A situação do sistema de saúde de Manaus se deteriorou ainda mais nos últimos dias e atinge pacientes internados com covid-19 e, também, com outras doenças. De acordo com informações obtidas pela reportagem do Correio junto a fontes ligadas ao serviço de saúde, um novo plano de ação foi adotado na cidade de 2 milhões de habitantes.
Segundo as novas regras, pacientes que cheguem às unidades de saúde em estado terminal ou com situação considerada irreversível não serão mais enviados à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A regra vale tanto para pessoas acometidas por covid-19 quanto para outras doenças, como câncer e problemas cardíacos. No interior do estado do Amazonas, a situação se repete, mas os pacientes sequer são enviados à capital.
No atendimento na emergência, os médicos avaliam cada caso e, se entendem que o paciente tem poucas chances de sobreviver, uma ligação por vídeo é realizada para a família para o paciente se despedir dos entes queridos. Após isso, o morador é alocado em um box de emergência, sem os equipamentos necessários para que sua vida seja mantida.
Informações obtidas com exclusividade pelo Correio apontam que 70% das mortes na capital são de outras doenças, aceleradas em razão da ocupação de leitos e lotação dos hospitais durante a pandemia do novo coronavírus. Mesmo com o crescimento exponencial de casos em Manaus, o serviço de saúde público da cidade não acompanhou a demanda.
Apenas dois grandes hospitais atendem os pacientes da capital e cidades do interior. A avaliação é de que o sistema de saúde seria sobrecarregado cedo ou tarde, e o avanço da covid-19 acelerou o agravamento da situação. O surgimento de uma nova cepa de coronavírus agravou ainda mais o cenário.
Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz confirmou pelo menos um caso de reinfecção de uma paciente de 29 anos. A mulher tinha imunidade para a covid quando foi infectada com a nova variante — algo que acendeu o alerta na comunidade médica e científica.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde e o governo do Amazonas. A Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas negou que ocorra "seleção" para ocupação de leitos de UTI. A entidade afirma que "os critérios utilizados nas unidades são sempre buscando salvar vidas, baseado em decisões técnicas e éticas das equipes médicas". Sobre as vídeo chamadas, a secretaria afirma que "o hospital 28 de Agosto utiliza desse meio para humanizar o atendimento, com o objetivo de garantir o contato dos pacientes com as famílias, considerando que o paciente de Covid-19 não pode ter acompanhante", e destaca que "o trabalho é realizado por profissionais de psicologia, que prestam auxílio tanto para os pacientes quanto para os familiares.
Ainda de acordo com a nota da Secretaria de Saúde do Amazonas, "na eventualidade de um paciente que realizou uma vídeo chamada ter evoluído em seguida para o óbito, infelizmente, isso se deve à dinâmica natural da doença, considerando que muitos pacientes relativamente estáveis podem evoluir para quadros graves em um curto período de tempo". O Ministério da Saúde ainda não se manifestou.
Ocupação
De acordo com boletim divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), responsável por monitorar a pandemia no estado, na quarta-feira (20), foram registradas 148 mortes por covid-19 no estado. Destas, 56 ocorreram na própria quarta e 93 foram casos "encerrados por critérios clínicos, de imagem, clínico-epidemiológico ou laboratorial, elevando para 6.598 o total de mortes".
No mesmo período, de 25 horas, foram realizados 90 sepultamentos em Manaus. Trinta mil pessoas que receberam diagnóstico positivo para a doença estão sendo acompanhadas pelo serviço de saúde, sendo que 1.812 estão internadas, 1.187, em leitos (516 na rede privada e 671 na rede pública), 592, em UTI (271 na rede privada e 321 na rede pública) e 33, em sala vermelha — o que, de acordo com o governo do Amazonas, é uma "estrutura voltada à assistência temporária para estabilização de pacientes críticos/graves para posterior encaminhamento a outros pontos da rede de atenção à saúde".
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