CPI da Covid

"Vizinho mal comportado" não é priorizado, diz Covas sobre relação com a China

Durantes depoimento na CPI da Covid, o diretor do Butantan afirmou que declarações negativas e pejorativas sobre a China contribuem para entraves burocráticos

Bruna Lima
postado em 27/05/2021 13:00
 (crédito: Governo do estado de São Paulo/Divulgação)
(crédito: Governo do estado de São Paulo/Divulgação)

"Temos cem vizinhos. Noventa e nove são cordiais, nos tratam bem, vão na nossa casa sempre com grande prazer, nos convidam para ir na casa deles. Um vizinho é o mal comportado. Aquele que sempre tem uma observação a fazer. Na festa de fim de ano vamos chamar aquele vizinho ou os outros?" Com a analogia, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que as declarações de autoridades brasileiras contra a China atrapalham as relações e causam entraves burocráticos. A fala foi dada durante o depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira (27/5).

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB/AL), relembrou, durante o interrogatório, que o diretor do Butantan queixou-se, em diversas ocasiões, sobre a relação do governo federal com a China. "No dia 6 deste mês, Vossa Senhoria reiterou essa posição ao atribuir o atraso na chegada do Insumo Farmacêutica Ativo (IFA), fundamental para a produção do imunizante, à postura do governo federal com o país que é o principal fornecedor de vacina da CoronaVac".

Questionado sobre os reflexos dessas narrativas, na prática, Covas afirmou que "isso se reflete nas dificuldades burocráticas" que normalmente são resolvidas em 15 dias e que "hoje demoram mais de mês". O diretor completou que isso ocorre porque "cada declaração que ocorre no Brasil repercute na imprensa chinesa e as pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que o país dá ao mundo nesse momento", contexto que subsidia os impasses.

Calheiros também citou um encontro em Pequim, em 21 de maio deste ano, entre autoridades brasileiras com a Sinovac, responsável pela produção do IFA da CoronaVac, em que os diretores da farmacêutica teriam pedido que o "governo federal adotasse postura positiva com a China", disse o relator, questionando se Covas compartilhava desse "desconforto".

Inconformismo

Na resposta, Covas afirmou que, antes desse encontro, foi convidado para participar de uma reunião com os ministros Paulo Guedes (Economia), Marcelo Queiroga (Saúde) e Carlos França (Relações Exteriores), com o embaixador da China no Brasil, Wanming Yang. "O embaixador deixou isso muito claro naquele momento: posições antagônicas que desmerecem a China causam inconformismo do lado chines", disse o depoente.

Por outro lado, Covas esclareceu que enxerga uma melhora na interlocução com a liderança de França tem ajudado a "distensionar" as relações, e que os primeiros reflexos já aparecem com a liberação recente de mais insumos. "Uma postura pragmática traria enormes vantagens, avanços tecnológicos, possibilidade de cooperação em um momento em que as vacinas são necessárias", concluiu.

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