O Ministério da Saúde indicou nesta quinta-feira (28/1) que não vai alterar o tempo entre as aplicações da primeira e segunda doses da vacina CoronaVac para que os governos possam vacinar mais pessoas neste primeiro momento, sem reservar 50% das doses para a segunda aplicação. A orientação na bula da vacina, com base nos estudos realizados, é que a segunda dose seja aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias, sendo que a melhor resposta imune é alcançada quando a dose é aplicada entre 21 e 28 dias.
Na última quarta-feira (27), o governo de São Paulo sugeriu ampliar o tempo entre a aplicação das duas doses para 43 dias. Para isso, eles precisam que o governo federal mude a orientação no Programa Nacional de Imunização (PNI). O governador João Doria (PSDB) disse que enviaria ainda na quarta um pedido para a análise do Ministério da Saúde e para o coordenador do PNI.
O Ministério da Saúde diz estar apurando o recebimento do pedido feito pelo governo de São Paulo com a área técnica responsável. No entanto, ressaltou que, até o momento, não há evidências científicas de que a ampliação desse intervalo irá oferecer a proteção necessária à população.
“É importante ressaltar que as recomendações têm como base os estudos clínicos da fase 3 do imunizante, que indicam que o intervalo entre a primeira e a segunda doses deve ser de duas a quatro semanas”, informou a pasta quando questionada pelo Correio sobre a possibilidade de uma mudança na orientação da aplicação da CoronaVac.
O Ministério da Saúde alegou que desde 19 de janeiro alertou o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) que todos os estados “devem cumprir as diretrizes para que o país tenha doses suficiente para imunizar, com as duas doses previstas, este primeiro ciclo da campanha de vacinação”.
Problema ético
Ainda na quarta-feira, contrariando orientações do próprio Butantan, o diretor Dimas Covas disse que não haveria justificativa ética para guardar 50% das doses para a segunda dose da primeira parcela da população vacinada, frente ao aumento de casos e de mortes. “Se nós temos a vacina na prateleira, temos do outro lado pessoas morrendo, então, precisamos usar essas vacinas. Não tem justificativa ética guardarmos essas vacinas. É melhor usarmos essa vacina na sua totalidade e, lá, [após] 28, 30, 32, 33, 40 dias, nós providenciarmos a segunda dose”, sugeriu.
Covas afirmou que a primeira recomendação é de um intervalo de até 28 dias, mas que existe uma segunda recomendação que prevê que o prazo pode ser estendido por até 15 dias, sem problema algum. “No estudo aconteceu alguns casos que tiveram essa vacinação e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica”, afirmou.
Um nota publicada no site do Butantan no último dia 22, entretanto, diz que o estudo realizado pelo Butantan para testar a eficácia da CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que “a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses — entre 21 e 28 dias”.
Anvisa
Na sexta-feira (22), o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gustavo Mendes, ressaltou que a decisão de não seguir o que está na bula pode atrapalhar a eficiência da vacina. “O risco de não seguir o recomendado em bula pode ser tanto em relação à eficácia — ou seja, se não tiver o intervalo respeitado, se não tiver uma segunda dose tomada, não atingir, não conseguir atingir os anticorpos mínimos para fazer a neutralização —, quanto ao risco de segurança também se for, de repente, uma superexposição, ou alguma questão assim”, orientou.