Tabatinga (AM) — A desinformação em relação à vacina contra a covid-19 não fica restrita aos grandes centros urbanos, mas tem afetado a adesão nas comunidades indígenas. Na aldeia Umariaçu I, em Tabatinga (AM), escolhida para ser a primeira comunidade do Amazonas a receber a imunização, metade dos membros deixaram de comparecer ao posto de saúde no primeiro dia da campanha. As equipes de saúde que assistem aos aldeados acreditam que o receio irá cessar com o exemplo dado por aqueles que receberam a primeira dose nesta terça-feira (19/1).
“Mesmo com esse temor, os exemplos nesse primeiro dia de campanha vão ajudar bastante. É o próprio indígena falando para sua comunidade e ajudando”, diz o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Solimões, Weydson Pereira. No primeiro dia de campanha, foram aplicadas 500 das 1,2 mil doses que chegaram à comunidade.
Em outras campanhas vacinais, a despeito da difícil missão de fazer chegar os imunizantes às aldeias mais distantes, a cobertura gira em torno de 95% a 97%, afirma Pereira. No caso da covid-19, ainda está se desconstruindo a desconfiança. O próprio cacique da Umariaçu I, Dickcinei, chegou a questionar a eficácia da CoronaVac dias antes e não esteve presente na cerimônia em que houve a primeira aplicação. Após membros da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, elucidarem as dúvidas do líder, Dickcinei tomou a vacina, dando exemplo à população.
Chuva
Além da desconfiança despertada pelas falsas informações sobre a vacina contra a covid-19, a chuva no primeiro dia da campanha também fez com que parte da comunidade adiasse a ida ao posto, acredita o coordenador nacional da Sesai, Alexandre Nogueira. “Estamos trabalhando fortemente para levar informação precisa e de qualidade para que toda a população indígena, em condição de ser vacinada, possa ser. As metas vacinais estipuladas são acima de 90% e, na saúde indígena, temos ultrapassado esse percentual, à despeito das dificuldades de acesso. Nesta campanha, não será diferente”, completa.
Quem segue na missão de contribuir na imunização é o enfermeiro Elzimar Tananta, 45 anos. Da etnia kokama, o profissional foi quem aplicou a primeira dose da CoronaVac em indígenas do Alto Solimões. “Espero que, daqui para frente, consigamos juntos mudar essa realidade e continuar acreditando na vacinação, na ciência”.
Há pouco menos de um mês, em 21 de dezembro, ele perdeu a esposa, a técnica de enfermagem Telma Neres, 57, para a covid-19. Por isso, a atuação foi um momento ainda mais simbólico para Elzimar. “Se a solução tivesse chegado antes, poderia estar aplicando a dose no braço da minha esposa. Então é em nome dela e de todas as outras vítimas que hoje continuo meu trabalho, acreditando na ciência, vacinando meu povo”.
Imunização
Nesta quarta-feira (20/1), mais aldeados da Umariaçu I compareceram ao posto de saúde para receber a primeira dose. A campanha também começou na Umariaçu II. A estimativa é imunizar 35 mil indígenas em todo o Alto Solimões nos próximos 10 dias. No estado do Amazonas são 100 mil aldeados aptos a receber as doses e, em todo o Brasil, nos 34 DSEI, serão 430 mil.
Para fazer as doses chegar às comunidades indígenas e a 11 estados brasileiros, o Ministério da Saúde contou com apoio das Forças Armadas. Os voos partiram de São Paulo, onde fica o depósito central da pasta, para transportar aproximadamente 44 toneladas de carga para o Distrito Federal e para as capitais do Acre, Amapá, Amazonas, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Os demais estados terão os imunizantes transportados por meio de parcerias com empresas privadas.