O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se exaltou em entrevista coletiva, nesta segunda-feira (18/1), ao falar que nunca orientou o uso de medicamentos contra a covid-19. Pazuello afirmou que nunca autorizou o ministério a produzir protocolos indicando medicamentos contra a doença. Entretanto, assim que assumiu a pasta como ministro interino, em maio do ano passado, o ministério elaborou um protocolo que indica uso de cloroquina contra a covid, procedimento que não tem comprovação científica.
“A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem este ou aquele remédio. (...) Eu nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o Ministério da Saúde a fazer protocolos indicando medicamentos”, respondeu a uma jornalista. Antes de ser questionado, o general já havia citado a necessidade da adoção do atendimento precoce contra a covid-19. “Os senhores sabem o quanto nós temos divulgado desde junho o atendimento precoce. Não confundam atendimento precoce com definição de que remédio tomar. Por favor, compreendam isso e não coloquem mais errado”, pediu aos jornalistas.
Apesar de afirmar que a pasta apenas indica o atendimento precoce, sendo a prescrição de remédios de responsabilidade dos médicos, o Ministério da Saúde publicou — em 20 de maio, quando Pazuello ocupava o cargo de ministro interinamente — orientações para tratamento medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico de covid-19, que incluem a cloroquina, hidroxicloroquina e a azitromicina. Segundo o próprio documento da pasta, o protocolo foi publicado “com objetivo de ampliar o acesso dos pacientes a tratamento medicamentoso no âmbito do SUS”.
A publicação motivou a saída de dois ministros da Saúde do cargo: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ambos não concordavam com o protocolo cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro, que defende os medicamentos.
Contradição
Apesar de dizer, nesta segunda-feira (18), que orienta apenas o atendimento precoce e não o tratamento, o ministro se contradisse quando afirmou ainda na coletiva que “vários remédios deram algum tipo de resultado''. “É preciso utilizar a técnica do atendimento precoce. Temos que difundir isso todos os dias em todos os meios de comunicação para que a gente possa permitir que as pessoas tenham chance de não agravar. Vários remédios deram algum tipo de resultado e os médicos sabem que o deve ser prescrito para os pacientes dele”, disse.
O ministro também já defendeu, em julho do ano passado, por exemplo, em Porto Alegre, o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e ivermectina, ao falar sobre o tratamento precoce da covid-19.
Questionado sobre cloroquina, ivermectina e azitromicina, ele disse que o ministério havia feito uma orientação quanto à medicação. "Não é um protocolo, nem uma diretriz. Apresenta quais são os medicamentos que estão sendo utilizados pelo SUS, quais estão dando resultado, qual a melhor dosagem e momento de uso. Temos aí a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina já listadas nessa orientação”, afirmou na ocasião.
OMS nega eficácia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que não existe fármaco com eficácia comprovada contra a covid-19. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS, afirma que "não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina) sejam eficazes e seguros no tratamento da covid-19". A organização ressalta, apesar disso, que todo país é soberano para decidir protocolos clínicos de uso de remédios.
Mesmo assim, na última semana, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo que visa incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19. Chamado de “TrateCOV”, o aplicativo ajuda a diagnosticar a doença, após o médico cadastrar sintomas do paciente e comorbidades, como diabetes. Em seguida, a plataforma sugere a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, o conhecido kit-covid.
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