PANDEMIA

Yanomamis denunciam morte de nove crianças indígenas com suspeita de covid-19

Ministério da Saúde diz que está investigando, junto ao Distrito Sanitário Especial Indígena, a veracidade das informações. Distrito enviou equipe ao local para averiguar situação

Sarah Teófilo
postado em 28/01/2021 16:20 / atualizado em 28/01/2021 18:12
 (crédito: Thiago Gomes/Agência Pará)
(crédito: Thiago Gomes/Agência Pará)

O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna (Condisi-YY) enviou um ofício ao Ministério da Saúde na última terça-feira (26/1) denunciando a morte de nove crianças indígenas com suspeita de covid-19. As crianças apresentavam sintomas como febre, tosse e dificuldade para respirar em duas terras indígenas Yanomami, Waputha e Kataroa, em Roraima.

Presidente do Conselho, Júnior Hekurari Yanomami disse ao Correio que as vítimas possuíam entre 1 e 5 anos e morreram no mês de janeiro, sendo o primeiro registro em Kataroa, no dia 2. Ele afirmou, também, que foi informado no dia 26, via rádio, por um agente de saúde da aldeia Waputha que quatro crianças haviam morrido com sintomas de covid-19 neste mês, sendo a última morte no dia 25. No mesmo dia, foi informado por um professor de Kataroa de cinco mortes de crianças na região também em janeiro.

Júnior Hekurari explica que ambas as aldeias estão em regiões isoladas. Os atendimentos e insumos chegam apenas por helicópteros — aviões de pequeno porte não conseguem ir à região. Entretanto, Waputha tem pontos de garimpo. Além disso, no fim do ano, indígenas foram ao polo de Surucucu, onde podem ter sido contaminados.

De acordo com ele, agentes de Saúde informaram o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami após a primeira morte, mas não houve ação. “Essa é a minha revolta”, afirmou. O coordenador do Disei, Rômulo Pinheiro, entretanto, negou. “Fiquei sabendo na segunda-feira, mesmo dia em que ele. Não foi repassada (a informação) com antecedência”, afirmou.

Segundo Pinheiro, um helicóptero está a caminho das aldeias na próxima sexta-feira (29) com equipe para averiguar a situação. Ele ainda ressalta que não é possível afirmar que as mortes foram por covid-19.

“Tem várias informações que estão mal verificadas. Uma quantidade de óbito dessa, e eles não informaram? Tem um polo base em Surucucu, eles nunca tomaram conhecimento. Não tivemos nenhum registro de covid em criança indígena Yanomami. Se tiverem os óbitos, vamos verificar a causa”, disse, pontuando que a situação pode ser um desencontro de informações, mas que será possível verificar apenas quando for ao local.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que está verificando junto ao Dsei a veracidade das informações. O órgão ressaltou que, até o momento, os óbitos não foram confirmados para covid-19. A pasta afirmou que “todos os óbitos em área indígena com suspeita de covid-19 são investigados”.

Segundo o ministério, “os dados são lançados no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde (SASI/SUS) e passam por processos criteriosos de qualificação dos Distritos e da SESAI, garantindo a consistência da informação sobre a infecção por covid-19 em povos indígenas”.

“Já os indígenas que residem nas cidades são atendidos pelas Secretarias Municipais de Saúde, desta forma os números referenciados entram nos cálculos gerais da população brasileira do Sistema Único de Saúde (SUS)”, informou.

Yanomamis

Waputha tem 812 indígenas e Kataroa tem 416, segundo JúniorHekurari. Segundo boletim da Sesai, até o momento foram registrados 541 óbitos de indígenas por covid-19 e 41,2 mil casos confirmados. Entre os Yanomamis, foram 10 óbitos e 1.256 casos confirmados. Dados da Apib, entretanto, apontam para 941 indígenas mortos pelo vírus e 47,1 mil casos confirmados. Entre Yanomamis, Apib confirma nove óbitos, um a menos que o registrado pela Sesai.

A terra Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil. Ela fica nos estados de Roraima e Amazonas e tem uma uma população de cerca de 27 mil indígenas.

Sem atendimento

Presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami afirmou que as aldeias com relatos de óbitos entre crianças por covid-19 estão sem nenhum atendimento médico há dois meses. Coordenador do Disei, Rômulo Pinheiro confirma a falta de atendimento, mas diz que a situação está assim há, no máximo, 40 dias.

De acordo com ele, em três ou quatro aldeias (de 366) Yanomamis é possível chegar apenas de helicóptero, não sendo possível com avião de pequeno porte. O contrato com a empresa que faz essa logística com os helicópteros venceu no fim do ano, e foi renovado apenas agora, por isso as aldeias ficaram sem visita médica. Enquanto isso, os indígenas contavam apenas com agentes de saúde da comunidade.

Outra opção, segundo Pinheiro, é "interconsulta": quando um agente passa para o médico, via rádio, os sintomas do pacientes. Segundo ele, entretanto, não houve registro deste tipo de atendimento neste mês.

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