Tabatinga (AM) — Isabel Cezário, 68 anos, é a primeira índia aldeada a receber a vacina contra a covid-19 CoronaVac no Alto Rio Solimões, um dos maiores distritos sanitários especiais indígenas do Brasil. Da etnia ticuna, ela faz parte do grupo de mil membros da aldeia Umariaçu, localizada no município de Tabatinga (AM), que são o público alvo desta primeira remessa de imunização na região. A meta é vacinar 35 mil índios no Alto Rio Solimões em 10 dias.
“Sou muito agradecida pela vacina que tanto tempo esperei para tomar. A vacinação é muito importante e todas pessoas, etnias precisam dela. A minha parte, eu já estou fazendo”, comemorou Isabel, que teve as palavras traduzidas por um intérprete.
Na fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil, a aldeia Umariaçu I foi escolhida pelo Ministério da Saúde para iniciar a campanha de vacinação contra a covid-19 entre todas as comunidades aldeadas assistidas pelo Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Isso porque, além de estar localizada no perímetro da tripla divisão entre países, fica próxima de locais mais urbanizados e menos remotos. A estratégia é começar pelas aldeias mais próximas e mais acessíveis, para em seguida ir àquelas mais distantes e de difícil acesso.
Pânico e mentiras
Além dos índios da comunidade, são alvo dessa primeira fase de vacinação os profissionais da saúde, servidores do Ministério da Saúde e das Forças Armadas que atuam na Sesai. “Sou o primeiro profissional da saúde da minha etnia a tomar a vacina e estou dando exemplo à minha população. Porque meu povo está em pânico, acreditando em mentiras que falam por aí. Por isso, eu vim mostrar que não é assim e que gostaria que a população tomasse para se prevenir dessa doença que é fatal”, afirma o técnico de enfermagem e indígena da etnia ticuna Tarcis Marques, 34.
O coordenador do DSEI Alto Rio Solimões, Weydson Pereira, reconhece que as fake news em relação à vacinação atrapalham a adesão, mas acredita que ações como a que ocorreu neste primeiro dia de imunização contribuem para reverter o quadro de desconfiança e desinformação.
“Temos uma atuação ativa nas comunidades e uma adesão forte quanto às ações de prevenção à covid. Mesmo com esse temor, os exemplos nesse primeiro dia de campanha vão ajudar bastante. É o próprio indígena falando para sua comunidade e ajudando. Não há medicamento que vai curar. Não tem outro meio, e a vacina foi aprovada por uma agência reguladora. É a ciência chegando e, dia após dia, a adesão irá alcançar os patamares esperados”, acredita.
Apoio das Forças
No Brasil, serão vacinados, neste primeiro momento, 14 mil profissionais da saúde que atuam nos 34 distritos sanitários especiais indígenas (DSEI’s). Esses trabalhadores atendem a mais de 755 mil índios pertencente às seis mil aldeias em todo o país. A expectativa é imunizar 430 mil membros destas comunidades, que são aqueles acima de 18 anos e, portanto, sem contraindicação à vacina.
Para viabilizar a logística em relação às vacinas, as Forças Armadas Brasileira apoiam o Ministério da Saúde. Os militares auxiliam no transporte das doses para os territórios mais isolados. Desde segunda-feira (18/1), o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ajudam na distribuição das vacinas para um terço do país.
Os voos partiram de São Paulo, onde fica o depósito central da Saúde, para transportar aproximadamente 44 toneladas de carga para o Distrito Federal e para as capitais do Acre, Amapá, Amazonas, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Os demais estados terão os imunizantes transportados por meio de parcerias com empresas privadas.
*Enviada especial. A repórter viajou a convite das Forças Armadas.
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