Com 4.548 casos confirmados e 64 mortes por COVID-19, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Paracatu, na Região Noroeste de Minas, trabalha com uum método sem comprovação científica para combater a pandemia do novo coronavírus: o chamado “tratamento precoce”. Desde a última semana, a prefeitura permite que o hospital municipal “recomende fortemente” a medida.
“Venho por meio deste recomendar fortemente, segundo protocolo em anexo, o uso das medicações propostas no tratamento precoce contra a COVID-19 do tipo off label”, diz trecho de uma nota assinada pelo diretor-técnico interino do Hospital Municipal de Paracatu, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, datada de 25 de fevereiro de 2021 e encaminhada aos médicos do centro de saúde.
A reportagem do Estado de Minas procurou o vice-prefeito de Paracatu, Gabriel Ferrão (DEM), que estava na manhã desta quarta-feira (3/3) em evento na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte. Inicialmente, ao ser abordado, Ferrão disse desconhecer a informação.
Depois, o vice-prefeito entrou em contradição: primeiro, disse, sem apresentar provas, que o tratamento precoce tem ajudado no combate à pandemia em alguns locais. Posteriormente, questionado sobre a inconsistência da medida, afirmou que a cidade tem adotado ações que sejam comprovadas cientificamente ou não.
“Desde o início da pandemia, nós não estamos medindo esforços contra a COVID-19. Estamos inaugurando leitos, estamos adotando várias medidas de restrição e nós vimos que, em alguns lugares, esse tratamento precoce tem ajudado ao combate do coronavírus. Então, devido a essas experiências de outros locais que adotaram essa medida e tiveram redução gradativamente no contágio dos seus munícipes, é que nós adotamos também essa medida”, disse, a princípio.
“Nós estamos vendo que várias medidas estão sendo estudadas e estão comprovando que, realmente, não têm essa devida eficácia. E nós, na verdade, não sabemos como esse vírus realmente funciona. Sabemos que o distanciamento social salva, o uso de máscaras salva, evitar aglomerações salva. Essas medidas que são simples e eficazes, que realmente que são comprovadas que salvam. Agora, nós estamos adotando todas as medidas para salvar vidas, seja se esteja comprovada cientificamente ou não”, completou.
O tratamento precoce contra covid-19 não tem comprovação científica, conforme consta em documento emitido em 9 de dezembro de 2020 pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). A entidade também descarta o uso de qualquer medicamento para tratar o novo coronavírus.
“A SBI não recomenda tratamento farmacológico precoce para covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a covid-19”, diz trecho da nota da SBI.
Combate ao coronavírus
A cidade está em lockdown desde o dia 1º de março por conta do esgotamento de leitos de UTI no Hospital Municipal. Entre as medidas impostas pela prefeitura, estão a proibição da venda de bebidas alcoólicas, o fechamento de todo o comércio com exceção dos serviços essenciais, e o rodízio de clientes nos supermercados: pessoas com CPF terminado em números pares, em dias pares; e pessoas com CPF terminado em número impar, em dias ímpares.
Segundo dados divulgados em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Paracatu conta com 93.862 habitantes. Ao todo, de acordo com a SES-MG, 1.874 foram vacinados contra o novo coronavírus, sendo que 718 receberam a segunda dose do imunizante. Até o momento, as vacinas se colocam como a medida mais eficaz contra a propagação da COVID-19.
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