COVID-19

Brasil enfrenta fim de semana mais letal desde o início da pandemia

Em meio à escalada da doença, número de mortes no país em 48 horas chegou a 3.728. Entre a segunda-feira (15) e o último domingo (21), o Brasil teve um aumento de 23% nas mortes por covid-19, com 15.813 vítimas da doença

Fernanda Strickland
Gabriela Bernardes*
postado em 22/03/2021 18:12 / atualizado em 22/03/2021 18:15
 (crédito: Breno Esaki/SES-DF)
(crédito: Breno Esaki/SES-DF)

O Brasil é o segundo país no mundo com mais mortos e infectados por covid-19, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Entre sábado (20/3) e domingo (21), o país enfrentou o pior final de semana desde o início da pandemia, com 3.728 óbitos por covid-19 em 48 horas. No acumulado, o Brasil contabiliza 294.042 vítimas. As medidas restritivas só aumentam ante à falta de vacinação.

A última semana também foi a mais letal da pandemia. Entre a segunda-feira (15) e o último domingo (21), o Brasil teve um aumento de 23% nas mortes por covid-19, com 15.813 vítimas da doença. Na semana passada, nos sete dias, entre 8 e 14 de março, haviam sido registrados 12.818 óbitos.

Segundo a infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não só no Brasil mas no mundo todo se observam várias situações adversas que se repetem e se reiniciam em vários lugares, países e continentes. "Observamos que existem novas cepas, que são 3 cepas diferentes, uma em Manaus, outra na Grã-Bretanha e outra na África do Sul. Com essas cepas houve uma reativação de novas reinfecções e novos casos, e aparentemente elas são mais transmissíveis", explica.

Por outro lado, destaca, as pessoas estão com mais dificuldades de atender e seguir os protocolos. "Existem também as próprias dificuldades econômicas, principalmente voltadas em áreas com desigualdades financeiras, assim como é na América do Sul, incluindo o Brasil".

Para Sylvia, se não houver uma maior restrição de pessoas e o uso dos elementos de medidas para barreira como o uso da máscara de forma correta, a higiene das mãos com água e sabão, complementada com álcool em gel, distanciamento físico de 1,5m a 2m, a tendência é piorar. “É importante lembrar que as vacinas não garantem totalmente a imunidade até que exista mais de 60% de pessoas vacinadas naquele local. Por isso que, após a vacinação, vamos ter que usar máscaras e fazer todos os protocolos por algum tempo”, esclarece.

Marcelo Simão Ferreira, professor titular de infectologia da Universidade Federal de Uberlândia e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), avalia que a situação é caótica. “Eu acho que não precisava ter chegado a esse ponto, mas hoje a situação é caótica e com grande tendência a piorar. Porque não vemos nenhuma medida nesse momento em que nós estamos com mais de 90% da UTI de todo país ocupadas, não vejo uma solução a curto prazo”.

Distanciamento

Para o especialista, a situação vai perdurar porque não se irá fazer um lockdown nacional, como na Itália, que decretou na última quarta-feira (17), que 70% do país fique fechado. “O ministro (da Saúde, Marcelo Queiroga) que entrou já disse que não haverá lookdown. A única maneira de frear isso agudamente é o lookdown. Colocando as pessoas dentro de casa, senão não vai adiantar. Porém, isso não vai acontecer. Na verdade, SP está em lockdown, mas só no pé da palavra, pois as pessoas saem, estão aglomeradas”, afirma.

O professor explica que, com a nova cepa, o distanciamento social é a única medida capaz de frear a contaminação. “Porque não temos vacinas suficientes para todos. E ela é aquele negócio, não funciona de imediato, demora para ter a segunda dose para ter a imunidade. Vamos continuar nessa situação por umas 6 a 8 semanas. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) também já falou isso”.

Marcelo destaca, contudo, que a situação poderia ter sido evitada. “Se o Ministério da Saúde tivesse comprado a vacina da Pfizer em agosto, para começar a vacinar em dezembro, hoje não estaríamos assim. Provavelmente já teríamos umas 30 milhões de pessoas vacinadas”, comenta.

“Isso sem dúvida alguma não faria a curva subir tanto. Nos Estados Unidos, por exemplo, já vacinaram umas 30 milhões de pessoas, e a taxa de contaminados caiu. E isso é o que precisa ser feito no Brasil. Se eu vacinar 1/3 da população, o índice desce. Esse foi o maior erro do governo (brasileiro). A situação no momento é extremamente delicada, vejo que pode piorar nas próximas semanas, mas eu desejo estar errado nisso”, lamenta.

Em alta

Apresentam alta de casos: Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, estão em alta de casos. Já as piores médias móveis de óbitos são do Amapá, Distrito Federal, Sergipe e Tocantins com 116%, 133%, 143% e 103%, respectivamente.

Os estados do Acre, Maranhão e Rondônia estão em estabilidade. Em queda, estão os estados de Amazonas e Roraima.

*Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro

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