SAÚDE

Com atraso na Índia, vacinação deve começar com CoronaVac

O país não garante dois milhões de doses do imunizante Oxford-AstraZeneca e envio de cargueiro, que iria ontem, é adiado. Como alternativa, Ministério da Saúde requisita os seis milhões de doses do fármaco desenvolvido pela chinesa Sinovac, que será replicado pelo Butantan

Sarah Teófilo
Bruna Lima
Maria Eduarda Cardim
postado em 16/01/2021 06:00
 (crédito: AFP / NELSON ALMEIDA)
(crédito: AFP / NELSON ALMEIDA)

Mesmo com o selo de segurança pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e previsão de liberação do uso emergencial amanhã, a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com a AstraZeneca, e incorporada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), deve perder espaço nos primeiros dias de imunização contra a covid-19. Sem nenhuma dose pronta em território brasileiro e com atrasos de “dois a três dias” para a importação da Índia, como admitiu o presidente Jair Bolsonaro, a alternativa é começar a campanha com os seis milhões de doses da CoronaVac, que estão de posse do Instituto Butantan e foram todas requisitadas pelo governo federal.

Bolsonaro atribuiu o atraso na viagem à Índia ao início da imunização contra a covid-19 naquele país e por pressões políticas. “Foi tudo acertado para disponibilizar 2 milhões de doses. Só que, hoje, neste exato momento, está começando a vacinação na Índia. É um país com 1,3 bilhão de habitantes. Então, resolveu-se atrasar um ou dois dias, até que o povo comece a ser vacinado lá. Lá também tem as pressões políticas de um lado e de outro. No meu entender, daqui a dois, três dias, no máximo, nosso avião vai partir e vai trazer esses 2 milhões de vacinas para cá”, disse Bolsonaro, em entrevista ao Brasil Urgente, da Band TV.

Com a falta de uma data para contar com os imunizantes de Oxford/AstraZeneca, reproduzidas pelo Institito Serum, o governo federal poderá ter que iniciar a aplicação em território nacional somente com a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e reproduzida no Brasil pelo Butantan. Por isso, o Ministério da Saúde solicitou, ontem, por ofício, que o instituto entregue, imediatamente, os seis milhões de doses da CoronaVac importadas da China.

O documento, assinado pelo diretor do Departamento de Logística em Saúde, Roberto Ferreira Dias, ressalta a necessidade de obter os imunizantes para organizar a logística de distribuição aos estados. A pasta anunciou que pretende iniciar o processo de vacinação na próxima quarta-feira, dia 20, às 10h.

“Ressaltamos a urgência na imediata entrega do quantitativo contratado e acima do mencionado, tendo em vista que este ministério precisa fazer o devido loteamento para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da Federação de maneira simultânea e equitativa, conforme cronograma previsto no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a covid-19, tão logo seja concedida a autorização pela agência reguladora, cuja decisão está prevista para domingo”, diz documento direcionado ao diretor do Butantan, Dimas Covas.

No entanto, a estratégia do governo de São Paulo, divulgada ontem antes do recebimento do ofício do governo federal, era entregar ao ministério 4,5 milhões de doses prontas. O restante das vacinas ficaria com o governo de São Paulo, sob a alegação de que este seria o percentual definido para o estado. Por isso, o Butantan respondeu ao ofício questionando o real quantitativo que ficaria no estado.

“Para todas as vacinas destinadas pelo instituto ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), é praxe que uma parte das doses permaneça em São Paulo, estado mais populoso do Brasil. Isso acontece, por exemplo, com a vacina contra o vírus influenza, causador da gripe. Portanto, o instituto aguarda manifestação do ministério também em relação às doses da vacina contra o novo coronavírus”, afirmou o Butantan.

Precipitação

Na última quinta-feira, o jornal indiano Hindustan Times divulgou que o Brasil estava se precipitando ao enviar um avião para buscar vacinas no país, porque a decisão que autoriza a exportação ainda não havia sido tomada. No mesmo dia, mais cedo, a partida do cargueiro da Azul foi adiada pela primeira vez, segundo a companhia aérea, por problemas de logística no preparo da carga. A empresa havia afirmado ao Correio que o avião só sairá do Brasil quando a carga de vacinas estiver 100% pronta.

Na mesma noite, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, telefonou para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, frisando o pedido de importação das vacinas replicadas pelo Instituto Serum. Na conversa, Araújo identificou haver “boa vontade” do governo indiano para autorizar a exportação da carga, mas foi informado de problemas de logística pelo fato de a solicitação acontecer justamente no momento em que a Índia inicia a campanha de vacinação. Jaishankar teria dito que o envio ao Brasil acontecerá nos próximos dias, mas sem garantir datas.

O Ministério da Saúde não informou quando o avião buscará as doses nem quando volta com a carga estimada em 15 toneladas. Anteriormente, a aeronave pousaria no Aeroporto Internacional Tom Jobim (RJ), amanhã, mesmo dia que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decide sobre os pedidos de uso emergencial das vacinas.

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Riscos para os bebês

A dramática situação do Amazonas pela falta de oxigênio hospitalar mobiliza o Brasil e outros países. Desde flexibilizações das medidas sanitárias, campanhas de artistas e ofertas de ajuda internacional –– toda ação para disponibilizar um cilindro a mais que garanta, ainda que por poucas horas, que respiradores não se convertam em câmaras de asfixia. Após relatos de perdas de vidas pelo esgotamento de oxigênio em unidades de saúde de Manaus, os esforços garantiram fôlego de 48 horas a recém-nascidos internados em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, que seriam transferidos para outros estados em busca de sobrevivência. Cada nova disponibilização, no entanto, garante a manutenção de vidas no limite.

O governo do Amazonas solicitou, ontem, ajuda de outros estados para transferir 61 bebês prematuros por risco de falta de oxigênio. Um dia antes, eles haviam anunciado uma operação para transferir 235 pacientes adultos de Manaus para hospitais de Brasília, Goiás, Piauí, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mais tarde, entretanto, o Ministério da Saúde informou ter conseguido cilindros de oxigênio para manter os prematuros por mais 48 horas em leitos de UTIs em Manaus.

No caso de necessidade de transferência, o governo federal anunciou que auxiliará na remoção para hospitais de Curitiba, Vitória, Imperatriz (MA), Salvador e Feira de Santana (BA), Ariquemes (RO) e Macapá (AP).

Acolhimento
O ministério não citou São Paulo, mas, mais cedo, o governador João Doria disse que havia recebido a demanda do Amazonas e que a atenderia. “Nós acolheremos todos os bebês que puderem ser transportados a São Paulo”, garantiu. Irritado, teceu críticas ao presidente Jair Bolsonaro pela situação. “Para quem é pai, mãe, não ter oxigênio para bebê... É uma irresponsabilidade do governo Bolsonaro”.

Parte da equipe da Saúde do governo federal continua em Manaus para auxiliar na logística de distribuição e a ordem do ministro Eduardo Pazuello é que permaneçam até que a situação esteja controlada. A pasta conta com auxílio da Defesa, tanto no transporte de pacientes quanto de insumos. O general ficou na capital do Amazonas até quarta-feira, um dia antes de o sistema entrar em colapso. Na ocasião, lançou um aplicativo que ajuda o médico a diagnosticar a covid-19 e depois orienta que sejam receitados medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, como cloroquina e ivermectina.

A Força Aérea Brasileira (FAB) levou a Manaus mais de 350 cilindros de oxigênio gasoso de 70kg. Mas, para aumentar a oferta, passou a transportar mais 36 reservatórios de oxigênio líquido da White Martins, principal empresa fornecedora do produto ao Amazonas.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a White Martins a fabricar oxigênio hospitalar com teor de pureza em 95%, ao invés dos 99% exigidos em condições normais. (BL, MEC e ST)

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