Em razão do posicionamento do governo de São Paulo de querer utilizar todas as doses da CoronaVac, vacina contra covid-19, que estão no estado num primeiro momento, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta quarta-feira (27/1) que não há problema algum em aplicar a segunda dose em um prazo que extrapole os 28 dias previstos em bula, apontando que poderia chegar a 43 dias o intervalo entre uma dose e outra. Entretanto, uma nota divulgada anteriormente pelo próprio Butantan contradiz a informação.
No texto, a instituição diz que o estudo realizado pelo Butantan para testar a eficácia da CoronaVac, produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, apontou que “a melhor resposta imune acontece no maior intervalo de tempo entre a aplicação das duas doses — entre 21 e 28 dias”.
“Dos cerca de 13 mil voluntários que participaram do estudo no Brasil, 1.400 receberam suas doses com um intervalo de três semanas. A resposta imune desse grupo foi cerca de 20% melhor do que a observada nos demais participantes da pesquisa”, informou. O instituto ainda cita fala de Covas, na qual ele diz que o intervalo estudado foi de 0 a 28 dias, “e que foi comprovado que a vacina é segura e eficaz igualmente em todos os cenários”.
Ainda conforme texto, o Butantan esclareceu que no estudo, “a maioria das vacinas foi aplicada no intervalo de 0 a 14 dias devido à situação emergencial da população envolvida”. Também em nota divulgada na quinta-feira da semana passada (21), o instituto aponta que não seria possível saber a resposta imune dos pacientes se o intervalo entre uma dose e outro for prolongado.
A intenção do governo de São Paulo é adiar a aplicação da segunda dose, para poder utilizá-la agora, vacinando mais pessoas. Nessa terça (26), em entrevista coletiva ao lado do governador João Doria (PSDB), Covas disse que a primeira recomendação é de um intervalo de até 28 dias, mas que existe uma segunda recomendação que prevê que o prazo pode ser estendido por até 15 dias, sem problema algum. “No estudo aconteceram alguns casos que tiveram essa vacinação e não houve nenhum problema do ponto de vista da resposta imunológica”, ressaltou.
Segundo ele, o que se discute no Brasil é a necessidade de reservar 50% de doses nesse momento, quando há uma alta demanda pelo imunizante. “Isso, inclusive, pode não ser eticamente justificável. Se temos a vacina na prateleira, nós temos do outro lado pessoas morrendo, precisamos usar essas vacinas. Não tem justificativa ética guardar essas vacinas”, disse, pontuando que é melhor usar as doses em sua totalidade e depois de um prazo de 43 dias providenciar a outra dose.
O coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, o médico Paulo Menezes, também afirmou nesta quarta que o grupo é favorável a dar as segundas doses em um prazo maior que isso.
“Do ponto de vista científico-biológico, é possível pensar que a segunda dose dada numa data posterior aos 28 dias seja até mais eficaz do que aos 28 dias. A principal razão de que o estudo utilizou 14 dias foi para que os resultados pudessem sair mais rapidamente e nós pudéssemos ter a vacina disponível para a população o mais rápido possível. O centro de contingência, nesse momento, é favorável à possibilidade de ter uma extensão do intervalo de tempo entre a primeira e a segunda doses”, afirmou.
Bula
A orientação na bula da vacina, com base nos estudos realizados, é que a segunda dose seja aplicada em um intervalo de 14 a 28 dias, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orienta para que seja sempre seguido o que está previsto no documento.
Na última sexta-feira (22), o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, ressaltou que a orientação da Anvisa é que se siga o que está na bula, quando se fala no intervalo entre as duas doses. Não seguir isso, segundo ele, poderia trazer risco para a eficácia da vacina.
“O risco de não seguir o recomendado em bula pode ser tanto em relação à eficácia — ou seja, se não tiver o intervalo respeitado, se não tiver uma segunda dose tomada, não atingir, não conseguir atingir os anticorpos mínimos para fazer a neutralização —, quanto ao risco de segurança também, se for, de repente, uma superexposição, ou alguma questão assim. Então, é muito importante essa recomendação que estava no voto para que se assegure uma vacinação adequada”, pontuou.
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