Mais de 50% dos incêndios ocorridos em casas ou apartamentos, no ano passado, resultaram de sobrecarga no sistema elétrico. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos da Eletricidade (Abracopel), em 2020, foram registrados no país 583 incêndios por sobrecarga, com 26 mortes. Desse total, 309 incêndios ocorreram em casas e apartamentos, resultando em 23 mortes.
O diretor executivo da Abracopel, Edson Martinho, disse hoje (3) à Agência Brasil que uma das ações para reduzir o número de incêndios é efetuar uma revisão completa das instalações elétricas, porque a maioria dos incêndios é gerada por sobrecarga e curto-circuito. "A sobrecarga nada mais é do que colocar mais carga no circuito, ou seja, mais equipamentos em uma tomada do que ela suporta."
Martinho explicou que, por uma regra geral, haveria dispositivos, como disjuntor e fusível, que teriam a função de controle. "Quando se ultrapassa essa carga, eles desligam. Mas, por algum motivo, isso é modificado, e esse dispositivo é alterado, não atua, e começa a aumentar a carga que resulta em aquecimento dos fios. E, aquecendo os fios, se aquece o ambiente e provoca-se incêndio, dependendo do que tiver por perto, como cortinas, que propagam as chamas e causam incêndios até de grandes proporções".
Martinho citou os casos do Museu Nacional e do Ninho do Urubu, do Clube do Flamengo, ambos no Rio de Janeiro.
Falta de atenção
De acordo com Martinho, normalmente, o curto-circuito começa com a sobrecarga e é resultado da perda de isolamento dos fios. Com a temperatura muito elevada, o incêndio é muito mais rápido.
Ele destacou muitos incêndios em casas e apartamentos ocorrem porque os moradores saem da residência e costumam deixar equipamentos ligados, por falta de atenção ou de cuidado. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, as pessoas estão mais em casa e desligam os aparelhos se percebem que estão ligados há muito tempo.
Martinho recomenda, tanto para residências quanto para empresas de qualquer porte, a contratação de um profissional habilitado e atualizado para fazer uma verificação completa das instalações elétricas, que devem estar adequadas às exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Tais normas vão definir exatamente os dispositivos necessários para uma proteção adequada. "Esta é a regra principal para uma instalação segura."
A partir daí, a cada cinco anos, para residências, e a cada três anos, para empresas de pequeno porte, deve ser feita uma revisão. "É a manutenção. E se tem sempre a instalação adequada." Para empresas maiores, a revisão deve ser feita anualmente.
O diretor da Abracopel considera crítica a situação dos hospitais porque há muitas pessoas, o que ocasiona problemas de locomoção. "Qualquer falha no contexto, haverá problemas como incêndio. É um local crítico." Ele disse que isso ocorre também com teatros e cinemas, cuja verificação tem de ser anual.
Condomínios
A sobrecarga elétrica é uma preocupação constante para os condomínios. Segundo o coordenador síndico da Cipa, uma das maiores administradoras de condomínios do país, Bruno Gouveia, os condomínios Têm que ficar cada vez mais atentos às exigências de autorizações e vistorias para evitar problemas que coloquem em risco a vida e o patrimônio dos moradores.
Gouveia informou que, até março, o Corpo de Bombeiros do Rio registrou mais de mil incêndios em residências em todo o estado. "O síndico precisa estar atento às normas, que não são meramente burocráticas. São exigências que ajudam a minimizar o risco de incêndios em moradias", ressaltou.
Bruno Gouveia alertou que os prédios mais antigos precisam de mais atenção ainda porque, quando foram construídos, não havia tantos aparelhos elétricos plugados nas tomadas. "A quantidade de aparelhos disponíveis atualmente exige uma carga bem maior", disse ele, lembrando que, agora, por causa da pandemia de covid-19, muita gente trabalha em casa, o que implica maior número de aparelhos ligados.
Números
Dos 583 incêndios por sobrecarga havidos no país no ano passado, 344 foram provocados por instalações elétricas internas, com 15 mortes, número que mostra redução, quando comparado ao de 2019 (363 incêndios por sobrecarga em instalações elétricas internas, com 22 mortes). Em seguida, aparecem ventiladores e aparelhos de ar condicionado, com 99 incêndios e nove óbitos. No ano anterior, foram 119 incêndios gerados por ventilador e ar-condicionado, com 27 óbitos.
Por regiões, o Sudeste registrou o maior número de incêndios por sobrecarga em 2020: 181, com seis mortes. Em seguida, aparecem as regiões Sul, com 150 sinistros e cinco mortes; e o Nordeste, com 114 incêndios e sete mortes.
Na série histórica que compreende o período de 2013 a 2020, o ano com maior número de incêndios por sobrecarga de energia foi 2019, com 656 acidentes e 74 mortes. Em segundo lugar, ficou 2020, com 583 incêndios, seguido por 2018, com 537). Em termos de mortes em incêndios por sobrecarga e curto-circuito, entretanto, o ano passado registrou o terceiro menor número da série: 26.
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