SAÚDE

Com covid na casa das 2 mil mortes, os estoques de oxigênio são preocupação

Nas últimas 24 horas, país registrou 1.997 fatalidades e 76.178 novos casos, totalizando 277.102 vidas perdidas e 11.439.558 de infectados. Acumulado de óbitos da semana epidemiológica foi o maior da história da pandemia: 12.777, com aumento de 26,4% nos registros

Um ano após o Brasil registrar as primeiras mortes por covid-19, o país tem recorde de vidas perdidas. O acumulado de óbitos desta semana epidemiológica foi o maior da história da pandemia: 12.777 brasileiros perderam a vida para o novo coronavírus, um assustador e expressivo incremento de 26,4% em relação ao acumulado semanal anterior. Somente ontem, foram acrescentadas 1.997 fatalidades após três dias consecutivos com mais de dois mil óbitos em 24 horas. E não há previsão de melhoras para os próximos dias. Isso porque o somatório de casos de covid-19 nos últimos sete dias também superou o da semana anterior, que já era recorde de novos positivos para a doença.

O aumento de 18,7% na média de casos em relação à semana passada é um indicativo de que essa escalada de infecções resultará em mais mortes. As projeções do Portal Covid-19 Brasil, iniciativa formada por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e de Brasília (UnB), estimam que o Brasil alcance os 300 mil mortos pelo novo coronavírus até 22 de março.

Na comparação mundial, o Brasil também se destaca negativamente. Apesar de ter menos de 3% da população global, acumula 9,5% dos casos e 10,3% das mortes pela covid-19.

A situação é ainda mais crítica ao observar o iminente colapso do sistema de saúde, tanto público quanto privado. Em São Paulo, estado com maior número de perdas, a taxa de ocupação dos leitos de UTI estava em 87,6%, segundo boletim da Secretaria de Saúde atualizado na tarde de ontem. O estado registrou 434 mortes e 15.344 novos casos nas últimas 24 horas.

De acordo com o último boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 20 das 27 unidades federativas registravam taxas de ocupação de UTIs acima de 80%. Diante da indicação de sobrecarga e colapso de sistemas de saúde, os pesquisadores reforçam a necessidade de ampliar e fortalecer as medidas de distanciamento, uso de máscaras e higienização das mãos. “Além disso, é necessário o reforço da atenção primária e das ações de vigilância, que incluem a testagem oportuna de casos suspeitos e seus contatos”, afirmam.

Em meio aos movimentos de lockdown adotados por estados e municípios, o governo federal liberou esta semana uma portaria para financiar mais 3,9 mil leitos em municípios de 21 estados. São R$ 188,2 milhões para manter os equipamentos e equipes funcionando por 90 dias.

Estados

Não há nenhum estado brasileiro com menos de mil mortes pela doença. Três deles superam a marca de 20 mil perdas desde o início da pandemia: São Paulo (63.965), Rio de Janeiro (34.304) e Minas Gerais (20.506). A triste contagem segue com Rio Grande do Sul (14.885), Paraná (13.492), Bahia (13.159), Ceará (12.196), Amazonas (11.516), Pernambuco (11.357), Goiás (9.537), Pará (9.290), Santa Catarina (8.615), Espírito Santo (6.706), Mato Grosso (6.219), Maranhão (5.469), Distrito Federal (5.097), Paraíba (4.896), Rio Grande do Norte (3.880), Piauí (3.606), Mato Grosso do Sul (3.584), Rondônia (3.346), Alagoas (3.182), Sergipe (3.105), Tocantins (1.660), Roraima (1.232), Amapá (1.181) e Acre (1.117).

Memória

Óbito nº 1

A primeira morte em decorrência do novo coronavírus confirmada no Brasil ocorreu em 12 de março de 2020, mas o registro foi atualizado somente em junho daquele ano. Até então, acreditava-se que o óbito número 1 tinha ocorrido em 16 de março. Com as atualizações, descobriu-se, ainda, meses depois, que outras duas pessoas morreram na mesma data, em 16 de março, e outra em 15 de março. O primeiro caso de covid-19 no país foi anunciado semanas antes, em 26 de fevereiro de 2020.

De olho no oxigênio

Em meio a explosão de internações por covid-19 no Brasil e o histórico da tragédia em Manaus, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu que as empresas fabricantes do oxigênio medicinal devem manter o órgão informado sobre os estoques desse item, importante para pacientes internados com o novo coronavírus.

Publicado pela Anvisa em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) de ontem, o edital estabelece que, semanalmente, essas empresas precisam repassar informações sobre a capacidade de fabricação, envase e distribuição, estoques disponíveis e quantidade demandada pelo setor público e privado, considerando os escopos de atuação de cada uma. A orientação vale para fabricantes, envasadoras e distribuidoras do equipamento, nas formas líquida e de gás.

Segundo a agência, a medida visa minimizar o risco de desabastecimento do produto. Com isso, informou a Anvisa, o Ministério da Saúde poderá ter previsibilidade sobre o abastecimento de mercado, permitindo a adoção, em tempo hábil, das medidas necessárias à garantia de fornecimento do oxigênio medicinal.

Na parede

A capital do Amazonas, Manaus, foi palco de um grande colapso pela falta de oxigênio no início do ano. O governo federal enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF) um inquérito que apura se o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi omisso no enfrentamento da pandemia na localidade. Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal em fevereiro para explicar a sua atuação na crise, na qual dezenas de pacientes morreram asfixiados em razão do desabastecimento de oxigênio.

Na oitiva, o ministro da Saúde disse que não soube do problema no fornecimento de oxigênio na capital no dia 8 de janeiro, diferentemente do que a Advocacia-Geral da União (AGU) havia informado ao STF.

Segundo a Anvisa, a coleta de informações sobre o estoque de oxigênio acontecerá pelos próximos 120 dias, a contar da data de publicação do edital, e os dados, de caráter confidencial, deverão ser apresentados pelas empresas para cada um de seus estabelecimentos. O envio desses números deverá ocorrer todas as quartas-feiras, e o primeiro precisará trazer os dados dos últimos 60 dias.