O Ministério da Saúde admitiu ontem que não será possível concluir a vacinação dos grupos prioritários contra a covid-19 até maio, como havia projetado o ex-ministro Eduardo Pazuello. A pasta calcula que a vacinação dos grupos de risco só deve terminar em setembro e já admite que, caso haja novos atrasos na entrega das vacinas, esse prazo pode ser revisto novamente.
O adiamento do cronograma de vacinação dos grupos prioritários contra a covid-19 foi confirmado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em coletiva de imprensa realizada ontem. “O processo de vacinação no Brasil tem ocorrido de forma cada vez mais célere. Se continuar nesse ritmo, até setembro vamos atingir a população prevista no PNI [Plano Nacional de Imunização]", afirmou Queiroga.
Coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato explicou que a pasta espera aplicar a primeira dose da vacina contra a covid-19 nos 77,2 milhões de brasileiros que pertencem aos grupos prioritários até a primeira quinzena de junho. Com isso, a segunda dose deve ser aplicada até setembro, devido ao intervalo necessário entre as doses, que chega a 84 dias no caso da AstraZeneza.
Ela admitiu, no entanto, que esse cronograma depende da entrega das vacinas. E afirmou que, “para não criar expectativas que não possam ser cumpridas”, o Ministério da Saúde tem se reunido semanalmente com a Fiocruz e o Butantan para monitorar o ritmo de entregas da AstraZeneca e da CoronaVac, respectivamente. "É uma previsão, que, à luz de alteração no cronograma, altera também a vacinação desses grupos prioritários”, frisou.
Na semana passada, o Butantan suspendeu a produção da CoronaVac por conta da falta de matéria-prima. A produção foi retomada só na noite de terça-feira, depois que o instituto recebeu três mil litros do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) da China. O material deve ser suficiente para a produção de 5 milhões de doses, que devem ser distribuídas para os estados e municípios a partir de 3 de maio. A previsão do Butantan, no entanto, era receber seis mil litros de IFA. O instituto, portanto, ainda está na expectativa de contar, nas próximas semanas, com o restante da encomenda do IFA.
Ao reforçar que o cronograma de vacinação depende dessas entregas, Queiroga frisou que a carência de insumos “não é uma questão do Brasil, é uma questão mundial”. “A Covax Facility é uma iniciativa da OMS (Organização Mundial de Saúde), que é referida como padrão de excelência. E o que ocorre é que a Covax Facility não entrega o que foi acordado”, queixou-se.
O ministro disse que a previsão de estender até setembro a vacinação também é fruto de aspectos regulatórios, já que o país só vai usar vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele calcula, por exemplo, que o país teria acesso a 20 milhões de doses da Covaxin e a 10 milhões de doses da Sputnik caso essas vacinas fossem aprovadas pela Anvisa. Porém, garantiu que segue buscando alternativas para acelerar a vacinação contra a covid-19. O governo negocia, por exemplo, a compra de mais 100 milhões de doses da Pfizer. Caso o contrato seja fechado, no entanto, os imunizantes só chegarão ao país em 2022. Queiroga não quis, no entanto, apresentar os planos do governo com as doses da Pfizer no próximo ano.
O ministro também se irritou ao ser questionado sobre a diferença de quatro meses entre o novo cronograma e o prazo apresentado anteriormente por Pazuello para a vacinação dos grupos prioritários. “Vamos deixar de ver só problema, porque, na realidade, estamos aqui para dar solução à população. Não fica com essa coisa de ficar contando dose, vamos vacinar a população”, reclamou, encerrando a coletiva de imprensa.
Kit intubação
O Ministério da Saúde pretende distribuir 3,4 milhões de doses de vacina contra a covid-19 entre os estados brasileiros ainda nesta semana. A pasta, no entanto, não atualizou o cronograma de aquisições e recebimentos de entregas da vacina na gestão de Queiroga. A última atualização do calendário disponível no site da pasta é de 19 de março, ou seja, poucos dias antes da posse do novo ministro. Por conta disso, a Rede Sustentabilidade acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinou, na terça-feira, que o governo apresente essas informações num prazo de cinco dias. Questionado sobre o assunto, Queiroga garantiu que vai cumprir a determinação: “Faremos isso dentro do prazo legal".
Queiroga também anunciou que vai abrir um pregão internacional para ampliar a compra dos dos medicamentos usados no kit intubação dos pacientes de covid-19, que estão em falta em muitos locais do país por conta da ampliação dos casos graves da doença. Além disso, o ministro espera receber 1,5 milhão de kits de intubação até maio: são 1,1 milhão de kits que serão doados pela Vale do Rio Doce e outras empresas privadas; mais 80 mil que serão doados pela Espanha; e 400 mil que já foram contratados pelo governo com a indústria nacional.
O ministro disse, por sua vez, que a "fase mais crítica" dos kits de intubação está perto de ser superada, pois já é possível observar uma estabilização da demanda pelo material. “Felizmente, já assistimos a uma estabilização, embora que com um número ainda muito elevado, de óbitos e uma tendência de queda desses óbitos, que se reflete na redução de internações hospitalares já em alguns estados da Federação, o que, de certa maneira, alivia a pressão sobre o sistema de saúde", afirmou.
Ontem, o Brasil registrou estabilidade na média móvel de mortes decorrentes da covid-19. Ainda assim, o país contabilizou mais 3.472 mortes e 79.179 novos casos da doença. Com isso, o país ultrapassou a marca das 381 mil mortes e dos 14 milhões de infectados pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde.
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Saúde vai avaliar coquetel
Apesar de aprovado por unanimidade pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso emergencial do coquetel contra a covid-19 nos hospitais públicos brasileiros ainda não está certo. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, explicou que o medicamento será avaliado pela pasta antes de ser incluído no Sistema Único de Saúde (SUS).
“A Anvisa é um tipo de avaliação, é a avaliação de ingresso. A avaliação de incorporação é outro tipo. São escopos distintos”, esclareceu Queiroga. “É um medicamento novo, ainda precisamos saber mais”, disse. Segundo o ministro, mesmo com o uso emergencial aprovado pela Anvisa, o coquetel antiviral precisa passar pelo crivo da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
O ministro ressaltou que, apesar de estudos indicarem que a aplicação do coquetel na fase inicial da covid-19 reduz em 70% o risco de internação e óbito, sobretudo de pacientes com comorbidades, ainda há questionamentos sobre a eficácia do medicamento. Segundo Marcelo Queiroga, há dúvidas, por exemplo, se o coquetel pode contribuir com o desenvolvimento de novas cepas do coronavírus.
Além disso, a Conitec deve avaliar o impacto orçamentário do coquetel. O medicamento chega a custar US$ 3 mil. “Precisa haver um estudo entre o preço colocado, o resultado que é prometido e o resultado que é obtido. Se não, não tem sustentabilidade”, frisou o ministro.
A Conitec tem uma reunião marcada para o próximo dia 5 e pode levar até 180 dias para avaliar a incorporação de um medicamento no SUS. Queiroga disse, no entanto, que esses prazos podem ser encurtados.
Ele garantiu ainda que, se tiver a aprovação da Conitec, o coquetel poderá ser incorporado ao SUS bem como à rede de saúde suplementar. Contudo, a farmacêutica Roche, fabricante do coquetel, sinalizou que vai priorizar o governo federal nas vendas do medicamento.