O médico e vereador do Rio de Janeiro Jairo Souza Santos Junior, o Doutor Jairinho (sem partido) — preso temporariamente desde 8 de abril e acusado de agredir até a morte seu enteado Henry Borel, de 4 anos, em 8 de março, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio) —, foi indiciado, ontem, pelo crime de tortura, praticado entre 2010 e 2013 contra a filha de uma então namorada dele. O inquérito, instaurado a partir de informações colhidas durante a investigação do assassinato de Henry, tramitou na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) do Rio. Hoje, a vítima tem 13 anos. Além do indiciamento, a polícia pediu à Justiça a prisão preventiva de Jairinho por esse crime. A DCAV ainda investiga outra denúncia contra ele, referente a supostas agressões ao filho de outra ex-namorada.
No caso já concluído, a vítima é a filha de uma cabeleireira que conheceu Jairinho em 2010 e manteve um relacionamento com ele até 2013. Nesse intervalo, chegaram a ficar noivos. A menina, que à época tinha de 3 a 5 anos, disse que o vereador bateu a cabeça dela contra a parede do box de um banheiro e pisou sobre o corpo dela no fundo de uma piscina, tentando impedir que emergisse para respirar. “À época, essa criança tinha entre 3 e 5 anos. Ela sofreu uma série de violências e até tortura”, disse o delegado Felipe Curi, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE).
De acordo com o também delegado Adriano Marcelo Firmo França, titular da DCAV, “a criança tinha pavor e pânico ao ver o carro de Jairinho”. “A figura dele trazia lembranças das agressões. Ela ficava segurando na perna da avó para não ir ao encontro dele. Quando identificaram a ânsia de vômito e o pânico da criança, ela foi afastada do convívio (com o abusador). A menina foi praticamente criada pela avó por questões familiares”, contou.
Curi disse que a mãe não denunciou por medo. “Com o caso do Henry, ela criou coragem. Esse não tem nada a ver com o caso Henry, mas surgiu no bojo da investigação e serve para corroborar o perfil de violência do Doutor Jairinho contra menores filhos das pessoas com quem ele têm relacionamento amoroso. Isso ficou comprovado na investigação que foi concluída e na investigação que está em andamento”, frisou. A mãe da criança é considerada pela polícia como vítima de violência doméstica e não será indiciada por não ter denunciado as agressões à filha.
Ao ser preso (pela investigação referente a Henry), Jairinho prestou depoimento ao delegado França e negou as acusações. Disse que mantinha com a criança uma relação “amistosa”, sem “grau de intimidade” e negou ter saído sozinho com ela ou a levado a qualquer lugar que tivesse piscina. Também contestou as agressões. Mas a apuração concluiu que ele mentiu. “Toda a versão apresentada por Doutor Jairinho foi derrubada pelas provas documentais e pelo depoimento”, disse França.
O inquérito que ainda tramita na DCAV contra Jairinho investiga agressões supostamente cometidas por ele ao filho da estudante Débora Melo Saraiva, que começou a se relacionar com Jairinho em 2014. O menino tem 8 anos e, em depoimento, afirmou que o vereador colocou um papel e um pano em sua boca, avisou que ele não poderia engoli-los, o deitou num sofá de sua casa em Mangaratiba e pisou sobre seu corpo. No mesmo depoimento de 8 de abril, Jairinho também negou essas acusações.
O advogado Braz Sant’Anna, que defende Jairinho tanto no caso Henry como no investigado pela DCAV, afirmou que o indiciamento realizado pela Polícia Civil poderá ser alterado pelo Ministério Público do Estado do Rio, por isso, ressaltou, é “melhor aguardar o entendimento do promotor”.
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