O Ceará monitora um caso suspeito da variante B.1.617 do coronavírus, que surgiu na Índia. O estado informou, ontem, que havia sido notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a suspeita no início da semana. Porém, especialistas acreditam que a mutação do micro-organismo já teria se espalhado pelo país.
O paciente, que está em Fortaleza, voltou de uma viagem à Índia em 9 de maio. Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o infectado tem 35 anos, fez dois exames RT-PCR, em 10 e 11 de maio, e ambos deram positivo. Uma semana depois, repetiu o exame e o resultado foi negativo. O colega de empresa que o acompanhou durante a viagem também fez testes para identificar a infecção por coronavírus, em 10 e 12 de maio, que deram negativos.
A secretaria informou que todas as pessoas que chegam ao Ceará oriundas de países com circulação de variantes devem cumprir quarentena de 14 dias, o que está sendo respeitado pelos viajantes e monitorado pela pasta. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está fazendo o sequenciamento genômico para determinar se o homem foi infectado pela variante indiana. A Sesa disse que está acompanhando o processo.
Na última quinta-feira, o Maranhão confirmou os primeiros casos da variante indiana no Brasil. Os pacientes estão a bordo do navio MV Shandong da Zhi, procedente da África do Sul. Ao todo, 15 tripulantes da embarcação testaram positivo para a covid-19 e pelo menos seis foram infectados pela cepa B.1.617. Um deles está internado na UTI em um hospital privado de São Luís. Nas últimas semanas, a variante foi detectada em 44 países.
O navio está fundeado a 50 quilômetros da costa e ainda não tem permissão para atracar no porto maranhense. Todos os tripulantes estão isolados em cabines individuais.
A variante B.1.617 foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “preocupação global” porque pode ter capacidade de transmissão maior do que a cepa original do vírus. No entanto, a instituição ressalta que as vacinas protegem contra “todas as variantes” do vetor da covid-19.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro proibiu voos internacionais com origem ou passagem pela Índia.
Problema
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu, ontem, que a variante indiana representa um problema global, motivo pelo qual determinou bloqueios em aeroportos e portos — sobretudo na região Sul, pois a Argentina tem mais casos confirmados com a B.1.617. E disse que a Anvisa de saúde foi muito eficiente ao detectar e isolar os suspeitos.
Como forma de tentar frear o avanço da B.1.617, a cidade de São Paulo quer criar barreiras sanitárias em aeroportos, segundo o secretário da Saúde, Edison Aparecido, e traçar um plano conjunto coordenado pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa. “Ele (o ministro Marcelo Queiroga) disse que seria muito importante haver uma estratégia comum”. (Colaboraram Bruna Lima, Alexia Oliveira* e Gabriela Bernardes*, estagiárias* sob a supervisão de Fabio Grecchi)
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SRAG avança e preocupa
Dados da nova edição do Boletim do InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — que monitora a situação no país de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) —, mostram que alguns estados tendem a ter um aumento no número de casos, inclusive aqueles que apresentaram redução nas últimas semanas. De acordo com a entidade, as infecções subiram de forma preocupante em oito das 27 unidades da Federação.
O levantamento mostra que houve crescimento de casos de SRAG no Amazonas, no Maranhão, em Mato Grosso do Sul, na Paraíba, no Paraná, no Tocantins, no Distrito Federal e no Rio de Janeiro.
Nos demais, há indícios de interrupção da tendência de queda na Bahia, no Espírito Santo, em Goiás, em Mato Grosso, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, em Sergipe e em São Paulo. Minas Gerais e Piauí apresentariam estabilização, porém, segundo o InfoGripe, não se pode afirmar que realmente estão em condição estável. Os números se referem à Semana Epidemiológica 19, de 9 a 15 de maio.
A incidência de doenças respiratórias, que, em casos graves, demandam hospitalização ou resultam emn mortes, podem ser causadas por vários vírus respiratórios, mas, atualmente, são em grande parte provocadas por infecções da covid-19. Neste ano, aproximadamente 99% dos óbitos por SRAG foram originados em infecções pelo novo coronavírus.
De acordo com Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, a retomada das atividades de maneira precoce pode levar a um quadro de interrupção da queda ainda em valores muito distantes de um cenário de segurança. A pesquisa também revelou que os óbitos por SRAG, independentemente de presença dos sintomas da covid-19, encontram-se muito altos. Desde 2020 até o último boletim, foram registrados 306.079 óbitos.
* Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro
Saúde, agora, testará em massa
Com 446.309 mortos e quase 16 milhões de positivos para a covid-19, o Ministério da Saúde pretende, finalmente, ampliar a testagem em massa para detectar o vírus para romper cadeias de transmissão. O objetivo é “possibilitar uma retomada das atividades econômicas de forma mais segura”, como afirmou, ontem, o ministro Marcelo Queiroga. A estratégia — de testar não somente os casos sintomáticos, mas de buscar infectados — se assemelha ao planejamento feito durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta, que não saiu do papel com a saída do ex-ministro.
“Vamos checar a capacidade de testagem dos estados e municípios para que a gente, de fato, consiga adotar essa estratégia tão importante nesse cenário para retomar atividades”, disse o secretário-executivo Rodrigo Cruz. O tema será pauta da próxima reunião tripartite, com os conselhos estaduais e municipais de saúde (Conass e Conasems), nesta segunda-feira.
O ministério tem um plano detalhado de como será essa testagem em massa, mas aguarda o aval dos gestores locais para divulgá-lo na íntegra. Se aprovado, a ideia é que entre em ação já na próxima semana, com a distribuição de três milhões de testes rápidos, do tipo antígeno, que detectam a presença da covid-19 enquanto a pessoa está infectada — assintomática ou não.
A estratégia, a princípio, será dividida em três eixos: um que garanta a testagem de todos os casos sintomáticos; outro que faça busca ativa, ou seja, alcance pessoas que não apresentam indicações para a doenças ou estejam em fase pré-sintomática; e um de soroprevalência, testando uma amostra populacional para acompanhar a transmissibilidade do vírus.
O último eixo deve realizar os testes nas casas das pessoas, escolhidas aleatoriamente. Já na busca ativa, a estratégia é fazer diagnósticos em locais de grande circulação, entre profissionais que estão em constante circulação. “Vamos buscar de forma ativa testar essas pessoas para identificar o começo da infecção, isolando e evitando a transmissibilidade do vírus”, explicou Cruz.
Questionado pelo Correio sobre o impacto de uma tardia testagem em massa, Queiroga preferiu apenas ressaltar a importância do rastreamento da transmissão que, com a vacinação, é o caminho para a volta ao normal. “Temos que olhar para frente. A vacinação cresce a cada dia e o governo tem feito um esforço muito forte para isso”, disse.
Apesar da chegada da testagem em massa mais de um ano depois de sugerida como estratégia contra o avanço do novo coronavírus, a ideia realizar de 10 milhões a 25 milhões de provas mensalmente, variando de acordo com a gravidade da transmissão.