O Brasil, ainda afetado pela escassez de vacinas, está sendo obrigado a interromper a campanha de imunização em um quarto dos municípios (leia insert ao lado). Neste contexto, a inclusão das vacinas Comirnaty, da Pfizer, e Sputnik V ganha ainda mais urgência. Sob forte pressão dos governadores que recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir urgência, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) marcou uma reunião nesta segunda-feira para decidir sobre a importação da candidata russa. Ao longo da semana, técnicos da agência brasileira inspecionaram as instalações para fabricação da Sputnik na Rússia. Foram acompanhados por representantes dos governos estaduais, a fim de garantir a importação imediata.
O tamanho do lote que chegará ao Brasil neste primeiro momento ainda está sendo acertado com as autoridades russas, mas o presidente do Consórcio Nordeste, o governador Wellington Dias (PT), garante que já há possibilidade de entrega para abril e, por isso, pressiona por celeridade da Anvisa. “Esperamos que a Anvisa autorize a licença para importação da vacina Sputnik logo, pois o Brasil precisa de vacina autorizada por outras agências reguladoras e em uso em 60 países e com elevada segurança e eficácia na imunização, mais que outras que estamos usando. O povo está adoecendo, morrendo, e a vacina Sputnik sem poder chegar ao Brasil”, pressionou Dias.
O Consórcio negociou 37 milhões de doses da Sputnik. Todo o montante será incorporado ao Programa Nacional de Imunização (PNI) e distribuído de forma equitativa entres os entes federados. Além desse montante, o governo federal acertou a compra de outras 10 milhões de unidades, mas essas doses aguardam a autorização de uso emergencial da Anvisa.
A reunião de segunda-feira na agência foi marcada em razão do prazo de 30 dias definido pela lei 14.124/2021, reforçado pelo STF, que analisou a ação protocolada pelos estados do Maranhão e do Ceará, exigindo o cumprimento da legislação.
No Brasil, a Sputnik também tem produção nacional pelo laboratório União Química, cuja liberação também depende do aval da Anvisa. Por enquanto, as primeiras produções estão passando por inspeção na Rússia. Quando cumpridas as etapas de verificação e aprovação, a empresa brasileira terá capacidade de produzir 800 mil doses por mês. A eficácia da Sputnik é de 91,6%, como revelam os estudos clínicos. São necessárias duas doses, no intervalo de 21 dias.
Pfizer
Já com registro no país, a Comirnaty, produzida pela Pfizer, tem estimativa de chegar ao país na próxima quinta-feira (29), com um primeiro envio de 1 milhão de doses. No entanto, ficará limitada às 27 capitais, pela necessidade de ser mantida em baixas temperaturas. De acordo com a pasta, estas doses serão entregues armazenadas entre -25°C e -15°C e poderão ficar nessa faixa de temperatura por até 14 dias. Quando colocada na rede de frio nacional, que tem temperatura de +2°C a +8°C, a vacina deve ser aplicada na população em até cinco dias.
“Devido ao curto espaço de tempo, o Ministério da Saúde está orientando, para essa primeira remessa, que a vacinação com as doses da Pfizer fique restrita às 27 capitais do país”, justificou o ministério por meio de nota.
O governo federal também anunciou que, inicialmente, enviará as vacinas destinadas à primeira aplicação. Ou seja, 500 mil doses. Uma semana depois, haverá outra remessa de 500 mil, destinadas à segunda dose. No caso da vacina da Pfizer, o intervalo entre a primeira e a segunda aplicação é de 21 dias.
A logística restrita pode ser ampliada, segundo informou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. “Em um momento futuro, a gente vai preparar a infraestrutura dos demais municípios para que eles recebam essa vacina”, disse.
A pasta informou que já está em andamento a compra, via Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), de 183 freezers de ultrabaixa temperatura, que atingem temperaturas de -90°C a -60°C. Os primeiros 30 freezers devem ser entregues em meados de junho, segundo o ministério.
ButanVac
Na busca pela autonomia produtiva para o segundo semestre de 2021, a ButanVac, vacina de responsabilidade do Instituto Butantan, promete ser uma estratégia promissora para dar sustentabilidade ao Brasil e ajuda internacional a outros países sul-americanos. Ontem, o dossiê da candidata para realização de estudos clínicos em humanos foi protocolado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O governo de São Paulo diz ter capacidade de iniciar os testes ainda em abril.
"Assim que a Anvisa autorizar, nós estamos prontos para início dos testes. Quero crer que, ainda no mês de abril, se a Anvisa autorizar, possamos iniciar os testes com a ButanVac", disse o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia.
Interrupção nos municípios
Sem vacina para dar continuidade à campanha nacional de imunização contra a covid-19, um quarto dos municípios brasileiros precisaram interromper as aplicações da primeira dose, indica o novo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), divulgado ontem. A pesquisa ainda aponta que pelo menos 745 municípios ficaram sem o kit intubação em algum momento desta nova onda de casos e mortes pelo novo coronavírus. Na comparação com as semanas anteriores, a pesquisa revela uma melhora no cenário atual, "apesar de ainda preocupante", ressalta a CNM. O risco de hospitais de 591 municípios ficarem sem medicamentos necessários para a intubação ainda é iminente, mas, no início de abril, 1.207 cidades relataram o gargalo.