A polícia continua a investigação da morte do menino Henry Borel, de 4 anos, que morreu em 8 de março, no Rio de Janeiro, com várias lesões pelo corpo. Durante as apurações, os agentes chegaram às histórias de outras duas crianças, filhas de ex-namoradas do padrasto do Henry, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade). São elas: uma menina, hoje com 13 anos, e um menino, de oito. A menina prestou depoimento sobre o caso há 10 dias na Delegacia da Criança e do Adolescente.
O programa Fantástico, da Tv Globo, neste domingo (4/4), exibiu uma reportagem com relatos de uma amiga da família do menino de oito anos. A mulher, que preferiu não se identificar, conta que a criança teve uma brusca mudança de comportamento quando a mãe começou a se relacionar com Jairinho.
"Eu conheci a criança desde a barriga da mãe. Eu convivia com a criança. Eu sabia da alegria da criança e depois da tristeza que a criança ficou. A mudança de comportamento da criança foi muito brusca. Ele passou a ter muito medo. Dormia e do nada acordava gritando", relata a amiga da família.
A reação negativa perante a presença do vereador é uma ação em comum entre as crianças ouvidas. No domingo, 7 de março, Henry chegou a vomitar e chorar enquanto voltava para o apartamento onde morava com a mãe, Monique Medeiros, e com o padrasto. Em uma conversa entre a mãe e o pai da criança, o engenheiro Leniel Borel, Monique chegou a desabafar sobre a resistência do filho em voltar para a casa em que vivia com o padrasto.
"Só não aguento o choro para não vir. Me desestabiliza totalmente. Fico muito, muito triste. Quando puder trazer me avisa. Vai ser uma choradeira sem fim mesmo", lamentou Monique em mensagem enviada ao ex-marido.
A mãe da criança, hoje adolescente de 13 anos, e ex-namorada do médico diz que a filha apresentava a mesma repulsa por Jairinho. Em entrevista à Rede Globo, a mulher, que não foi identificava, contou: "Eu falava que ele tava vindo, 'o tio tá vindo pra gente sair', aí ela passava mal, ela vomitava. Me agarrava. Ou então pedia à minha mãe: 'posso ficar com você, vó? Eu não quero ir, quero ficar aqui'. Na época, a mãe diz que não percebia o que estava acontecendo. A criança tinha apenas quatro anos.
A ex-namorada justifica que não havia denunciado os maus-tratos anteriormente por medo da influência do vereador.
Investigação
A reconstituição do caso foi feita na última quinta-feira (1°/4), e contou com a presença da mãe e do padrasto de Henry. Os investigadores já ouviram ao menos 17 testemunhas no inquérito, entre elas, o pai da criança, psicóloga, uma professora, ex-namoradas do vereador e médicas que atenderam o menino quando ele deu entrada no pronto-socorro no dia da morte.
O casal afirma que encontrou a criança caída da cama. Porém, a autopsia apontou como causa da morte hemorragia interna no fígado com sinais de violência. A equipe médica afirmou que Henry já chegou morto no hospital. Além do fígado, a criança teve lesões na cabeça, no rim e pulmão.
O que se sabe até agora
O fim de semana que antecedeu a morte, Henry passou com o pai, o engenheiro Leniel Borel. As câmeras de segurança mostram a hora que o pai deixa a criança no condomínio em que a mãe vive com o Dr. Jairinho, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, às 19h de domingo (7/4).
Segundo Monique, a criança chorava muito por querer continuar com o pai. Ela então o leva à padaria para distraí-lo. De volta ao apartamento, ela diz que Henry dormiu no quarto do casal, enquanto ela e o namorado assistiam a uma série na sala. Ela diz que, por diversas vezes, o filho acordou naquela noite e, por isso, eles foram deitar no quarto de hóspedes e dormiram. Monique relata que acordou por volta das 3h30 e que encontrou Henry no chão com dificuldade para respirar. Em depoimento, ela disse acreditar que a criança tenha se desequilibrado e caído da cama. Apesar de ser médico, Dr. Jairinho não tentou fazer o procedimento de ressuscitação da criança. Em depoimento, ele disse que a última vez que tinha feito o procedimento tinha sido em um boneco na faculdade.
O casal levou a criança para o Hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, e Monique ligou para o pai de Henry relatando o ocorrido. Os médicos orientaram Leniel a procurar a polícia, que registrou uma ocorrência na 16° Delegacia de Polícia.
O laudo da morte apontou hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente. A perícia encontrou múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores; infiltração hemorrágica na região frontal do crânio, na região parietal direita e occipital (na parte da frente, lateral e posterior da cabeça); edemas no encéfalo; grande quantidade de sangue no abdome; contusão no rim, à direita; trauma com contusão pulmonar; laceração hepática (no fígado) e hemorragia retroperitoneal.
Depoimentos diferentes
A empregada doméstica de Monique deu uma versão diferente dos fatos narrados pela mãe da criança em depoimento à polícia. A mãe havia afirmado que a empregada não sabia da morte de Henry e, por isso, havia limpado o apartamento, prejudicando o trabalho da perícia. Já a funcionária disse que foi avisada da morte da criança no dia em que foi trabalhar.
Segundo o UOL, Jairinho tentou liberar o corpo de Henry de forma mais rápida sem que ele fosse levado ao Instituto Médico Legal (IML). Apesar das tentativas, os pedidos foram negados devido à gravidade das lesões na criança.
Mandados de busca e apreensão
Em 26 de março, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em quatro endereços: na casa da família da mãe de Henry, em Bangu; na casa do padrasto, na Barra da Tijuca; na casa do pai de Jairinho, o ex-deputado estadual Coronel Jairo, em Bangu; e na casa do pai de Henry, no Recreio. Na operação, 11 celulares e computadores de Monique, Jairinho e Leniel foram apreendidos. Segundo o G1, um desses celulares teve as mensagens apagadas e a polícia tenta recuperá-las.
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