçal Ferreira a uma emissora de rádio.

Dr. Jairinho teria agredido sobrinho

Mensagens telefônicas incluídas no inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro mostram que o vereador Dr. Jairinho também cometia agressões contra um sobrinho, cuja identidade não foi divulgada. O material aponta que ele e Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel — morto em 8 de março — tentaram fugir após o crime. A babá da criança, Thayná Ferreira, enviou em fevereiro mensagens para o companheiro, narrando uma agressão sofrida por Henry. Em outro trecho, ela diz que, segundo a mãe dela, que trabalha como babá do sobrinho de Jairinho, disse que o parlamentar também “faz isso” com a outra criança, que só o obedece. Mas, nas oitivas, Thayná minimizou os episódios que presenciou e chegou a mudar versões — por isso, é investigada por falso testemunho.