O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o ranking das universidades públicas e privadas. Mais de 40% dos cursos superiores de instituições particulares de ensino (com e sem fins lucrativos) tiveram desempenho considerado ruim na última edição do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Como em outros anos, as universidades públicas receberam as maiores notas: 43% delas ficaram bem pontuadas. Entre as privadas, foram 21%, nas universidades federais, essa taxa foi de 5,3%, e nas estaduais, 11,3%.
De acordo com Catarina de Almeida, mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP), os resultados do exame do Enade refletem fatores importantes na educação. “O Enade mede o resultado do aprendizado dos estudantes. Esse resultado é fruto de um processo: vem das condições de funcionamento das instituições, da qualidade do tempo e dedicação dos professores, da inserção desses estudantes em programas de ensino, da existência de laboratórios, entre outros”, explica a educadora.
Por essas razões, é comum universidades públicas e privadas apresentarem discrepância nas notas. “Notoriamente, as instituições públicas de ensino investem e desenvolvem o “tripé” do processo formativo: ensino, pesquisa e extensão. Nessas instituições, há o desenvolvimento de pesquisas, além do que, geralmente, os professores têm dedicação integral. Todo esse desenvolvimento da universidade desencadeia a qualidade do ensino que elas oferecem para seus estudantes, por isso, não é surpresa esses resultados”, afirma a professora.
Catarina de Almeida afirma, ainda, que, com a pandemia e a consecutiva perda de recursos, os resultados da avaliação na próxima tendem a vir ainda mais baixos. “É impossível a pandemia não impactar no processo de ensino nas universidade como um todo”, comenta. “O isolamento, as tensões impactam na nossa vida e, certamente, na formação e aprendizado dos estudantes”, avalia a especialista.
O desempenho superior das universidades públicas no ranking do Inep se mantém apesar das sucessivas medidas do governo Bolsonaro contra a educação superior gratuita. Além de uma forte ação política, voltada para combater a “ideologia de esquerda'' e a “manipulação" no ensino, o governo federal interferiu no processo de trocas dos reitores e estruturou o programa de ampliação das escolas militares. O secretário de Educação do MEC chegou a cortar 30% dos repasses para todas as universidades federais.
Este ano, a Controladoria-Geral da União (CGU) puniu dois professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), um deles o ex-reitor e coordenador da pesquisa nacional EpiCovid, Pedro Hallal, com uma advertência oficial por terem criticado o presidente Jair Bolsonaro. Após o procedimento da CGU, Pedro Hallal assinou um Termo de Ajustamento de Conduta.
*Estagiárias sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza