Não há mudança na liderança do Ministério da Saúde que cesse os atritos entre o governo federal e lideranças estaduais. O embate da hora reside nos medicamentos para intubação dos pacientes de covid-19. Em meio à escassez de oferta e uma alta demanda, União e estados jogam um para o outro a responsabilidade de manter os estoques abastecidos. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), reclama da demora da ação por parte da pasta federal, enquanto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, frisa que a solução deve vir de um movimento tripartite. Ontem, o titular da pasta alfinetou o governador tucano, ao dizer que os estados devem agir para obter o chamado kit intubação e não apenas solicitar providências ao ministério.
Em resposta à crítica de Doria sobre a ausência de resposta do Ministério da Saúde a nove ofícios enviados à pasta solicitando medicamentos para intubação, Queiroga tratou de mostrar as ações da pasta. Destacou, logo no início de uma coletiva de imprensa, a entrega de 2,3 milhões de remédios. E disse que “a obrigação de adquirir esses medicamentos é de municípios e estados”. “Não adianta só mandar ofício, é preciso trabalhar junto”, disse Queiroga.
“Os estados também têm que procurar esses medicamentos, sobretudo os grandes. Existem estados que têm uma economia maior que a de países, que têm condições de buscar esses insumos. Não é só empurrar isso para as costas do Ministério da Saúde”, completou, alegando que é preciso deixar claro que a atuação é tripartite.
Não é de hoje que João Doria reclama da morosidade do Ministério da Saúde no envio de kits de intubação. Além das queixas em coletivas de imprensa, o governador recorreu às redes sociais. “Esses são os nove ofícios enviados pelo Governo de São Paulo ao Ministério da Saúde apontando, desde o dia 03/03, a necessidade de medicamentos que compõem o "kit intubação". Não tivemos nenhuma resposta. É omissão e descaso do Governo Federal com a população", atacou o governador.
Doria alega que o governo estadual teve os contratos de compra frustrados em decorrência das ações do governo federal. “Requisitaram a produção nacional destes medicamentos, dificultando a compra por governos estaduais e municipais. O Ministério da Saúde requisitou a produção nacional destes medicamentos, e SP ficou seis meses sem receber nenhum item proveniente desta requisição”, disse o tucano.
O ministério contesta a narrativa de São Paulo. Segundo a pasta, todas as requisições foram atendidas. “Cabe salientar que, diferentemente do que tem sido anunciado por algumas pessoas, os contratos vigentes foram mantidos em todas as indústrias que o ministério fez visitas para requisição das medicações”, disse o secretário de Atenção Especializada, Sérgio Okane. Ele ponderou, no entanto, que a evolução da pandemia é um fator importante para a situação crítica com os kits de intubação, e não a demanda de estados e municípios.
“Como a faixa etária da população atingida diminuiu, é um paciente que, muitas vezes, precisa de mais medicação. [...] As características clínicas da doença mudaram. Ninguém estava preparado. Nenhum deles estava preparado. Infelizmente, o mundo vive esse problema”, justificou Okane. Ele ressaltou, ainda, que, diferentemente da primeira onda, o agravamento da pandemia varreu todo o país.
O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Helio Angotti, disse que, com o aumento exponencial dos casos, foi necessário incrementar as estratégias para “auxiliar os estados a harmonizar seus estoques”. Dentro das ações estão a requisição dos estoques de indústrias, aquisição internacional, novos pregões, execução dos saldos já contratados e pendentes e doações.
Ontem, a pasta recebeu a doação de 2,3 milhões de medicamentos de intubação orotraqueal (IOT) feita por um grupo de empresas formado pela Petrobras, Vale, Engie, Itaú Unibanco, Klabin e Raízen. Toda a remessa começará a ser distribuída hoje e deve chegar à rede hospitalar até amanhã. “É uma doação expressiva. Agradecemos publicamente porque sabemos que vão salvar muitas vidas”, reconheceu Angotti.