O descontrole da pandemia de covid-19 está avassalador. Um dia após o Brasil ultrapassar os Estados Unidos e se tornar a nação onde há mais mortes diárias ocasionadas pelo novo coronavírus, o país bateu novo recorde. Nas últimas 24 horas, a doença matou 2.286 brasileiros, segundo números divulgados pelo Ministério da Saúde. O número de novos casos se aproximou da casa dos 80 mil. Ontem, 79.876 pessoas testaram positivo para o vírus.
De acordo com o Ministério da Saúde, já são 270.656 vidas perdidas para a doença e 11.202.305 de infectados desde o início da pandemia, em fevereiro do ano passado. O recorde de mortes havia sido alcançado no último dia 9, quando o Brasil registrou 1.972 óbitos por covid-19 em 24 horas. Até então, o dia mais letal da covid havia sido no dia 3 de março, quando1.910 pessoas sucumbiram à doença. Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de casos já está em 69.096, enquanto a de mortes é de 1.626 – maior do mundo na atualidade. Foram 10.104 mortes pela doença na última semana e quase 500 mil casos entre os dias 28 de fevereiro e ontem.
Ainda mais assustador é a perspectiva que se apresenta. Para o presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaude), Breno Moreira, o pior ainda está por vir. “É possível pensar em números cada vez piores. Estamos enfrentando um colapso do sistema de saúde, todos os estados sem conseguir atender à demanda e o resultado dessa situação são novos óbitos. Os pacientes que não conseguiram atendimento ontem e não vão conseguir hoje são os que morrem daqui a15 a 20 dias. Infelizmente, esse é o cenário que a gente enfrenta atualmente”, analisa.
Ocupação nas UTIs
Em todo o país, a taxa de ocupação dos leitos de UTI (unidade de tratamento intensivo) já está acima dos 80%. De acordo com boletim extraordinário publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem, das 27 capitais do país, 25 estão com taxas de ocupação de UTI para adultos iguais ou superiores a 80%. Dessas, 15 já registram ocupação acima de 90%. O Distrito Federal, ontem, anunciou que não há mais leitos disponíveis para atender pacientes com casos agudos da covid-19, a taxa de ocupação chegou a 100% e 270 pessoas esperavam por atendimento. Em São Paulo há pessoas morrendo na fila de espera.
A Fiocruz voltou a destacar a importância do isolamento social do uso de máscaras e de higienização das mãos, além de pedir pelo lockdown em regiões onde os resultados da pandemia são mais severos. “Nos municípios e estados que já se encontram próximos ou em situação de colapso, a análise destaca a necessidade de adoção de medidas de supressão mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais. Além disso, é necessário o reforço da atenção primária e das ações de vigilância, que incluem a testagem oportuna de casos suspeitos e seus contatos”, informou a Fundação.
Apesar dos números avassaladores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o “Brasil é exemplo para outros países”, durante cerimônia de sanção de medida provisória na tarde de ontem. “O governo federal não poupou esforços e não poupou recursos para atender estados e municípios. Foi uma campanha que permeou os quatro cantos do Brasil”, disse o presidente.
*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Previsão de remessas diminui
Em meio ao pior momento da pandemia no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro sancionou leis que facilitam a compra de vacinas contra o novo coronavírus. Durante a cerimônia, no Salão Oeste do Palácio do Planalto, o presidente elencou, ainda, as medidas adotadas no combate à pandemia.
Bolsonaro sancionou o Projeto de Lei (PL) 534/2021, que facilita a compra de vacinas por União, estados e municipais. O texto ainda prevê a compra de doses pela iniciativa privada, desde que toda a quantidade seja doada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, a Medida Provisória (MP) 1.026/2021, que também recebeu o aval do presidente, permite que estados e municípios possam comprar, sem licitação, vacinas e seus insumos, contratar os serviços necessários, assim como a compra de vacinas antes de qualquer autorização da Anvisa. O texto ainda estipula um prazo de sete dias úteis para que a agência chegue a uma conclusão sobre a aprovação temporária do imunizante. Este prazo, porém, pode ser estendido por até 30 dias se não houver relatório técnico do imunizante de agência internacional reconhecida no Brasil.
A MP, agora transformada em lei, também inclui novas autoridades sanitárias estrangeiras que podem ser usadas como base para autorização temporária de vacinas.
Esta semana, o governo brasileiro pediu ajuda à Embaixada da China para conseguir 30 milhões da vacina BBIBP-Corv, produzida pelo Sinopharm. O pedido, que partiu de uma preocupação em ver o Plano Nacional de Imunização ser interrompido pela falta de doses, foi feito em uma carta enviada ao embaixador do país no Brasil. De acordo com a empresa, a vacina tem 79,4% de eficácia.
O governo confirmou ontem drástica redução na previsão de compra de imunizantes. Em fevereiro, o Ministério da Saúde anunciou 46 milhões de doses a serem distribuídas em março. Na semana passada, a expecativa caiu para 38 milhões. No dia 6, a quantidade prevista diminuiu para 30 milhões. Ontem, o ministro Eduardo Pazuello anunciou um estoque ainda menor.
“Nós temos garantidas para março entre 22 milhões e 25 milhões de doses, podendo chegar até 38 milhões de doses”, disse o chefe da pasta da Saúde. “Doses importadas, contratadas e empenhadas para laboratórios internacionais, nós temos muitas incertezas de recebê-las. Não é simples como é receber do Butantan ou da Fiocruz”, acrescentou. (CS)
Estados propõem Pacto pela Vida
Governadores de 22 unidades da Federação divulgaram uma proposta de Pacto Nacional pela Vida e pela Saúde. No documento, os chefes dos executivos estaduais defendem três pilares para o enfrentamento da crise sanitária: expansão da vacinação, apoio a medidas restritivas e apoio aos estados para manutenção e ampliação de leitos. Os governadores sugerem, ainda, a criação de um comitê gestor para conduzir as ações referentes ao enfrentamento da pandemia. O grupo, de acordo com o que propõe no pacto, teria a participação de membros dos Três Poderes e de todos os níveis da Federação, além da assessoria de uma comissão de especialistas. Os governadores pediram que o Congresso assuma a linha de frente da coordenação da crise de covid-19, alegando “omissão e negação” por parte do
presidente Jair Bolsonaro.