Rio de Janeiro

O que sabe até agora sobre a operação que deixou 25 mortos no Jacarezinho

Entre os mortos está um policial civil; dos outros 24, até o momento apenas 14 foram identificados

Thays Martins
postado em 07/05/2021 15:31
 (crédito: Mauro Pimentel)
(crédito: Mauro Pimentel)

Nesta quinta-feira (7/5), nove horas de operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho, Zona Norte da cidade, terminaram com 25 mortos. Esta foi a operação mais letal da história do Rio de Janeiro. 

Segundo a Polícia Civil, a operação foi totalmente legal. Mas especialistas em segurança pública a taxaram como desastrosa e moradores denunciaram na internet supostos abusos policiais. Na manhã desta sexta-feira (8/5), moradores fizeram uma manifestação pacífica contra as mortes. 

Entenda o que sabe até agora: 

A Operação 

Os moradores do Jacarezinho amanheceram em meio a troca de tiros. A Operação Exceptis, da Polícia Civil, tinha como intuito investigar o aliciamento de crianças para organizações criminosas. Segundo a corporação, foram 10 meses de investigação e já tinham sido identificados 21 suspeitos. 

A polícia apreendeu seis fuzis, 16 pistolas, 12 granadas, uma submetralhadora e uma escopeta. Além de rádios e drogas. Também foram presas seis pessoas: três com mandado de prisão e três em flagrante. 

Mortes 

Ao todo, 25 pessoas morreram. Entre elas, o polícia civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, atingido por um tiro de fuzil na cabeça logo no início da operação. Ele ainda chegou a receber atendimento médico no Hospital Salgado Filho, mas não resistiu. 

Os outros 24 ainda eram moradores da comunidade, aos quais a polícia se referiu como "todos criminosos". A corporação ainda disse que três deles já tinham sido denunciados pelo Ministério Público.

Até o momento, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) identificou 14 mortos, todos homens. Entre eles, jovens com menos de 20 anos. São eles: Raul Barreto de Araujo, 19 anos, Romulo Oliveira Lucio, 20 anos, Mauricio Ferreira da Silva, 27 anos, Jhonatan araujo da Silva, 18 anos, John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos, Wagner Luis de Magalhaes Fagundes, 38 anos, Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos, Marcio da Silva, 43 anos, Francisco Fabio Dias Araujo Chaves, 25 anos, Toni da Conceição, 30 anos, Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos, Cleiton da Silva de Freitas Lima, 27 anos, Marcio Manoel da Silva, 31 anos e Jorge Jonas do Carmo, 31 anos. 

Na operação, ainda foram feridos mais dois policiais, dois usuários do metrô e um morador que estava em casa. 

Chacina? 

Durante a operação, diversos vídeos foram divulgados pelos moradores que denunciavam abuso policial. Os moradores dizem que as pessoas mortas foram executadas, quando já estavam rendidas. Também há relatos de que celulares dos moradores foram apreendidos pelos policiais. Em um dos registros, uma pessoa teria sido morta sentada em uma cadeira. 

Nas redes sociais, políticos, especialistas em segurança pública e ativistas condenaram a letalidade da ação. 

Nesta sexta-feira (7/5), a Organização das Nações Unidas (ONU) se pronunciou e disse que irá requerer uma investigação independente para entender o que aconteceu no Jacarezinho. Segundo o porta-voz dos Direitos Humanos da ONU, Rubert Colville, existe um histórico de uso de força desproporcional por parte da polícia. 

A investigação também terá acompanhamento da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB/RJ) e também da ouvidoria da Defensoria Pública do Estado.

"A pobreza não pode ser criminalizada. Na Zona Sul, isso não acontece. As famílias têm reclamado do tratamento após a morte. Independentemente de (alguém) ser bandido, não tem que ter pena de morte. As famílias falam que muitos deles se entregaram e foram assassinados. Uma operação com 25 mortos não é de sucesso", disse Patrícia Félix, uma das representantes da OAB ao O Globo

Em visita a favela, a defensora pública Maria Júlia Miranda disse que encontrou um cenário de guerra e cenários adulterados.  "O primeiro choque inicial (ao chegar ao Jacarezinho) foi a quantidade de sangue nas ruas", disse. "Nesses casos provavelmente houve execução. Pessoas foram tiradas já mortas, o que para a gente configura desfazimento de cena de crime", completou. 

Em entrevista coletiva, o delegado Fabrício Oliveira disse que "não houve execução". "A Polícia Civil não entra para executar e foi feita dentro de total legalidade. Ela entra para fazer cumprir a lei", afirmou. 

Mais letal da história 

Esta foi a operação policial que resultou em mais mortos da história do Rio de Janeiro. Antes dela, a operação com o maior número de mortos tinha sido em 2007, no Complexo do Alemão, quando 19 pessoas morreram. 

A ONG Fogo Cruzado classificou a ação como a "segunda maior chacina da história da cidade". O único evento com mais mortos por arma de fogo de uma só vez na capital fluminense foi a chacina da Baixada Fluminense, em 2005, quando 29 pessoas foram mortas por um grupo de extermínio. 

Ilegalidade 

Em junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu as operações policiais em favelas durante a pandemia. A exceção são para casos de extrema necessidade. Segundo a polícia civil, todos os requisitos forma cumpridos para que a ação pudesse ocorrer. "Decisão do STF não impede a polícia de fazer o dever de casa. Ela coloca protocolos e a Polícia Civil cumpre todos", disse o delegado Rodrigo Oliveira em entrevista coletiva. 

Relatório apreendido 

A Polícia Civil disse que encontrou em uma das casas, em que cinco suspeitos foram mortos, um relatório com detalhes sobre a ação com timbre do Ministério Público. Segundo a polícia, o documento pode indicar um possível vazamento de informações sobre a operação. 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação