SAÚDE

Butantan vai entregar 8,6 milhões de doses da CoronaVac com novos insumos

Governo paulista e Butantan anunciam que os 5,4 mil litros do princípio ativo para a produção do fármaco no país chegam no começo do próximo mês. Estimativa é de que, 20 dias depois, mais 8,6 milhões de doses sejam liberadas para fazer parte do Programa de Imunização

O governo de São Paulo e o Instituto Butantan anunciaram, ontem, que os 5,4 mil litros da matéria-prima necessários para continuar a produção da vacina CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, chegarão ao Brasil em 3 de fevereiro. A partir da chegada dos insumos, o laboratório paulista será capaz de produzir mais 8,6 milhões de doses do imunizante, que devem ser liberadas 20 dias após o início da fabricação, passando a integrar o Programa Nacional de Imunização (PNI).

Essas novas doses não precisarão de autorização para uso emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que o Butantan mantenha os moldes da produção conforme a última autorização. Além da remessa de 5,4 mil litros de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o diretor do Butantan, Dimas Covas, informou que o envio de outro volume de 5,6 mil litros foi discutido na reunião com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Conforme adiantou, o segundo lote está em processo avançado de liberação, mas ainda não tem data prevista para chegar ao país.

“Com esses dois lotes, totalizando 11 mil litros, nós regularizamos as nossas entregas ao Ministério da Saúde e o restante deverá vir dentro do que já está planejado até o final de abril, totalizando as 40 milhões de doses que temos contratadas até esse momento”, explicou o diretor do Butantan. O ciclo de produção das vacinas, a partir do recebimento da matéria-prima, dura aproximadamente 20 dias, mas pode ser adiantado ou atrasado, dependendo das particularidades do processo.

Covas destacou, ainda, a possibilidade de um aditamento ao contrato com o Ministério da Saúde de mais 54 milhões de doses. No entanto, para que isso se concretize, o instituto precisa que a pasta demonstre interesse, o que ainda não aconteceu.

“Na última sexta-feira, enviei um ofício solicitando essa manifestação para que nós possamos planejar essa produção. O quanto antes houver essa definição, o quanto antes iniciaremos esse planejamento”, explicou Covas, que ainda acrescentou não depender do ministério para produzir, pois pode enviar lotes produzidos para países sul-americanos.

Disputa

Mas a relação entre o Ministério da Saúde e o governo de São Paulo está longe de ser amistosa. A réplica ao anúncio antecipado de Jair Bolsonaro da chegada dos insumos até então retidos na China — e que disse ter ocorrido por causa da atuação do governo federal — foi dada, ontem, pelo governador de São Paulo, João Doria. Ele fez questão de desmentir o presidente e tentou que o embaixador do país asiático no país, Yang Wanming, endossasse suas palavras, ao trazê-lo para participar da entrevista.

O diplomata, porém, se esquivou em assumir um lado na disputa e afirmou que o atraso na exportação do IFA não teve viés político. “As vacinas são uma arma para conter a pandemia e garante a saúde do povo, e não são um instrumento político. A China está disposta a manter comunicação com governo federal e estadual”.

Doria, porém, fez questão de ressaltar que o investimento partiu inteiramente do estado e do Butantan, e que é o Palácio do Planalto quem deve a São Paulo. “Até o presente momento, nós não recebemos um único centavo do Ministério da Saúde”, expôs.

O governador garantiu que a disputa pelo protagonismo não é uma tentativa de politizar o tema. “Apesar de todas as manifestações contrárias do governo federal, todas as manifestações desairosas do presidente da República e de seus filhos em relação à China, conseguimos trazer a vacina chinesa. Ou, como gosta de dizer o presidente, a ‘vachina’ ou a ‘vacina do Doria’”, alfinetou.

O governo de São Paulo ainda emitiu uma nota afirmando que o “governo federal não teve participação na liberação de insumos chineses para a vacina do Butantan” e, pelo Twitter, Doria foi além. “Sem parasitismo dos negacionistas e oportunistas”. A defesa do Planalto foi feita pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. “Tem gente que quer holofote a todo custo. É caso de psicanálise! Hoje, será que veremos lágrimas de crocodilo de novo? A conferir”, rebateu.