Vacinação contra covid-19

Governo federal não confirmou interesse em lote de 54 milhões de doses, diz Butantan

Instituto diz que se o Ministério da Saúde não se manifestar, irá exportar as doses para países vizinhos que já manifestaram interesse. Essas são vacinas adicionais, além das 46 milhões já adquiridas pela pasta

Sarah Teófilo
Maria Eduarda Cardim
postado em 27/01/2021 15:05 / atualizado em 27/01/2021 15:12
 (crédito: NELSON ALMEIDA)
(crédito: NELSON ALMEIDA)

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, cobrou novamente nesta quarta-feira (27/1) uma resposta do governo federal em relação a 54 milhões de doses adicionais da CoronaVac que foram oferecidas pelo instituto paulista, que no Brasil é o responsável pela produção do imunizante da farmacêutica Sinovac. Ele alerta que precisa de um retorno do governo para que se posicione em relação a outro países da América Latina que estão em busca de vacinas junto ao Butantan.

“Eu oficiei o Ministério [da Saúde] na semana passada, aguardo até o final dessa semana uma resposta porque na semana que vem eu vou fechar os contratos com os países, começando pela Argentina. Então, vai ser importante que haja essa manifestação, para que lá na frente não possa aí alegar que não houve de fato essa oferta e a oferta está sendo feita, via contrato, via ofício, e de público, que vocês [jornalistas] estão aqui como testemunhas".

Covas frisou que o contrato com o Ministério da Saúde é de 46 milhões de doses, com a opção de fornecer 54 milhões de doses adicionais, mas é preciso assinar um contrato adicional — por isso, aguarda a manifestação da pasta. “Não tivemos nenhum aceno nesse sentido. Isso me preocupa um pouco, porque está na hora de decidir. E se demorarmos, não vamos conseguir ampliar esse número”, afirmou.

O diretor frisou que o Butantan tem compromisso com outros países, com acordos de entregas. “Se o Brasil declinar dessas 54 milhões de doses, vamos priorizar os demais países com os quais nós temos acordo. Nessa perspectiva, espero que haja definição por parte do Ministério da Saúde, mesmo porque tudo indica que eles estão ávidos por vacina e nós estamos preparados para fornecer esse adicional de 54 milhões de doses”, pontuou.

Covas ressaltou que “o tempo nesse momento é fundamental". “Em todos os países que o Butantan tem previsão de fornecimento de vacina estão cobrando os cronogramas. Precisamos dar resposta a esses países e precisamos de resposta do Ministério da Saúde. Se houver resposta positiva do ministério, vamos fazer um planejamento para ter 54 milhões de doses adicionais do ministério, mais 40 milhões dos países vizinhos. Não havendo manifestação do ministério, nós vamos dirigir nossa produção para atender os países, inclusive com possibilidade de aumentar a oferta de vacina, porque a demanda é grande”, afirmou.

Durante a coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ressaltou que o país precisa de mais vacinas e aproveitou para alfinetar o governo do presidente Jair Bolsonaro. "Inacreditável que diante de uma pandemia um país com 215 milhões de habitantes que precisa de vacina para imunizar os brasileiros, salvar vidas, tenhamos o distanciamento entre o que o Ministério da Saúde deveria agir, solicitando mais vacinas que lhe são oferecidas, e esta resposta não é dada. Não será com 2 milhões de vacinas da Astrazeneca que vamos salvar os brasileiros e imunizar os que vivem em nosso país. Precisamos de mais vacinas”, afirmou.

Ministério da Saúde

No início do mês, quando o Ministério da Saúde anunciou o fechamento do contrato com o Butantan para o fornecimento de 46 milhões de doses da CoronaVac, o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, afirmou que não haveria orçamento para contratar as 100 milhões de doses (46 milhões + 54 milhões) da vacina de uma vez só. 

“Não temos orçamento neste momento para fazer a contratação integral das 100 milhões de doses. [...] Em um primeiro momento, é uma contratação de 46 milhões de doses com a opção de 30 dias ao término dessa entrega nós fazermos um novo contrato para adquirir as outras 54 milhões", explicou em coletiva no dia 7 de janeiro.

A afirmação contradisse o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que anunciou que havia assinado naquele dia um contrato com o Butantan para oferta de 100 milhões de doses: 46 milhões até abril e outras 54 milhões no decorrer do ano.

Mesmo sem manifestar o interesse, o Ministério da Saúde conta com as 54 milhões de doses em apresentações feitas pelos secretários da pasta. O Correio questionou por qual motivo o Ministério da Saúde ainda não manifestou o interesse em adquirir as doses adicionais, mas ainda não obteve retorno.

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