Brasil passa os EUA e lidera mortes diárias

Número de óbitos é o maior coletado pelo painel da covid-19 do Conass e chega a 1.972. A média móvel está em 1.573, em marcha de subida. Por causa do descontrole, presidentes da Câmara e do Senado cobram do ministro da Saúde respostas rápidas sobre a vacinação

O Brasil teve 1.972 mortes causadas pela covid-19, entre segunda-feira e ontem, e assumiu o primeiro lugar no planeta em vidas perdidas, num espaço de 24 horas, para o novo coronavírus, superando os Estados Unidos — que, segundo o The Washington Post, foi de 1.853 óbitos no mesmo período. Trata-se no maior número coletado pelo painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), cujos números são reproduzidos pelo Ministério da Saúde. Ao todo, o Brasil chegou a 268.370 mortes. A média móvel de fatalidades está em 1.573 e em marcha de subida .

Os casos de infecção somam 11.112.429 pessoas, sendo que 70.764 contraíram o vírus nas últimas 24 horas. São Paulo ainda é o estado da Federação que apresenta os piores índices: 62.101 mortes e 2.134.020 infectados. O Distrito Federal tem 5.002 óbitos e 309.547 casos, na soma geral.

Por causa dos números crescentes, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobraram do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informações, em 24 horas, sobre o calendário de vacinação contra a covid-19. Além disso, os chefes das duas Casas do Legislativo querem ter atualizações sobre a produção de imunizantes contratados para proteger a população. Eles enviaram um ofício ao general pedindo respostas em “caráter de urgência”.

Calendário
A pressão ocorre diante do avanço da doença no Brasil e do registro de novos casos de nova cepa do novo coronavírus. Estados e municípios voltaram a decretar medidas de isolamento, como fechamento de comércios e toque de recolher. As ações foram criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou a antecipação do cronograma de doses da vacina produzidas pela Pfizer. Agora, a cúpula do Congresso quer saber de Pazuello qual é o calendário atualizado de vacinação.

“Considerando a urgência que nos impõe a pandemia ocasionada pela disseminação do vírus SARS-CoV-2 e a crescente taxa de óbitos por dia em decorrência da covid-19, solicitamos a presteza de V. Exa. no sentido de encaminhar as informações acima requeridas, no prazo de 24 horas, a fim de que as Casas do Congresso Nacional possam adotar as providências”, diz o ofício ao ministro.

No último dia 4, o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, apresentou um cronograma no Senado prevendo a entrega de 414.991.800 de doses em 2021, incluindo as compras que o Ministério da Saúde ainda vai realizar no futuro, além de 161 milhões de doses em tratativas com laboratórios. Pacheco e Lira questionaram o ministro se essa estimativa está mantida.

O ofício da cúpula do Congresso também questiona Pazuello sobre a produção nacional de vacinas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Instituto Butantan. Os presidentes da Câmara e do Senado perguntaram, ainda, sobre a aquisição de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), o princípio ativo das vacinas e o risco de falta desse produto. A escassez da matéria-prima impacta na entrega de doses pelos laboratórios.

Lira tenta ponte com a China

O presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu abrir um canal de direto com a China para pedir “um olhar amigo, humano, solidário” pela vacinação. Em carta ao embaixador no Brasil, Yang Wanming, lembrou que “o governo não é apenas o Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário” e destacou que as relações entre as nações “nunca foram nem poderão ser afetadas pelas circunstâncias, pelas ideologias, pelos individualismos”. Ao longo da gestão Bolsonaro, governo, filhos do presidente e parlamentares bolsonaristas ofenderam autoridades de Pequim e dificultaram o diálogo, mesmo depois de o Brasil passar a depender e de vacinas e matérias-primas chinesas. “Os interesses permanentes dessas duas grandes nações nunca foram nem poderão ser afetados pelas circunstâncias, pelas ideologias, pelos individualismos”, destacou.

SC pede kit intubação ao ministério

A Secretaria de Saúde de Santa Catarina solicitou ao Ministério da Saúde envio de medicamentos do chamado kit intubação, que inclui lidocaína, atracúrio, propofol 1%, midazolam, morfina, dexmedetomidina, haloperidol, entre outros, essenciais para o tratamento de pacientes graves da covid-19. O comunicado à pasta foi feito em 23 de fevereiro, quando o estado relatou a falta de medicamentos.

A escassez de insumos vem sendo reportada por hospitais catarinenses desde a segunda quinzena de fevereiro, quando a ocupação de leitos aumentou até chegar ao limite da capacidade. “O uso por bloqueadores neuromusculares (usados para intubação de pacientes) aumentou 2.000% em Xanxerê”, disse Neusa Luiz, presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas de Santa Catarina e diretora do Hospital Regional São Paulo, em Xanxerê, no oeste catarinense.

O Hospital Florianópolis, referência para tratamento da covid-19, é uma das unidades que relatou o risco de desabastecimento dos remédios que compõem o kit intubação. O prefeito de Brusque, em solicitação enviada no dia 25 de fevereiro, disse que a necessidade pelos medicamentos é uma “demanda crucial”.

A crise gerada por um novo pico da pandemia em Santa Catarina parece não dar sinais de arrefecer. O número de pacientes na fila de espera por uma UTI tem aumentado diariamente há duas semanas. Segundo levantamento feito pelo painel covi-19 do Conselho Nacional dos Secretáriosa de Saúde, Santa Catarina teve 108 mortos de segunda-feira para ontem, totalizando 8.170 óbitos.