PANDEMIA

Covid-19: incertezas sobre a vacinação frustram a população

"Tenho um filho especial em casa e tenho contato com as pessoas o tempo inteiro. A vacina seria um alívio para a gente, principalmente se eu soubesse que ele já está vacinado", diz Iranubia Costa, 42 anos, vendedora na Rodoviária do Plano Piloto

Carinne Souza*
Bruna Pauxis*
postado em 20/01/2021 18:36 / atualizado em 20/01/2021 18:36
 (crédito: Carinne Souza)
(crédito: Carinne Souza)

A aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último domingo (17/1) para o uso emergencial das vacinas — Coronavac e Astrazeneca/Oxford — contra a covid-19 trouxe um fio de esperança para os brasileiros, mas as notícias dos últimos dias têm trazido instabilidade para o cenário dos imunizantes no Brasil. As 6 milhões de doses distribuídas pelo país esta semana não representam nem um quarto da população do país.

A médica Bianca Faria e Rocha, de 40 anos, trabalha no plantão da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) da covid-19 no Hospital das Forças Armadas (HFA). Ela conta que a classe médica está desesperançosa. “Estamos muito frustrados e, ao mesmo tempo, cansados, esgotados. Já é quase um ano de pandemia, trabalhando incansavelmente”, afirma. "Às vezes, temos a impressão de que estamos enxugando gelo. Tratamos pacientes e logo depois chegam mais. Perdemos 10 pacientes, ganhamos 1, 2 ou 3. É muito frustrante para um médico lidar com morte, tristeza e luto todos os dias”, completa.

Para Bianca, a vacina seria uma solução definitiva para o país, mas, segundo ela, o assunto não tem sido tratado como deveria. “É muito frustrante. Pelo menos a impressão que temos é que não está acontecendo uma agilidade, uma decisão de priorizar isso como algo para a sobrevivência do povo brasileiro”, relata. “Essa é a nossa frustração. Gostaríamos muito que fôssemos ouvidos nesse momento. Já faltam tantas coisas para nossa condição de trabalho, então que pelo menos não falte a vacina para os brasileiros”, finaliza.

O mesmo também acontece com a vendedora Iranubia Costa, 42 anos, que se diz preocupada com seu filho portador de necessidades especiais e sem previsão para ser vacinado. “Nosso coração (dos camelôs da Rodoviária do Plano Piloto) acalmou nos últimos meses e precisamos trabalhar, mas trabalho com medo. Tenho um filho especial em casa e tenho contato com as pessoas o tempo inteiro. A vacina seria um alívio para a gente, principalmente se eu soubesse que ele já está vacinado, trabalharia mais tranquila”, relata Costa que vende roupas na Rodoviária do Plano Piloto.

Ela também se diz preocupada com a situação política em que os governantes colocaram a chance de obtenção de insumos para a vacina. “Eles (governos do Brasil, Índia e China) precisam entender que estão lidando com vidas, problemas políticos têm que ficar de lado agora. A impressão que eu tenho é que eles querem que algumas pessoas morram. Isso é horrível”, conta. Costa, ainda sim, crê na chegada da vacina para toda a população, inclusive para ela, que não integra o grupo prioritário para a vacinação.

Descaso

Já a cuidadora de idosos Mary Marques, de 55 anos, se diz indignada com o descaso do governo com a população. “Estamos vivendo uma situação horrível, falta de oxigênio em Manaus, gente morrendo cada vez mais, e temos 6 milhões de doses para o país inteiro? Quantas pessoas temos no Brasil? Deveria ser o dobro da população”, questiona. 

“Quero ser vacinada e toda minha família também. A situação é de atraso, mas todos nós temos esperança de ser vacinados. O Congresso e os nossos governantes têm que fazer alguma coisa para trazer estabilidade para gente. Vivemos uma pandemia. Eu não posso trabalhar com meus idosos, pois posso contaminá-los e não tenho nem ideia de quando vou poder ser vacinada. Acho que o Bolsonaro precisa ser um pouco mais humilde nesse momento e pensar na população. Quem produz a vacina são os verdadeiros heróis nesse momento, eles merecem respeito”, finaliza Marques.

*Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro

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