Nesta segunda-feira (11) o Ministério da Saúde alertou sobre uma nova mutação no vírus que causa a covid-19. O primeiro aviso sobre a variante partiu do governo japonês no último sábado (09/01). A cepa foi identificada em quatro viajantes brasileiros que chegaram a Tóquio.
A infecção dos viajantes, que haviam saído do Amazonas, foi detectada no aeroporto de Haneda, em Tóquio. Segundo as autoridades japonesas, a nova variante possui 12 mutações. O Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do Japão (NIID, na sigla em inglês), analisou as amostras e confirmou que a nova cepa é diferente das duas já notificadas no Reino Unido e na África do Sul.
Até o momento, não há indício que a nova variação é mais transmissível e infecciosa que as já notificadas. O Ministério da Saúde informou que emitiu alerta para toda a rede do Cievs (Centro de Informações Estratégicas e Resposta de Vigilância em Saúde) do país. Além disso, o governo brasileiro pediu às autoridades japonesas as informações referentes à nacionalidade dos viajantes e os locais de deslocamento no Brasil, para que seja possível rastrear potenciais contatos.
Mutação
A médica infectologista Eliana Bicudo, do Centro de Infusão, Infectologia e Vacinas (CLIDIP), explica que o vírus encontrado no Japão é o Sars-CoV-2. "É o mesmo vírus que causa a covid-19, só que ele sofreu uma mutação. Até o momento, essa não é a mesma mutação identificada no vírus da Inglaterra e da África do Sul, que já se mostrou ter uma capacidade de multiplicação e disseminação muito alta”, explica.
A infectologista informa que o vírus chegou ao Japão e que o país notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não realizou o teste que aponta se mutação é ou não semelhante na capacidade de multiplicação e disseminação entre as pessoas. “Sabemos que existe uma mutação semelhante a essa em Manaus, e que isso então justificaria o aumento dos números de casos. Existe uma mutação em Manaus, mas não é a mesma que chegou ao Japão. Ao menos, até o momento não há provas de que a cepa seja a mesma”, afirma.
Eliana Bicudo diz que é preocupante o fato de que não havia informação sobre a presença desta mutação no Brasil. “Agora é necessário identificar e buscar este vírus e saber onde ele está. Investigar a afinidade do vírus ao nosso receptor nasal também é importante. Pois se ele tiver uma afinidade maior que os outros, vai ocorrer uma elevação nos números de casos. A preocupação também é que existe o risco de reinfecção em alguns pacientes. Então é indispensável ver se existe esse risco nessa mutação, pois na Inglaterra e na África foi identificado que pacientes que já haviam pegado o vírus, pegaram novamente. É necessário achar essas respostas para que não haja uma reinfecção em todos da população”, comenta. Apesar disso, a médica afirma que até o momento a mutação inglesa e africana não comprometem a ação da vacina.
Reinfecção
Na última sexta-feira (08) estudo realizado pelo Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (IDOR) e pelo Hospital São Rafael, em Salvador (BA), detectou um caso de reinfecção no Brasil por mutação equivalente à encontrada na África do Sul. Segundo a pesquisa, este é o primeiro caso de reinfecção por essa variante no Brasil.
A paciente é uma mulher de 45 anos, sem registro de comorbidades e moradora da capital baiana. Ela se infectou pela primeira vez no dia 20 de maio de 2020 e teve a reinfecção em 26 de outubro, ocasião em que teve sintomas mais severos. A mutação encontrada possui variantes associadas ao aumento da infecciosidade e preocupam por poderem dificultar a ação de anticorpos do coronavírus.
Contudo, a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Águas Claras, explica que quadro mais grave em relação ao paciente de Salvador não está necessariamente associado ao fato de ser de uma nova variante da doença. “A reinfecção nem sempre vem acompanhada de um quadro clínico mais grave, isso não é uma condição inerente. O que acontece é que geralmente os sintomas são diferentes do primeiro quadro de infecção, mas não necessariamente mais graves”, pontua.
Germoglio destaca que a maior preocupação ocorre se a variante do Brasil tiver um índice maior de infectividade. “O vírus ter um poder de contaminação maior, ou seja, infectar com maior facilidade, é algo pelo qual devemos ter cautela, mas isso não significa que devemos adotar métodos diferentes de comportamento, diagnóstico ou de vacinação”.
Falta de controle
A infectologista Joana D’arc Gonçalves explica que um dos motivos que facilitam as mutações do vírus é a falta de controle da pandemia. “Diferentemente de alguns países da Europa, não tivemos um pico das contaminações, chegamos a um platô e ficamos nele por muitos meses. Com isso, a probabilidade de exposição à doença e de mutação do vírus é enorme. A cada pessoa que o vírus infecta, temos mais possibilidades de mutação”, alerta.
“Com o número de exposições que temos hoje se tivéssemos mecanismos de rastreamento e meios de diagnósticos molecular mais eficazes para fazer a genotipagem e analisar a linhagem viral com certeza já teríamos encontrado várias variantes”, continua a especialista.
“Contudo, até agora não tivemos repercussão em relação às vacinas que estão em desenvolvimento, mas no futuro, se não tivermos o controle e a compra imediata dos imunizantes e seguirmos com a atual exposição exacerbada pode ser que tenhamos riscos de falha vacinal devido às transformações do vírus", observa Gonçalves
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza