PANDEMIA

Médica da Fiocruz critica 'incompetência diplomática' do Brasil com vacinas

Margareth Dalcomo lamenta a inabilidade do governo federal após receber a notícia do atraso na produção da Fiocruz, por falta de insumos. O Brasil aguarda liberação dos governos da Índia e da China para não interromper o programa de vacinação

Em meio a indefinições quanto à chegada de matéria-prima para as vacinas do Instituto Butantan e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pneumologista e pesquisadora da fundação Margareth Dalcolmo desabafou na noite de terça-feira (19/01). Ela disse que a falta de vacinas no país ocorre por “incompetência diplomática do Brasil”.

“Não há nada nesse momento que justifique, a não ser a desídia absoluta e a incompetência diplomática do Brasil, que não permita que cada um dos senhores aqui presentes e suas famílias e aqueles que vocês amam, esteja amanhã ou nos próximos meses, de acordo com o cronograma elaborado, recebendo a única solução que há para uma doença como a covid-19”, afirmou a pesquisadora, emocionada.

Dalcomo discursou durante a cerimônia do Prêmio São Sebastião de Cultura. O vídeo tem circulado pelas redes sociais. A médica disse ser “absolutamente inaceitável que nesse momento no Brasil nós tenhamos acabado de receber a notícia de que as vacinas não virão da China e que não virão da Índia”. O país está enfrentando dificuldade de importar Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima necessária para produção da vacina, da China.

A produção da CoronaVac no Brasil está comprometida porque o Instituto Butantan aguarda os insumos do laboratório chinês Sinovac, parceiro na fabricação do imunizante. A remessa está pronta na China, aguardando apenas a liberação do governo chinês. O diretor do Butantan, Dimas Covas, já frisou que a questão é burocrática.

No caso da vacina de Oxford/Astrazeneca, a Fiocruz informou ao Ministério Público Federal (MPF) que irá adiar a entrega de doses de fevereiro para março devido à indefinição quanto à chegada do IFA.

"O que justifica?"

“O que é que justifica que neste momento um país como o Brasil não tenha uma capacidade competitiva de servir, de nós cumprirmos a obrigação para qual nós fomos formados como médicos? Nós, que somos pesquisadores, que temos uma vida pública, o que é que pode justificar nesse momento que o Brasil não tenha a vacinas disponíveis para sua população? Isso é absolutamente injustificado, não há nada, nenhuma explicação, que possa justificar isso”, afirmou.

Margareth pontuou que a Fiocruz tem acordo de cooperação estabelecido ponto a ponto, desde agosto do ano passado, para obter os insumos, mas que “as gestões diplomáticas fracassaram até esse ponto”. “Então, realmente, eu acabar de saber isso, eu gostaria de compartilhar em primeira mão com os senhores porque seguramente eu vou me manifestar sobre isso em nome da minha instituição e não há nada que possa justificar”, afirmou.