O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou nesta quarta-feira (24/3), que não há medicamentos com eficácia comprovada contra a covid-19. Em sua primeira coletiva de imprensa, ele foi questionado sobre um protocolo do ministério que indica o uso de cloroquina contra a doença, algo que não é comprovado cientificamente. “A minha opinião é que temos que olhar para frente e buscar o que existe de comprovado, e é isso que o Ministério da Saúde vai fazer”, afirmou.
Por outro lado, o cardiologista declarou não ter conhecimento de "nenhum protocolo ou diretriz terapêutica no Ministério da Saúde ratificando o uso de medicações". “Os protocolos clínicos e as diretrizes terapêuticas são instruídas segundo regras que estão postas na lei orgânica da saúde. Então, no que há de meu conhecimento, não há nenhum protocolo ou diretriz terapêutica no Ministério da Saúde ratificando o uso de medicações. O que há, no caso dessa doença, é uma doença que não tem tratamento específico para bloquear a replicação viral”, afirmou.
A publicação da indicação do uso de cloroquina e hidroxicloroquina, no entanto, foi o motivador central para a saída do ex-ministro Nelson Teich da pasta, que se recusou a compactuar com o documento no ano passado. O cumprimento da ordem do presidente Jair Bolsonaro veio por meio do antecessor de Queiroga, o general Eduardo Pazuello, que, à época, ainda ocupava o cargo de forma interina.
Em maio do ano passado, o ministério publicou um protocolo com orientações para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da covid-19, que incluem cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina. Segundo o próprio documento da pasta, o protocolo foi publicado “com o objetivo de ampliar o acesso dos pacientes a tratamento medicamentoso no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde)”. O referido protocolo foi substituído por outro em agosto, com a mesma indicação.
O novo ministro da Saúde foi enfático ao dizer que "estudos que têm sido realizados, com metodologia científica própria, não mostraram eficácia, segundo a própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) atesta".
A fala está em consonância com a própria mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro que, mais cedo, após encontro de lideranças dos poderes com o novo ministro, admitiu que "não temos ainda remédio" contra a covid-19. Por inúmeras vezes, o mandatário defendeu o uso de hidroxicloroquina, ostentando caixas do medicamento enquanto realizava pronunciamentos para a população brasileira.
Por outro lado, o ministro evitou usar palavras que batessem de frente com o posicionamento anterior do mandatário do país e se limitou a dizer que o conhecimento científico é dinâmico, citando que, no início da pandemia, a indicação era de que uma pessoa doente só deveria ir ao hospital em caso de falta de ar, quando hoje a indicação é que com qualquer sintoma, a pessoa deve se deslocar a uma unidade de Saúde. “A ciência evoluiu e vimos que tem que atender o paciente precocemente”, pontuou.
Ainda sobre isso, Queiroga ressaltou que o médico tem autonomia para receitar um medicamento sem evidência científica comprovada contra aquela doença. "É relação médico paciente e caso a caso tem que ser decidido", disse.
Ciência
Neste sentido, a condução de uma gestão baseada na ciência foi destacada durante o pronunciamento, bem como a importância de valorizar os pesquisadores e as equipes de saúde. "O ministério é a casa de todos os profissionais da saúde, e nós os acolhemos com entusiasmo".
Além disso, Queiroga frisou a necessidade de trabalhar junto às instituições do setor. "Várias ações precisam ser complementadas. Uma delas é a parceria com as instituições científicas, com as sociedades científicas, com os conselhos federais de Medicina, de Enfermagem, de Fisioterapia e dos demais profissionais de saúde".
O quarto ministro da Saúde de Bolsonaro anunciou a criação de uma secretaria especial para o combate à pandemia da covid-19, na qual haverá um núcleo técnico, coordenado pelo professor titular da Universidade de São Paulo Carlos Carvalho, para abordar protocolos assistenciais da covid-19. A secretaria será responsável, por exemplo, por definir quando um paciente precisa ser internado, quando é necessário reposição de oxigênio, quando se deve usar anticoagulante, entre outros pontos.