Em um claro gesto de aproximação com as áreas médica e acadêmica, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, passou o dia de ontem em agenda externa, visitando o Instituto do Coração (Incor), o Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Isso não impediu, porém, que ele fosse hostilizado pelos estudantes, durante todo o tempo em que permaneceu na instituição. Ainda assim, adotou uma postura conciliadora: disse estar alinhado à ciência e “entusiasmado” para trabalhar por um Brasil melhor.
“É necessário a união de todos, com base na ciência, com base no humanismo, para que consigamos superar essas dificuldades. O compromisso do estado brasileiro com a saúde e a educação é constitucional e é por meio delas que nós vamos fortalecer o nosso SUS para levar políticas públicas que tenham concretude para ajudar a nossa sociedade”, exortou Queiroga.
Acompanhando Queiroga, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, classificou a agenda de diálogo com médicos e professores como um “momento de muita lucidez”. “Estamos dizendo que, para o governo federal, para o governo do presidente Bolsonaro, a academia tem valor”, ressaltou.
Ainda assim, a comitiva foi cercada por estudantes com gritos e cartazes nos quais se liam “300 mil é genocídio” e “mais vacinas e menos cloroquina”. Em manifesto direcionado à Queiroga, o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina da USP questionou a postura da nova administração. “O governo federal apresentou até o presente momento prioridades equivocadas, e, por vezes, perversas, resultando em absoluta ineficácia de gestão da crise, com consequências catastróficas para a população”, diz o texto.
Em paralelo, o ministro começou a compor sua equipe (veja os perfis ao lado). Indicou para a elaboração de protocolos de combate à pandemia o médico Carlos Roberto de Carvalho; para a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES) o também médico Sérgio Okane; e para a secretaria-executiva do ministério Rodrigo Castro, servidor de carreira do governo federal. (BL e MEC)
Os primeiros da equipe
Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho
Professor da USP e diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração, coordenará o grupo sobre protocolos de combate à covid-19. É um dos maiores críticos do uso da cloroquina no tratamento contra o novo coronavírus.
Sérgio Okane
Comandará a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, do Ministério da Saúde. É diretor-executivo do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo desde 2018, e ortopedista formado pela USP com especialização em cirurgia da mão.
Rodrigo Castro
É funcionário de carreira do Ministério da Economia e ocupará a secretaria-executiva, segundo cargo em importância do ministério. Substitui o coronel da reserva do Exército Élcio Franco, que ficou conhecido por usar, na lapela do paletó, com o broche da pasta, outro com um crânio transpassado por uma espada, que remetia às forças especiais da Arma à qual serviu.