Apesar de o governo de São Paulo ter divulgado na semana passada que a eficácia da vacina CoronaVac, produzida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em casos graves e moderados é de 100%, o diretor médico de pesquisa do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, explicou, nesta terça-feira (12/1), que o dado não tem significância estatística, porque o número de infectados que precisaram de hospitalização no total é pequeno: apenas sete pessoas do grupo placebo, de um total de 4.599 voluntários.
“É um dado pequeno e ainda não tem significância estatística embora esteja demonstrando uma tendência”, indicou Palácios. Segundo o diretor, a tendência demonstrada pelo estudo é de que a vacina diminui a intensidade clínica da doença.
“Acho que nenhuma das pessoas da área biomédica ousaria fazer uma afirmação absoluta. Sempre pode ter um caso ou outro que escapa por diferentes causas. É um dado importante de entender. É um dado que tem que ser visto com cautela e, por isso, sempre colocamos isso dentro de um contexto de que há uma tendência da vacina a diminuir a intensidade clínica da doença. Esse é o dado quando a gente interpreta como conclusão que deve ser salientado. Não há uma promessa de que ninguém vai morrer se vacinar, porque nenhuma vacina pode fazer essa promessa”, completou.
Entre as conclusões apresentadas em uma apresentação está a de que o efeito da vacina “tende a aumentar conforme aumenta a intensidade da doença”. Isso ocorre porque a taxa de eficácia da vacina aumentou de acordo com a intensidade da doença. Enquanto, a eficácia em casos de infecções muito leves, que não precisam de ajuda, foi de 50,38%, a efetividade da vacina para proteger casos leves, que precisam de assistência médica, foi de 77,96% (segundo o estudo, sete pessoas haviam recebido a vacina, e outras 31, placebo).
Dessa forma, Palácio explicou que a vacina consegue controlar a pandemia através do "efeito esperado, que é a diminuição da intensidade da doença clínica". "Como conclusão, a vacina é extremamente segura. Ninguém vai virar outra coisa além de um ser humano protegido e imunizado quanto tomar a vacina", afirmou.
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Na semana passada, o governo estadual e o instituto paulista anunciaram uma eficácia de 78% para casos leves e 100% para casos graves. Os números, entretanto, são recortes do estudo. Ao observar toda a amostra, chega-se à eficácia geral, principal indicador da pesquisa e cujo número é menor.
Ainda assim, o índice atende à eficácia mínima recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 50%. A Anvisa explica que não há critério de eficácia mínimo definido em norma para aprovação da vacina, seja para uso emergencial ou para registro definitivo. Porém, a agência diz estar alinhada às discussões internacionais, que sugerem um valor mínimo de 50%.
Especialistas
O novo anúncio foi feito após pressão de especialistas, questionando que os dados divulgados não envolviam a eficácia geral da vacina, tampouco detalhes dos testes clínicos. Na entrevista coletiva ao lado do Butantan, foram convidados diversos especialistas para comentarem os estudos. O médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, Sérgio Cimerman, pontuou que "os dados podem saltar aos olhos da população e de outras pessoas como baixo, mas não o é". "Ele dá uma resposta para o gestor. É um estudo que deixa tranquilo o gestor do ponto de vista da saúde pública", afirmou.
O diretor médico de pesquisa do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, afirmou que a vacina consegue controlar a pandemia através do "efeito esperado, que é a diminuição da intensidade da doença clínica". "Como conclusão, a vacina é extremamente segura. Ninguém vai virar outra coisa além de um ser humano protegido e imunizado quanto tomar a vacina", pontuou.
De acordo com ele, o imunizante do Butantan "consegue diminuir a intensidade da doença clínica em um ambiente extremo de alta exposição e esse efeito tende a aumentar conforme aumenta a intensidade da doença". "Isso faz com que a gente consiga de fato essa pressão sobre o sistema de saúde já que as pessoas, quando adquirirem (contraírem) a covid-19, não tenham que procurar atendimento e possam ficar repousando nas suas casas", explicou.
Bióloga e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natália Pasternak, frisou que além da redução de risco de 50%, a vacina do Butantan tem o potencial de reduzir com o percentual maior doenças graves e, consequentemente, reduzir mortes. "Não há justificativa nenhuma para que não se use uma vacina que esta disponível, que pode ser produzida no país, que temos capacidade de armazenar e distribuir e que tem uma ótima relação de risco benefício para a sociedade", disse.
Natália afirmou, ainda, que não é preciso dizer "que essa é a melhor vacina do mundo". "A gente tem que dizer que essa é a nossa vacina, uma vacina possível, uma boa vacina, e uma vacina que certamente vai iniciar o processo de nós sairmos da pandemia. A vacina não vai ser o fim desse processo, não vai pôr fim à pandemia e muito menos fazer isso instantemente. Vamos precisar continuar com medidas de prevenção juntamente com a vacina por um bom tempo. É uma vacina que vai ser o começo do fim", ressaltou.