Natureza

Filhotes gêmeos de anta são descobertos pela 1ª vez na natureza

De acordo com o Instituto Manacá, os filhotes já têm cerca de um ano e meio. A surpresa para os especialistas é que, evolutivamente, a anta tem o corpo preparado para gerar apenas um filhote

Dois filhotes gêmeos de anta (Tapirus terrestris) foram registrados pela primeira na história em seu habitat natural. A descoberta da espécie, ameaçada de extinção, aconteceu na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Trápaga, em São Miguel Arcanjo (SP).

Inicialmente, os animais foram vistos por um grupo de cinco pesquisadores do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, em dezembro do ano passado, por meio de um vídeo que registrou as antas gêmeas por um equipamento fotográfico instalado na reserva. A confirmação só foi possível em janeiro deste ano, depois de outros registros em imagem e observação direta, ou seja, vendo os animais presencialmente.


 

"[A confirmação dos animais gêmeos foi possível] primeiro pela idade: os três indivíduos são nitidamente uma fêmea adulta e dois jovens. Ao longo do monitoramento, pudemos observar que os jovens passavam boa parte do tempo com a fêmea adulta. Segundo: pelo tempo de gestação da anta (13 meses) e tamanho igual dos dois jovens, é impossível que sejam filhos de gerações diferentes", explicou a coordenadora executiva do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, Mariana Landis.

A pesquisadora explicou ainda que, quando nascem, os filhotes dependem da mãe por um longo período até começarem a se distanciar dela, o que ocorre a partir dos 15 meses de idade. Esses animais ainda permanecem nas imediações até começar a explorar locais mais distantes e estabelecer seu próprio território.

"Nós identificamos essa unidade familiar nesse período em que eles ainda estavam muito próximos da mãe, saindo algumas vezes para explorar o território. Esse tipo de diagnóstico é possível com base no amplo conhecimento que as pesquisas ecológicas e comportamentais trazem", acrescentou Mariana.

Para assegurar que se tratava de animais gêmeos, os pesquisadores utilizaram marcas naturais para identificar cada indivíduo. Um dos filhotes, por exemplo, tem um pequeno corte na orelha, o outro tem uma protuberância no nariz. Outras características ajudam nessa identificação: formato e tamanho de cauda, cor do pelo, formato corporal, tamanho e formato da genitália, tamanho de cabeça, presença de pintas brancas nas pernas e barriga, cicatrizes. 

De acordo com o Instituto Manacá, os filhotes já têm cerca de um ano e meio. A surpresa para os especialistas é que, evolutivamente, a anta tem o corpo preparado para gerar apenas um filhote. Embora as antas da espécie Tapirus terrestris sejam os maiores mamíferos terrestres da fauna silvestre da América Latina, as fêmeas só geram um filhote por gestação, que nasce com cerca de seis quilos, após 13 meses. 

Segundo os pesquisadores, na Mata Atlântica, bioma onde ocorreu o registro, é um grande desafio um filhote de anta resistir diante do ciclo da própria natureza. Entre os fatores estão a ameaça humana, o desmatamento, os atropelamentos, as perseguições de cães domésticos e as atividades de caça. 

Apesar da descoberta de antas gêmeas em habitat natural, o registro não é inédito em cativeiro no Brasil. Nesses locais, os animais têm o suporte de profissionais para garantir o sucesso do nascimento e desenvolvimento dos filhotes. 

Sensibilização

A descoberta é fruto do trabalho de monitoramento realizado na reserva, que promove a observação de antas na natureza, gerando a sensibilização com a espécie. Essa é uma das frentes de atuação do Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar, que tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, WWF-Brasil e banco ABN AMRO.

O programa é um dos maiores monitoramentos de mamíferos de grande porte no bioma Mata Atlântica e o primeiro em larga escala realizado nessa região, com o principal objetivo de gerar dados para subsidiar planos de conservação da anta (Tapirus terrestris), do queixada (Tayassu pecari) e da onça-pintada (Panthera onca). O monitoramento é feito em larga escala. São 17 mil km² de atuação nos estados de São Paulo e do Paraná – uma área equivalente a 11 cidades paulistas.