PANDEMIA

Governo do AM sugere abrir valas no interior por falta de oxigênio

Orientação é citada pelo Ministério Público Estadual, que entrou com uma ação civil pública, neste sábado (16), para obrigar o Estado a enviar oxigênio para o município de Itacoatira ou "teremos a morte de pelo menos 77 pessoas simultaneamente"

O governo do Amazonas orientou uma prefeitura do interior do Estado a abrir valas para enterrar seus mortos por não ter previsão de chegada de cilindros de oxigênio em nenhuma cidade do interior. A orientação é citada pelo Ministério Público Estadual, que entrou com uma ação civil pública, neste sábado (16/1), para obrigar o Estado a enviar oxigênio para o município de Itacoatira, a 269 quilômetros de Manaus.
A Justiça já acatou o pedido. "Se o Estado não enviar o oxigênio ao hospital local de Itacoatiara-AM em quantidade suficiente, como já comprovado, teremos a morte de pelo menos 77 pessoas simultaneamente por insuficiência respiratória, devido à falta do material", afirmou o juiz Rafael Almeida Cró Brito. O prazo é de 12 horas e a multa é de R$ 20 mil por hora de descumprimento.
Segundo o MP, o secretário de Interior da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), Cássio Espírito Santo, chegou a oferecer câmeras frigoríficas ao prefeito da cidade, Mario Jorge Abrahim, orientando a abrir valas no cemitério local, uma vez que não há previsão para o fornecimento de oxigênio para o município.
A reportagem entrou em contato com o governo do Estado questionando se há planejamento para o envio de oxigênio ao interior, mas não obteve resposta. Dos 63 municípios do interior, apenas 11 têm hospitais, os outros só contam com postos de saúde.
Nenhum dos hospitais do interior tem leito de Unidade de Terapita Intensiva (UTI). De acordo com a promotora de Itacoatiara, Marcelle Arruda, neste sábado há 74 pacientes com covid-19 no Hospital José Mendes, o único da cidade, recebendo oxigênio.
"Ontem (sexta) quatro foram a óbito porque faltou oxigênio e tememos que todos possam morrer entre hoje (sábado) e amanhã (domingo) se não chegar oxigênio", disse. A demanda atual é de 150 cilindros por dia. Metade disso está sendo usada hoje, o resto está vazio.
Além de subscrever a ação civil pública, a promotora entrou neste sábado pela manhã com uma solicitação de urgência ao governo estadual frisando a iminente morte dos pacientes.
"Todas as promotorias das comarcas do interior estão entrando com ações, estamos desesperados, é urgente que parte das doações ou compra de oxigênio do governo do Estado seja para Manaus e para o interior também. Há seres humanos morrendo aqui e sem esperança alguma", disse a promotora Lilian Almeida, de Macapuru, município a 100 quilômetros de Manaus. Segundo ela, a demanda diária atual é de 160 cilindros por dia, e hoje só há 44. A expectativa é que ao longo do dia todas as promotorias locais entrem com ações semelhantes.
Diversas ações do Ministério Público do Estado já cobravam a ausência de leitos de UTI nos hospitais do interior, onde, desde o início da pandemia, são improvisadas UTIs. Pacientes de mais gravidade têm sido transferidos para a capital.
Também na ação deste sábado foi pedido que essas transferências voltem a ser feitas, especialmente agora que estão vagando leitos de pacientes de Manaus transferidos para outros Estados.
Em Parintins, município a 466 quilômetros de Manaus, a situação é parecida. Na sexta, o prefeito da cidade anunciou que na segunda-feira, 18, devem começar a chegar equipamentos da Alemanha comprados pela prefeitura para montar uma usina de oxigênio, que será feita no único hospital público da cidade, Jofre Cohen. Segundo a assessoria da prefeitura, só há oxigênio para os 80 pacientes internados até mais dois dias.