IMUNIZAÇÃO EM RISCO

Ministério da Saúde tem menos doses de vacina do que divulga

Em público, Saúde anuncia que tem 560 milhões de vacinas para serem aplicadas. Mas, a deputado, informa que são 281 milhões e que outros 282 milhões estão "em fase de negociação". Ministro será cobrado, em depoimento na CPI, sobre a discrepância dos números

Apesar de prometer, por meio de propaganda e pronunciamentos de integrantes do governo federal, contar com mais de 560 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 para imunizar a população, o próprio Ministério da Saúde, em resposta ao questionamento do deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), admitiu que tem a metade disso — 281 milhões de imunizantes contratados, contrariando as peças publicitárias oficiais divulgadas no final de março. Segundo a resposta da pasta, as outras 282 milhões de vacinas estão “em fase de negociação”. Apesar disso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reafirmou ontem que mais de 500 milhões de doses já foram “contratadas”.

“O governo federal não mediu esforços para ter vacinas para imunizar a população brasileira. Mais de 500 milhões de doses já foram contratadas e esperamos que, até o final do ano, com o esforço de todos, possamos imunizar a nossa população”, disse Queiroga, no evento para o lançamento da Pesquisa de Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (PrevCOV).

A informação, no entanto, não condiz com a resposta do próprio ministério, que salienta que ainda precisa finalizar o contrato de 210 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, fornecidas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); de 30 milhões da CoronaVac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan; e de 41,4 de doses fornecidas pelo consórcio internacional Covax Facility, apesar de já estarem sendo entregues pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O cenário é ainda mais confuso porque até mesmo a última projeção contratual de entregas de vacinas, atualizada ontem pelo ministério, indica outro número. Segundo o documento, apenas cerca de 140 milhões são descritos como “quantitativos previstos a serem contratados” — ou seja, ainda não foram realmente fechados acordos de compra desses montantes. Com isso, o país teria adquirido, de fato, cerca de 423 milhões de vacinas, número ainda distantes dos 560 milhões.

Autor do requerimento que indagava a real quantidade de doses, Fruet encaminhou as informações que recebeu à CPI da Covid e ao Tribunal de Contas da União. “Sugeri ao TCU uma auditoria para saber, efetivamente, quantas vacinas foram compradas, pagas, já distribuídas, e quantas estão programadas, já que temos uma enorme desinformação”, explicou o deputado.

Depoimento

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), confirmou que cobrará explicações do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que será ouvido hoje pela comissão, para a diferença entre os números propagandeados pelo ministério e os realmente contratados. “Vamos saber se tem ou não vacina e quais são os contratos. Vou esperar o ministro aqui com essa resposta”, disse, após a reunião de ontem do colegiado. Queiroga reafirmou, ontem, que tem doses suficientes contratadas para imunizar todos os brasileiros até o final do ano.

Independentemente das discrepâncias nos números apresentados pela Saúde, o Brasil recebeu ontem mais um lote da vacina desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech. Ao todo, são 628.290 doses que desembarcarão no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).

O país recebeu 1 milhão de fármacos da Pfizer na última semana e as unidades já foram repassadas às 27 capitais brasileiras, em razão das baixas temperaturas necessárias para a refrigeração das vacinas. O ministério não detalhou como será feita a distribuição das novas 628 mil doses, que fazem parte da remessa de 2,5 milhões de doses esperada para chegar até maio.