O Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras e Divisas, conhecido como Vigia, lançado pelo Ministério da Justiça para atacar as estruturas do crime organizado por meio do bloqueio da entrada de drogas, cigarros contrabandeados e demais produtos ilegais pelas divisas do país, completa hoje dois anos de existência.
De acordo com dados obtidos pelo Correio, ao longo dos últimos 48 meses, as ações subtraíram R$ 3 bilhões do crime organizado, com a apreensão de mais de 870 toneladas de drogas, 113 milhões de maços de cigarros, e bens recuperados em ações policiais. As ações contrastam com a tentativa de facções criminosas de avançar na dominação de territórios nas regiões de fronteira. Informações obtidas pela reportagem revelam o avanço do Primeiro Comando Capital (PCC) na região Norte.
A estratégia consiste na integração das policiais estaduais com órgãos federais para combater crimes nas regiões de fronteira do Brasil com outras nações da América do Sul. O programa Vigia segue as diretrizes do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e tem como pilar a atuação conjunta. “Os resultados expressivos durante esses dois anos de Programa mostram que o governo federal está empenhado no combate ao crime organizado. A integração entre as forças de segurança pública federais e estaduais, além de outras instituições parceiras, será cada vez mais reforçada para que o nosso país vença a luta contra o crime”, afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.
O projeto começou em abril de 2019, com o bloqueio de trecho do Rio Paraná, região considerada crítica para a entrada de produtos ilegais no Brasil. No começo, havia seis policiais militares e um agente da Polícia Federal no projeto. No entanto, os resultados levaram à expansão do programa, que hoje conta com cerca de 700 policiais, com meta de atingir contingente de 1 mil nos próximos meses. A iniciativa foi implementada no Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Acre, Rondônia, Tocantins, Goiás, Roraima, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará, Amapá, Rio Grande do Norte e Ceará.
Logística continental
Ao todo, o Brasil tem 17 mil quilômetros de fronteira terrestre, o que exige uma logística continental para impedir a entrada de criminosos, armas e produtos contrabandeados. Ao Correio, o coordenador-geral de fronteiras, da Secretaria de Operações Integradas (Seopi/MJSP), Saulo de Tarso Sanson Silva, explica que por conta do tamanho do território, cada região do país tem sua peculiaridade. “O país tem um tamanho continental e cada estado tem sua realidade. No Paraná ocorre o tráfico de cigarros, no Mato Grosso do Sul, entra maconha, e subindo, no Mato Grosso, cocaína, no Amapá e Roraima temos muito ouro, e o contrabando do alho, que muitas vezes vem da China. O consumo interno de alho atrai as investidas de traficantes internacionais”, relata o integrante do Ministério da Justiça.
Informações obtidas junto a fontes nas Forças Armadas apontam que o PCC tem avançado e dominado territórios na região Norte do país, especialmente na tríplice fronteira entre o Peru e a Colômbia, na região do Amazonas. Em cidades pequenas, os criminosos cooptam moradores, e até mesmo integrantes de povos indígenas para viabilizar a travessia de produtos contrabandeados, armas e drogas.
De acordo com Saulo de Tarso, as fronteiras registram a presença marcante de facções criminosas em diversos pontos. Esta é uma das das linhas de atuação que o programa pretende atacar. “Nós temos toda a fronteira com a presença de facções criminosas. Temos um grande contrabando de alho que vem da china. Entra no país pelo Norte sem pagar imposto. O grande consumo brasileiro atrai o alho de outros países”, ressaltou.