O vazamento de óleo ocorrido em 30 de agosto de 2019 ainda afeta a fauna e flora brasileiras, diz Alexandre Rabello, vice-almirante e diretor de gestão de projetos da Marinha. À época, o vazamento atingiu nove estados do Nordeste e dois do Sudeste (Rio de Janeiro e Espírito Santo).
“Nós, da Marinha, consideramos o que aconteceu uma agressão, pois todo derramamento de óleo no mar tem que ser comunicado. As apurações apontam para um carregamento clandestino, e o caso foi levado para a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês)”, ressalta.
O vice-almirante é o entrevistado desta quarta-feira (27/1) do CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. No programa, Rabello conta que as investigações concluíram que os supostos responsáveis operavam sem um sistema de identificação automática. “Foi um vazamento de óleo pesado, então, ele se deslocou a uns 5 a 10 metros abaixo da superfície e só foi surgir nas praias. Isso fez com que passasse despercebido para nossas patrulhas aéreas e navegacionais”.
Para Rabello o vazamento, que atingiu cerca 2,5 mil quilômetros de costa, deixou como lição a necessidade de o país estar sempre preparado. “Precisamos criar um sistema que monitore melhor a nossa área de interesse do mar e isso não podemos terceirizar, pois envolve dados sensíveis. Mas temos tecnologia e profissionais capazes de elaborar essa aplicação de monitoramento ininterrupto, algo como monitoramento por radar, por exemplo. Nesse aspecto, o Brasil está atrasado em relação a outros países”, destaca.
O vice-almirante pontua, ainda, que enquanto houver resquício de óleo grudado na vegetação ou nos animais, o impacto ambiental vai prosseguir, mesmo que em menor escala. “O óleo pesado se agarra no manguezal, gruda nos animais, e embora a mortalidade não tenha sido alta, o trabalho de retirada na época foi artesanal, manualmente as equipes tinham que realizar essa limpeza”, lembra.
Amazônia Azul
Vicente Rabello ressalta, também, que a chamada Amazônia Azul é essencial para a soberania do Brasil. “A autoridade marítima tem responsabilidade de regulamentar as atividades que acontecem nos portos, rios e mares. O termo Amazônia Azul também é geopolítico e representa justamente esses espaços marítimos dos quais o Brasil possui algum direito ou responsabilidade”.
O vice-almirante explica que a extensão marítima do território brasileiro é calculada com base na Convenção da Jamaica, e pontua que essa faixa de água possui tantas riquezas como a Amazônia Verde, e um território equivalente à floresta brasileira.
“São cerca de 5,7 milhões de quilômetros e com grande riqueza. E tudo que gera riqueza atrai a cobiça e, por isso, há necessidade de proteção e cuidado. Cerca de 90% do comércio exterior brasileiro são realizados pelo mar, assim como 80% do nosso gás natural são provenientes dos oceanos. Também, a comunicação internacional e transmissão de dados são, em 99%, feitas por cabos submarinos, o que significa que, se formos privados do uso do mar, nós não sobrevivemos como nação soberana e independente”.
Pesquisas e projetos para 2021
Além disso, Rabello revela que diversas pesquisas são desenvolvidas para mapear a fauna e flora da Amazônia Azul. “Buscamos identificar, por exemplo, as espécies de peixes e o potencial pesqueiro e autossustentável em toda a região marítima no Brasil, para saber o que temos que preservar e em quais períodos podemos realizar a pesca”.
Questionado sobre os projetos e expectativas para este ano, o vice-almirante citou a pesquisa para o monitoramento ininterrupto dos mares. “Estamos buscando o desenvolvimento do sistema de gerenciamento de identificação de radar. Pretendemos começar no Rio de Janeiro e, depois, escalar esse monitoramento por todo o território nacional”, finaliza.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro