Violência

Polícia recolhe computador na casa de assassino em creche de SC

Fabiano Kipper Mai, 18 anos, também guardava as embalagens das facas que utilizou para matar cinco pessoas em uma creche de Santa Catarina. Especialista descreve ao Correio o perfil psicológico desses agressores

Fernanda Strickland
Alexia Oliveira*
postado em 04/05/2021 21:17 / atualizado em 04/05/2021 21:20
Creche Aquarela: crime ocorreu por volta de 10h30 -  (crédito: Jornal Record)
Creche Aquarela: crime ocorreu por volta de 10h30 - (crédito: Jornal Record)

A chacina em uma creche no município catarinense de Saudades, nesta terça-feira (04/05), deixou o Brasil em choque. O país ainda está perplexo com a morte de cinco pessoas — dois adultos e três crianças. O autor da tragédia, Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, está preso.    

O delegado Jerônimo Marçal, responsável pelo caso, relatou que o jovem entrou armado com duas facas na creche Aquarela e atacou primeiro a professora, Keli Adriane, de 30 anos. Ferida, a professora correu para a sala onde estavam as quatro crianças, todas menores de 2 anos. Keli e três crianças morreram no local.

Outra funcionária da escola, Mirla Renner, 20 anos, também foi atacada. Ela foi socorrida em estado grave, mas não resistiu. Uma quarta criança sofreu ferimentos leves. Após desferir os ataques, o agressor tentou se matar, mas foi contido.

Em comunicado, a Polícia Militar disse que após o crime, o jovem teria ferido o próprio pescoço com o facão. Ele foi socorrido e levado ao hospital de Pinhalzinho, cidade vizinha. Segundo a polícia, Fabiano Mai nunca tinha estudado na creche. Até o momento, não há registros policiais do agressor. Ainda não se sabe os motivos que levaram o jovem a cometer o ato.

Perfil psicológico

Segundo Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública e privada, um agressor ativo consiste em "pessoa armada que tenha usado força física mortal em outras pessoas e continua a fazê-lo ao ter acesso irrestrito às vítimas adicionais". O especialista explica que, antes, a definição envolvia pessoas com armas de fogo. Mas esse conceito tem sido estendido.

Sant´Anna conta que há histórico documentado desse tipo de ataque desde a década de 1960. "Ocorrendo mais comumente em escolas, os casos de agressores/atiradores ativos podem estar em qualquer ambiente que inclua grande número de pessoas confinadas e com pouca chance de defesa, como prédios empresariais e shopping centers".

De acordo com o especialista em segurança pública, sabe-se que agressores ativos apresentam problemas psicológicos ou de relacionamento e que possuem o objetivo claro de matar o maior número de pessoas. “Raramente fazem reféns e não esperam a chegada rápida da polícia”, descreve.

“Nos EUA, onde ocorrem a maior quantidade de casos e onde fui pesquisar, agressores/atiradores ativos têm causado uma mudança de pensamento no que se refere à aplicação da lei e táticas policiais especiais, especialmente porque essas pessoas não esperam conseguir escapar ou mesmo sobreviver nessas situações” afirma Leonardo.

De acordo com pesquisas na área de ciências policiais, quando um atirador ativo começa seu ataque, é fundamental que profissionais de segurança capacitados busquem estabelecer contato com o atirador. E quanto mais cedo o atirador puder ser contido, capturado ou neutralizado, mais vidas poderão ser salvas. É importante dotar seguranças e policiais com as técnicas mais adequadas para que o mesmo não se torne mais uma vítima.

Agressor e vítimas

A Polícia Civil de Santa Catarina divulgou informações sobre o autor do atentado. Informou que, na casa do suspeito, foram encontrados um computador, as embalagens das duas facas utilizadas no crime e cerca de R$ 11 mil em espécie. Conforme o relato dos pais de Fabiano Mai à polícia, ele trabalhava estava fazendo um reserva financeira. “Ele trabalhava, não saía muito. Era um rapaz mais ‘quietão’”, pontuou o delegado Jerônimo Marçal.

Segundo a Secretaria de Educação de Saudades, três crianças foram mortas no ataque — duas meninas e um garoto. As vítimas Anabela, Sara Luisa e Murilo completariam dois anos no segundo semestre de 2021. A primeira a ser atacada foi a professora Keli Adriane Aniecevski, 30 anos. Outra funcionária da creche, Mirla Renner, que completou 20 anos em janeiro, também morreu na chacina. A Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), onde Mirla estudava engenharia química, decretou luto oficial de três dias.

“A estudante, que cursava a quarta fase da graduação, foi uma das vítimas do ataque que resultou também na morte de uma professora e três crianças em uma creche municipal na cidade vizinha de Saudades. Muito querida pelos amigos da turma, Mirla já atuava como agente de educação na escola antes mesmo de ingressar na Udesc”, registrou em nota a universidade. Além das vítimas, cerca de 30 pessoas estavam na creche no momento do ataque.

*Estagiárias sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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